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Cultura
Quarta - 07 de Julho de 2004 às 18:30
Por: Luiz Carlos Merten

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São Paulo - O Festival de Cinema Europeu traz a São Paulo 16 títulos, quase todos inéditos. Este festival já ocorre em Brasília, com promoção dos Países Membros e da Comissão da União Européia, mas é pela primeira vez sediado na capital paulista, graças a uma iniciativa da Sala Cinemateca, que prossegue, ainda que com dificuldades, seu trabalho de difusão da cultura cinematográfica. Apenas dois dos 16 filmes programados já tiveram lançamento comercial no Brasil - Minha Adorável Lavanderia, do tempo em que o diretor Stephen Frears criticava as misérias da realidade inglesa sob o tacão da Dama de Ferro, e Prefiro o Barulho do Mar, recorte intimista de Mimmo Caloprese para falar de problemas afetivos e sociais na Itália contemporânea.

Há dois filmes checos de 1992 e 97, ambos de Juraj Jakubisko (É Melhor Ser Rico e Saudável do Que Pobre e Doente e Um Relatório Ambíguo sobre o Fim do Mundo) e um espanhol de 1999 (Quando Voltes ao Meu Lado, de Gracia Querejeta). Todos os demais programas são produções mais recentes, dos anos 2000, a começar por Prefiro o Barulho do Mar. São títulos como Berlim Fica na Alemanha, do alemão Hannes Stöhr, de 2001; O Delfim, do português Fernando Lopes, de 2002; O Invisível, dos suecos Joel Bergvall e Simon Sundquist, de 2002; Memórias de Um Morto, do austríaco Marcus Hetschl, de 2003; Minoes, do holandês Vincent Bal, de 2001; Pequenas Misérias, dos belgas Philippe Boon e Laurent Brandenbourger, de 2001; O Quarto dos Oficiais, do francês François Dupeyron, de 2001; O Rei das Correntes, do finlandês Arto Koskinen, de 2002; Silêncio, do polonês Michael Rosa, de 2001; Te Amarei para sempre, da dinamarquesa Susanne Bier, de 2002 - mesma diretora de Corações Livres, em cartaz em São Paulo; e Vagabundo, do húngaro Gyorgy Szomjas, de 2003. São filmes que diferem dos padrões americanos de superprodução ou, mesmo, de produções independentes. Oferecem um amplo e diversificado painel sobre as tendências do cinema europeu na atualidade.

Alguns se destacam de maneira muito especial. Berlim Fica na Alemanha tem algo a ver com o recente Adeus, Lenin, de Wolfgang Becker, que tanto sucesso fez na cidade. Um homem que ficou preso durante 11 anos na Alemanha Oriental é solto após a Queda do Muro de Berlim e projetado, sem dinheiro nem documentos, num mundo novo que o assusta e marginaliza.

Pequenas Misérias mostra Marie Trintignant, a talentosa atriz francesa que foi assassinada pelo namorado em 2003, como a mulher de um oficial de Justiça que tenta introduzir a excitação em sua vida cometendo pequenos crimes. Quando Voltes ao Meu Lado trata das difíceis relações de três irmãs forçadas a reunir-se por causa da morte da mãe. A força do filme está no elenco, com a participação de Julieta Serrano, Jorge Perugorría e da extraordinária Mercedes Sampietro, de Lugares Comuns, atualmente em cartaz.

E há O Quarto dos Oficiais. Talvez seja, de todos os filmes, o que mais reúne elementos para tornar-se atraente aos olhos do público. O diretor Dupeyron tem prestígio, (justificado), o elenco reúne Eric Caravaca, Denis Podalydès e uma dupla que Alain Resnais adora, André Dussolier e Sabine Azéma. Toda essa gente talentosa conta uma história terrível - sobre um tenente jovem e sedutor que tem metade da cara arrancada pela explosão de uma granada, no início da 1.ª Guerra Mundial. Ele passa o restante da guerra confinado num hospital militar, num cômodo à parte, o tal quarto dos oficiais, destinado às pessoas que ficaram desfiguradas nas batalhas. Ninguém tem coragem de olhar-se ao espelho, mas basta olhar no rosto dos outros para perceber a extensão da própria dor. É assim que surgem histórias de revolta, de amizade e solidariedade. O Festival de Cinema Europeu é uma iniciativa inteligente, cuja continuidade, como em Brasília, depende da adesão do público.




Fonte: Estadão.com

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