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Economia
Quinta - 10 de Junho de 2004 às 12:43

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O governo brasileiro recebeu, recentemente, do presidente da BM&F, Manuel Félix Cintra Neto, um projeto orçado em US$ 10 bilhões que prevê abertura, exploração, produção e industrialização do Centro-Oeste brasileiro e escoamento comercial por meio do Oceano Pacífico, pelo porto de Ilo-Matarani, no sul do Peru. Levando o nome oficial de "Impacto Econômico e Espacial do Desenvolvimento do Centro-Oeste Brasileiro e Abertura de um Eixo de Comércio Exterior com o Pacífico", o plano requer US$ 10 bilhões de investimento - US$ 1,8 bilhão em infra-estrutura, insumos, máquinas e equipamentos para transformação agrícola. Elevaria de 71,3 milhões para 152 milhões de toneladas a produção de grãos (milho e soja) no Brasil. Estima-se em 25 anos o prazo de estabelecimento, incluindo para agricultura, preservação de meio ambiente, meios de transporte e povoamento, com previsão de término para 2030.

Apelo político - Elaborada por um time que une economistas, sociólogos e homens de negócios, como professores da Universidade de São Paulo e da Fundação Getúlio Vargas, a proposta tem também apelo político. Ao estimular a ocupação do Centro-Oeste, o governo desestimularia a ocupação do Sul do País e criaria uma alternativa para evitar a ocupação da Amazônia. O plano de ocupação do Centro-Oeste brasileiro foi desenvolvido em parceria com pesquisadores brasileiros e de Luiz Felipe de Alencastro, professor do Centro de Estudos do Brasil e do Atlântico Sul, da Universidade de Sourbonne. Ele sustenta a tese de que, se o governo tornar o milho e a soja a base da produção naquela região, promover o estabelecimento da agricultura, preservação de meio ambiente e de meios de transporte e povoamento, irá obter pelo menos US$ 1 bilhão/ano. "O montante é suficiente para patrocinar o projeto Fome Zero na Região Centro-Oeste e erradicar a fome de cerca de 1,5 milhão de famílias que passam fome naquela região," afirma o coordenador do estudo, Pedro Carvalho de Mello, também diretor do MBA Internacional (programa de pós-graduação) da FGV carioca.

E arremata: "Há áreas enormes já desmatadas nas quais poderiam ser cultivados soja e milho." A aplicação do projeto, estima-se, aumentaria em 19,6% o emprego rural e criaria 2, 9 milhões de empregos indiretos e poderia ser "bem-visto como amigável ao meio ambiente". O coordenador do estudo diz que já há um grupo de empresários chineses interessados em financiar o programa, uma vez que este criaria um outro canal de escoamento de produtos, dando mais uma alternativa, a via por meio do Panamá. Estrategicamente, a BM&F está abrindo um escritório em Xangai.

Pacífico - Daria também ao Brasil e à China uma união capaz de fazer frente aos EUA no futuro. Batizado de "Abertura para o Pacífico", o programa conta com a simpatia do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. As linhas de transporte do Centro-Oeste brasileiro percorreriam basicamente os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Acre, chegando ao Peru.

O transporte dos produtos até o Pacífico seria diversificado, podendo ser utilizados rios, rodovias e ferrovias. O povoamento do Centro-Oeste brasileiro seria uma conseqüência do aquecimento do comércio neste local. O projeto é organizado pela FGV, em parceria com a BM&F, Odebrecht, Camargo Corrêa e Esalq/USP.

Vantagens - Os idealizadores do programa de desenvolvimento do Centro-Oeste destacam ainda duas vantagens competitivas do estudo. Primeiro, a oportunidade de o governo Lula agarrá-lo como uma marca de sua gestão, uma vez que ele tem potencial expressivo. O segundo aspecto é o ineditismo da abertura comercial via Oceano Pacífico. Toda a história da ocupação e da diversificação de atividades no território brasileiro se deu e se dá pelo Atlântico, e isso pode influir de forma expressiva nas negociações internacionais. As negociações entre o Brasil e os EUA a respeito da Alca, defende o estudo, se farão noutro patamar se, no meio tempo, o governo der sinais claros de que está seriamente engajado na construção da ligação transcontinental dos dois lados do subcontinente.




Fonte: Agência Estado

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