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Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Sexta - 16 de Abril de 2004 às 09:30
Por: Raquel Teixeira

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Preservar a tradição e resgatar valores, assegurando o tronco da cultura bororo. Esses são alguns dos objetivos do projeto Meri Ore Eda, apresentados ao ministro da Cultura Gilberto Gil, ao secretário de Estado de Ação Política de Mato Grosso, Louremberg Nunes Rocha e ao superintendente de Assuntos Indígenas, Idevar José Sardinha, durante visita nesta quinta-feira (15.04) à reserva da etnia Bororo, localizada a 46 quilômetros do município de General Carneiro (441 km de Cuiabá), em Mato Grosso. A recepção ao ministro, secretários e assessores do Ministério da Cultura foi feita no local onde será formada a nova aldeia Meri Ore Eda. O projeto é uma iniciativa do próprio povo Bororo da aldeia Meruri, preocupado em resgatar e manter as tradições seculares, que vem sendo perdidas ao longo de mais de cem anos.

O projeto Meri Ore Eda – Morada dos Filhos do Sol na língua Bororo – foi elaborado pelo Instituto das Tradições Indígenas (Ideti), uma organização não governamental criada e dirigida por índios de várias etnias. A proposta pretende formar uma nova aldeia, que se chamará Meri Ore Eda, no formato original da tradição Boe, onde serão acolhidas as reuniões, festas, rituais, funerais, pescarias e coletas de alimentos tradicionais, além da moradia dos clãs indígenas.

O projeto é considerado piloto no Brasil, uma vez que não há nenhuma iniciativa desse porte entre sociedades indígenas. Para o idealizador do projeto, o bororo Paulo Miriecuréu, a proposta é assegurar às próximas gerações os ensinamentos da cultura, além de resgatar o que foi perdido e esquecido. “Nossa preocupação é porque o progresso vem se aproximando rapidamente e a estrutura da cultura indígena está desmoronando sem que nosso povo venha perceber”, destacou Paulo. Conforme o bororo, não dá para dissociar cultura do povo. “Um povo sem cultura não é povo. Temos que manter tudo que nossos antepassados gostavam e tinham, mesmo eles não estando mais entre nós”.

Segundo Miriecuréu, o projeto foi elaborado a partir de decisões e idéias compartilhadas com a comunidade representada pelos anciãos, pajés e caciques. “A vontade dos anciãos é que não se acabe a nossa cultura, mas os jovens ficam sem saída porque se deixaram influenciar muito pelas coisas fáceis do ‘homem branco’. Queremos trazer de volta nossa tradição e cultura nessa nova aldeia e quem pode fazer isso somos nós mesmos”.

Para Jurandir Siridiwê, da etnia Xavante, que preside o Ideti, o momento é considerado histórico, pois o projeto nasceu de uma vontade e iniciativa do povo Bororo. “Manter a tradição e respeitá-la, aliada ao mundo contemporâneo. Está na hora do Brasil conhecer a nossa riqueza e compartilhar o conhecimento e sabedoria dos povos indígenas, criando um novo tempo de convivência com respeito e harmonia”.

A perda da identidade e tradição cultural pode ser analisada a partir da formação atual das aldeias, como é o caso do Meruri e Sangradouro, onde todas as casas são de alvenaria e disponibilizadas em forma de fileira.

Durante a visita à aldeia Meri Ore Eda, o ministro Gilberto Gil assistiu a apresentação de danças da Nação Bororo, como a do "Kaiwo", "Dança do Marido" e do "Oiezo"e foi presenteado com livros e enciclopédias que tratam da etnia, como a obra “Meruri – na visão de um ancião Bororo”, peças do artesanato Bororo, e quadros da artista plástica mato-grossense Deuseni Félix, que trabalha com temática indígena, além de uma cópia do projeto integral. O ministro também conheceu a maquete da nova aldeia.

Conforme o secretário de Ação Política, que na ocasião representou o governador Blairo Maggi, o Governo do Estado pretende estabelecer uma parceria para que o projeto possa ser desenvolvido.”É uma tentativa positiva para resgatar o que se perdeu”, destacou Louremberg.



Para Gil, a visita ao povo Bororo representa o diálogo e reafirmação do compromisso que o Governo Federal vem procurando manter com as comunidades indígenas. “O projeto representa a célula de reconstrução de um povo. Vivemos hoje as conseqüências do que aconteceu há séculos e devemos fazer uma reversão do processo de desaparecimento dos povos indígenas”.

O ministro garantiu ainda o empenho do Governo Federal em apoiar o projeto e a busca de parcerias para que a iniciativa seja viabilizada. “Recursos serão disponibilizados e pretendemos que a construção da aldeia comece ainda este ano com a primeira fase do projeto. Quero vir para a inauguração”, garantiu Gil. Segundo o ministro, o projeto representa um estímulo para que diferentes etnias possam conviver harmonicamente, além da possibilidade de ver uma nação indígena reviver suas traduções. “É um projeto também educativo, pois devemos respeitar a história e fazer a junção da tradição com a modernidade, além de resgatar uma dívida”, finalizou o ministro da Cultura.

Após a apresentação, o ministro visitou a aldeia Meruri. Acompanhando Gil, veio também conhecer o projeto o ator Sérgio Mamberti, que é secretário de Identidade e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.

MERI ORE EDA - O projeto tem previsão para ser iniciado ainda em maio deste ano e concluído até maio de 2006 e foi orçado em cerca de R$ 3 milhões, recursos que serão disponibilizados por meio de parcerias. O local escolhido para formação da aldeia Meri Ore Eda é dentro de uma área da reserva Bororo, próximo ao quilômetro 112, às margens da BR-070, que liga o município de Barra do Garças a Cuiabá. Além da estruturação física da aldeia, a proposta prevê ações complementares como oficinas de resgate cultural, projetos de auto-sustentabilidade, de saúde, educação e produção cultural, além da construção de uma aldeia para visitantes.

O projeto visa também que os índios da aldeia tradicional vivam da agricultura original Bororo, com a plantação de batata, cará, inhame, mandioca e milho. Criação de peixe em represa. "O rio não tem mais peixe", informou Miriecuréu. E ainda instalação de criadouro de animais silvestres, como por exemplo, o porco do mato. Depois da procriação dos animais na aldeia, eles serão soltos no cerrado. Dessa forma, os índios também estarão praticando a caça tradicional.

BOROROS - O povo Bororo se autodenomina Boe, Gente. A língua falada é da família lingüística Jê. Atualmente são aproximadamente 1,6 mil índios vivendo em 10 aldeias, distribuídas por quatro reservas: Tadarimana, Tereza Cristina, Merure e Perigare.

No passado, o território dos Bororos se estendia por uma grande região de cerrado do Brasil Central, onde estão localizados os estados de Goiás e Mato Grosso, indo até o norte de Minas Gerais. As aldeias da região de Minas Gerais foram extintas no século 18, após contato com os bandeirantes. Hoje, a maior parte dos Bororos vive em Mato Grosso, na altura do km 120 da BR-070, que liga Cuiabá a Barra do Garças. Outros grupos se fixaram nas proximidades de Rondonópolis e Santo Antônio do Leverger.




Fonte: Redação/Secom - MT

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