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Politica Brasil
Segunda - 14 de Junho de 2004 às 08:05
Por: Vitor Gomes Pinto

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Os democratas norte-americanos colocam suas esperanças em um novo JFK. O senador por Massachussets, John Forbes Kerry (o "João"), talvez não se compare a Kennedy mas é o favorito frente a George W. Bush (o "Jorge") nas eleições de 2 de novembro. Para a América Latina (AL) sua vitória é desejável? O sentimento geral é de que não há como ser pior do que Bush, acusado de ter relegado a região a um longínquo último plano, esquecendo suas promessas de apoio logo após o 11 de setembro.

Chegou a fazer acordos comerciais com a América Central, países andinos e Chile, mas no terreno político limitou-se às preocupações com México e Colômbia, além das ameaças a Cuba e Venezuela. A ajuda financeira dos EUA à AL será reduzida no orçamento que começa a ser executado em outubro próximo, dos atuais 757 milhões de dólares para 721 milhões.

Pouco se sabe sobre as posições de Kerry em relação à AL. Suas eventuais declarações são pouco precisas. Tem dito que apóia o "multilateralismo" para promover a democracia em Cuba, quer um acordo migratório "substancial" relativo aos cerca de 9 milhões de imigrantes ilegais que vivem no país e que aumentam à razão de 350 mil ao ano (60% são mexicanos) e prevê uma expansão do comércio com a América Central desde que se respeitem os direitos laborais. Este último ponto é o que causa maiores preocupações no continente, devido às fortes ligações do candidato com os sindicatos de seu país, o que pode levar a um ainda maior protecionismo. A poderosa AFL-CIO, a Confederação Americana do Trabalho com 65 sindicatos e 13 milhões de afiliados, está com Kerry.

Suas atenções estão voltadas muito mais para a comunidade hispânica residente nos EUA do que para os problemas de desenvolvimento da região. Ele busca o voto dos hispânicos e dos negros da Califórnia, Flórida, Nevada, Colorado, Novo México, Geórgia, fazendo questão de traduzir ao espanhol pronunciamentos como o de lançamento da campanha. No site que está na Internet afirma saber que o monumento aos heróis da 2a. Guerra em Washington é dedicado a soldados com sobrenome García, Chávez e Ortiz. Mais do que construir uma proposta de entendimento com a AL, dedica-se a revelar as falhas cometidas por Bush, atacando-o por ter ajudado a retirar Aristide do poder no Haiti e a dar um golpe fracassado contra Chávez na Venezuela.

Especula-se quanto aos representantes dos EUA na região, que substituirão o time de linhas-duras nomeado por Bush (Roger Noriega, Otto Reich, Elliot Abrams são originários dos tempos de apoio aos "contras" na América Central). Nelson Cunningham, que vem da administração Clinton e é assessor de Kerry para a AL na equipe de política internacional liderada por Randy Beers, aparece como principal candidato ao posto de Secretário de Estado para Negócios do Hemisfério Ocidental, junto com Arturo Valenzuela, tido como o maior especialista democrata em assuntos da região. É possível que o cargo de Embaixador Especial para a AL, uma compensação dada a Otto Reich, seja mantido e suba de status agregando responsabilidades adicionais para com a comunidade hispânica. Neste caso, haveria necessidade de alguém que fale espanhol e tenha um bom entendimento com governos latino-americanos, como o governador Bill Richardson do Novo México. Esta é uma hipótese difícil de ser concretizada, devido à baixa prioridade que Washington confere às terras ao sul, mas as relações estão muito deterioradas e a crise econômica e política que se abate sobre a região podem mudar o quadro decisório.

Quanto ao Brasil, parte das esperanças situam-se na figura de Teresa Heinz-Kerry, a esposa milionária. Ela é moçambicana, o português é seu idioma de infância (fala-o em casa, com os filhos) e conheceu o atual marido na Eco-92 no Rio de Janeiro, quando encantou-se ao ouvir Kerry tentando acompanhar hinos religiosos (ambos são católicos) no idioma de Camões. Talvez o gigante americano se acalme numa provável administração democrata, reduzindo o intenso ódio que os falcões republicanos carrearam no mundo contra si.

Mas as mudanças de novo não serão profundas. Kerry e Bush foram contemporâneos na mesma Universidade de Yale onde, com uma diferença de dois anos e a exemplo do Bush-pai, pertenceram à sociedade secreta de estudantes Skulls & Bones (caveiras e ossos) que desde fins do século XIX se proporia a dominar o mundo.

Vitor Gomes Pinto Escritor, analista internacional Autor do livro Guerra nos Andes (Plano Editora) Vitor.gp@persocom.com.br




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