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Politica Brasil
Sábado - 10 de Abril de 2004 às 08:03
Por: Onofre Ribeiro

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Nesta época de aniversário de Cuiabá a cidade se enche de homenagens. Porém, de uma maneira muito superficial, como se a cidade fosse uma miragem enfumaçada. Gostaria de escrever dois artigos a respeito de Cuiabá. O de hoje e o de amanhã. Mas vendo-a na visão holística que ela representa.

Preciso dizer que cheguei aqui no dia 25 de agosto de 1976, vindo de Brasília. Vim trabalhar como jornalista no governo estadual, a convite do então governador José Garcia Neto. O momento era de fortes tensões políticas por causa da divisão do estado que em breve criaria Mato Grosso do Sul.

Apesar de ser uma cidade pequena, na faixa dos 100 mil habitantes, Cuiabá tinha o ar cosmopolita de capital histórica, apesar das sucessivas rusgas com a então principal cidade do estado que era Campo Grande. Guardava uma forte história de sucessos e de insucessos econômicos e políticos. Mas era uma cidade forte. E naquele momento incerto da pré-divisão ela sustentava um ideal geopolítico, fosse qual fosse o destino do estado de Mato Grosso.

Para uma cidade pequena como era, Cuiabá representava a força política, histórica, humana e cultural do imenso território de 1 milhão e 200 mil km2 do então enorme Mato Grosso. Imagine-se uma cidade atual como Sinop, sustentar tal peso numa época de tantas incertezas como aquela.

Havia em Cuiabá um ar de côrte. Apesar da simplicidade do exercício do poder político, a cidade possuía um quê de altaneira. Querendo ou não, os ferrenhos adversários do Sul do estado assimilavam que a cultura política, a música, o falar típico o comportamento eram estratificados e sólidos. Lá, ainda não. Meio guarani, meio guarânia, meio São Paulo, meio Minas Gerais, meio Paraná. Cuiabá, não. Era Cuiabá. Tão somente.

Acho muito importante fazer este registro, porque se Cuiabá não tivesse segurado as pontas, apesar do imenso pessimismo que se abateu sobre ela a partir de 1979 quando o Sul se separou de Mato Grosso, muito provavelmente o sentido estratégico nacional de ocupar a Amazônia não tivesse se concretizado. A capital foi o “Portal da Amazônia”. Os migrantes chegaram e partiram a partir dela. E tiveram nela, muito contragosto às vezes, a nova referência política de suas vidas.

Claro que as lideranças políticas mato-grossenses acertaram e erraram muito com as sucessivas rupturas que essas ondas provocaram. De 590 mil habitantes em 1970, Mato Grosso saltou para 2,5 milhões 30 anos depois. E Cuiabá saiu dos pobres 58 mil em 1960 para 500 mil em 2000. Ambos foram estropiados pelo crescimento populacional e pelas inevitáveis conseqüências boas e ruins. Mas, novamente, Cuiabá cumpriu o seu papel histórico de referenciar os novos tempos.

Hoje, tudo isto é passado. Resta uma cidade conflitada, mas firme. Sua cultura antiga não morreu. Ao contrário, por mais que seja criticada pelos novos, ainda é a referência quando comparam-na com as suas próprias culturas. Mato Grosso pouco tem a ver com o velho estado de 1976. Com um progresso abundante, contudo, não consegue fugir da tutela cultural, política e humana de Cuiabá. Há quem goste dela. Há quem a odeie. Há quem a critique. Há quem a elogie. Há quem se diz indiferente. Mas ninguém pode ignorá-la no seu mar de contradições.

Que, aliás, fazem dela uma cidade charmosa, quente, tanto quanto estabelecida!

* Onofre Ribeiro é Jornalista em Cuiabá e também escreve para o ReporterNews.




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