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Politica Brasil
Terça - 04 de Maio de 2004 às 02:34
Por: Onofre Ribeiro

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Na última quinta-feira assisti ao lançamento do livro “Dietas Já – 15 meses que abalaram a ditadura”, escrito pelos ex-deputados federais Domingos Leonelli e Dante de Oliveira. Não fosse pelo tema em si, teria ido porque tive a oportunidade histórica de estar nas galerias da Câmara dos Deputados no dia da histórica sessão de votação e da derrota da emenda das Diretas Já.

Não li ainda o livro, além do primeiro capítulo. Por isso não posso falar a respeito do seu conteúdo. Mas gostaria de resgatar a avaliação crítica que fez dele o jornalista Clóvis Rossi, experiente e lúcido articulista e crítico do jornal “Folha de São Paulo”, que escreveu:

“ ...Diretas Já foi uma palavra de ordem simplificada, até para consumo do grande público, para designar algo bem mais profundo, que era o desejo de “mudanças já”. Ou, posto de outra forma: a batalha travada há 20 anos pela volta das eleições diretas não se limitava a desejar (o que já seria, de todo modo, um grande objetivo) a restauração da soberania popular, furtada desde o golpe de 1964. Queria também mudar a política econômica, mudar o relacionamento governo-sociedade, mudar um punhado de regras (tanto que um subproduto das Diretas Já acabou sendo o Congresso constituinte que, de fato, redesenhou o país, para o bem o para o mal)”.

“O que incomoda, prossegue Clóvis Rossi, é verificar que, 20 anos depois das maiores manifestações de massa jamais registradas na História da República, o grito “mudanças já” tenha que ser ouvido de novo e seja, de novo, adotado pela maioria(tanto que o candidato supostamente ou realmente identificado com a mudança ganhou com folga a eleição). O que falhou? Por que o Brasil parece condenado a, de quando em quando (ou de sempre em sempre), repetir o pedido angustiado por mudanças?”.

“Está é, talvez, a importância primeira deste livro. Claro que ele vale, por si só, como resgate da memória histórica de um episódio provavelmente inédito no país em termos de vigor da sociedade. Mas vai além. Mergulha nas tramas e nas intrigas, nas disputas e nos conceitos, nos subterrâneos e nas luzes das praças públicas em que se travou a grande batalha das Diretas”.

Hoje, observo: distante 20 anos no tempo, a névoa da memória mostra a sua crueldade. As gerações atuais afogam as suas angústias nas mesas dos bares, grudados nos telefones celulares, pregados nas verdades da Internet, vão e vêm madrugadas adentro no mais vigoroso direito de ir e vir. Quando vêem uma viatura policial não lhe dão a menor importância, ao contrário dos jovens da época do regime militar, quando pressentia-se uma onipresente ameaça no ar. Cercada da mais completa impunidade para um “agente” do regime que prendesse alguém sem motivação maior do que uma cara feia.

De fato, lá se vai muito tempo em um país de memória claudicante como o Brasil e um estado jovem como Mato Grosso.

O Dante de Oliveira barbudo de 20 de abril de 1984 já tem 50 anos. A barba branca, os cabelos embranquecendo. O movimento das Diretas Já está mais na História do Brasil do que na memória das pessoas. Ainda que tenha sido o divisor a partir do qual o regime militar perdeu o seu peso político para daí a um ano entregar o governo do país a um civil.

As 300 pessoas que estiveram no teatro da UFMT sentiram isso. Um pouco de nostalgia e muito de respeito ao deputado das Diretas Já. * Onofre Ribeiro é Jornalista em Cuiabá.




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