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Politica Brasil
Quarta - 21 de Abril de 2004 às 15:35
Por: Onofre Ribeiro

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Aos poucos a discussão sobre o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra saiu da esfera social e entrou para uma perigosa esfera política. Sem-terra não querem terra. Querem poder! Se quisessem mesmo a terra, a maioria dos assentados no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, não estaria vendendo os seus lotes conseguidos mediante sucessivas “ocupações”. Até porque naquele local não há porque se questionar a qualidade das terras e nem a proximidade com os mercados consumidores da produção familiar dos assentados.

Estamos falando de um movimento político nascido dentro da Pastoral da Terra, sabidamente engajada na ideologia anterior do Partido dos Trabalhadores, assim como da CUT, que foi o poderoso braço sindical do partido até a sua chegada ao poder. Mas o movimento que era apenas um suporte político do PT, saiu do controle e hoje ameaça o governo do presidente Lula, assim como ameaça a estabilidade social e econômica do país.

Melhor do que ninguém o MST, depois de anos de convivência íntima, conhece as fragilidades do Partido dos Trabalhadores e está explorando-as com competência. Sabe, por exemplo, que o governo não conseguirá materializar uma reforma agrária porque não tem capacidade executiva. Não tem porque não abrirá mão do setor público fundiário para outros partidos. Mas não tem capacidade operacional. Logo, o movimento só tenderá a crescer.

Como conseqüência, a cada dia mais desestabilizará o governo do presidente Lula fragilizando-o. A troco de que?, perguntaria o leitor. A resposta parece óbvia: o MST é hoje a ponta mais visível de um novo movimento político das esquerdas radicais deserdadas pelo governo do PT. Ou que perderam o discurso radical no mundo moderno.

O radicalismo está claro nos critérios usados pelo MST para escolher e ocupar “fazendas improdutivas”. O critério de “produtivo” passou a não ser mais a ocupação econômica da terra. O que conta agora é a capacidade de impacto na mídia que uma ocupação possa gerar na opinião pública. Foi o caso, por exemplo, da fazenda de reflorestamento da indústria de papel da Klabin, em Santa Catarina. Ali se pretendeu agredir a ordem constituída, e se pretendeu também afetar a intenção de investimentos da empresa, como uma forma de pressionar o governo a destinar mais recursos para a reforma agrária.

Como o movimento sabe que o dinheiro por si só não basta, ficou fácil radicalizar. Se o governo do PT tivesse capacidade de operação rápida, aplicaria o dinheiro e calaria a pressão do MST. Mas justamente por conhecer a incapacidade de ação do governo, o MST faz esse tipo de provocação e caminha tranqüilo porque sabe que não será incomodado. Se não fosse pela incapacidade operativa do governo, seria pela confusão ideológica em que se meteu o Partido dos Trabalhadores para lidar com os movimentos sociais que um dia ele apoiou, protegeu e usou para chegar ao poder.

A tendência é que as confusões agrárias cheguem a limites que ameacem a ordem constitucional brasileira.

* Onofre Ribeiro é Jornalista em Cuiabá.




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