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Politica Brasil
Segunda - 15 de Março de 2004 às 08:14
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Em 1516, Thomas More escreveu o livro "A Utopia". Nele More criou uma ilha imaginária onde seus habitantes realizavam a repartição dos bens sociais e onde se produzia apenas aquilo que era necessário para a felicidade de todos. Este humanista inglês propunha, há cinco séculos, trabalho para todos e jornadas diárias de 6 horas de trabalho. Foi um dos precursores do socialismo utópico.

A partir de então, o termo utopia, que em grego significa "em lugar nenhum", passou a ter o significado de ideal de organização de uma sociedade. No século passado, através de lutas pelos quatro cantos do mundo, idealistas e aventureiros tentaram implantar a igualdade, na marra, supondo seguir os preceitos do socialismo científico de Marx e Engels. Muitos conseguiram assumir o poder e causaram, na sua pretensa conquista, os maiores genocídios já ocorridos na história da humanidade. Mesmo assim, ao invés de instalar um sistema de contínua prosperidade, como alguns imaginavam e desejavam, instalaram um sistema de capitalismo de estado, burocrático e ineficiente, sempre difundindo através de outros povos a imagem da busca da sociedade igualitária.

Mesmo após a derrocada dos sonhos socialistas, com a queda do muro de Berlim, alguns pensadores e ideólogos políticos, mais políticos que pensadores, mantiveram o discurso dogmático dessa sociedade, apenas usando outros nomes para defini-la. São difíceis de serem contestados. Como contestar uma sociedade ideal, apesar de irreal? Como convencê-los da impossibilidade de se obter a igualdade entre os povos por meio do ódio entre classes? Quem não deseja estar na sua utopia?

Infelizmente, aprendemos, após milhões de mortes, que o sonho utópico tem sua realidade no seu significado em grego.

Não existe nenhuma medida capaz de se chegar a uma sociedade igualitária, onde as pessoas produzam o suficiente para suprir suas necessidades, ou uma sociedade em que todos tenham a mesma formação cultural, o mesmo salário e acesso aos mesmos bens e serviços. Onde não exista nem a propriedade privada nem a divisão de classes. Utópico, além de desumano, neste sonho de sociedade se propõe anular a ambição, um instinto que nos faz estar sempre em busca de melhor condição de vida. Nessa sociedade imaginada se criaria uma população acomodada, sem motivações individuais, estável, equilibrada e, provavelmente, louca ou robotizada.

Na verdade, o que se deve buscar é a diminuição das desigualdades. É a eqüidade na oferta de oportunidades, não entre indivíduos. O que se deve buscar é uma sociedade justa, não igualitária. Como disse um filósofo, uma sociedade onde a pobreza não seja um fardo hereditário, nem genético, mas, um acidente na história do homem.

Uma sociedade justa não vem através do ódio contra o estabelecido nem através de ações benevolentes e piedosas que não produzem transformações. Não é gerada por um governo ausente e muito menos por um governo extremamente presente. Há de se encontrar um meio-termo, onde o governo mantenha o equilíbrio sem se desgastar com balelas caridosas.

Sonhar com uma sociedade justa não é utópico. Lutar por uma sociedade justa é nunca deixar que políticas públicas sejam subordinadas ou subornadas por ideologias equivocadas ou por fisiologias.

Adriana Vandoni Curvo é economista, consultora, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas - RJ. E-mail: avandoni@uol.com.br




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