Repórter News - reporternews.com.br
Ciência/Pesquisa
Segunda - 14 de Dezembro de 2015 às 22:26
Por: Mirthyani Bezerra

    Imprimir


Reprodução/posipes

Você se sente inchada, mal-humorada, sem paciência. Olha no calendário e percebe que a menstruação logo vai chegar e entende o porquê das mudanças, afinal elas costumam aparecer todos os meses. A TPM (Tensão Pré-Menstrual) é comum à maioria das mulheres - estudos apontam que dois terços das mulheres que menstruam sofrem com ela. No entanto, há uma parcela dessa população que possui mais do que alterações "normais" aos dias que antecedem a menstruação.

Há mulheres que "se transformam em outra pessoa", com explosões de raiva, crises de ansiedade, sensação de tristeza profunda, insônia, fadiga, perda de apetite e falta de ânimo para atividades do dia a dia, até mesmo para aquelas que dão prazer – o que inclui atividade sexual, por exemplo. Sintomas que tentem a desaparecem com o fim da menstruação. É como se a mulher tivesse uma depressão cíclica, bem mais forte que os sintomas comuns da TPM.

Essas mulheres podem sofrer de um transtorno chamado TDPM (Transtorno Disfórico Pré-Menstrual), que em 2013 foi incluído na categoria de transtornos depressivos e de ansiedade da DSM5 - a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, sigla em inglês, da Associação Americana de Psiquiatria. Estudos epidemiológicos estimam que entre 2% e 10% das mulheres que menstruam sofrem de TDPM – as porcentagens variam de acordo com as condições sociais em que a mulher está inserida.

A microempresária Cyntia Leite Martins, 28, teve diagnóstico da doença este ano. Ela conta que depois que teve gêmeos, aos 26 anos, começou a sentir uma forte alteração de humor nos dias que antecediam a menstruação. "Era chegar uma semana antes da menstruação para ficar muito irritada, fora de mim. Eu agia como se alguém estivesse apertando o meu pescoço ou fazendo algo muito absurdo, mas depois que passava a menstruação em pensava 'porque eu agi dessa maneira?'", conta.

Cyntia se sentia deprimida, estressada, chorava com facilidade e tinha até pensamentos suicidas. "Eu não queria mais viver quando estava no período pré-menstrual. E esse pensamento passava depois da menstruação", conta.

Os baixos níveis de estrógeno no corpo da mulher e na elevação de progesterona durante esse período do mês são as causas para as alterações de humor. "Dada essa concentração mais baixa de estrógeno, a mulher vai ter menos dopamina (neurotransmissor relacionado ao humor e emoções) disponível e com isso uma maior predisposição a um humor deprimido e com todos os correlatos que acompanham esse humor", explica a sexóloga, fundadora e coordenadora do ProSex (Projeto Sexualidade) do Hospital das Clínicas de São Paulo, Carmita Abdo.

No entanto, não há uma explicação de porque quem tem TDPM desenvolve alterações mais graves pela falta de dopamina que outras mulheres que também sofrem a mesma oscilação hormonal. "As causas exatas são desconhecidas, mas existem hipóteses. Uma sugestão seria predisposição genética para transtornos depressivos", explica José Carlos Appolinário, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da UFRJ.

Appolinário afirma, no entanto, que as mulheres precisam ter cuidado antes de pensar que têm TDPM. "As mulheres normalmente percebem que tem TPM, porque ficam irritadas, com alterações de humor. Por isso, antes de pensar que tem TDPM é importante que haja um acompanhamento de pelo menos dois ciclos (menstruais) seguidos", adverte.

O coordenador do Centro de Reprodução Humana do Hospital Sírio-Libanês, Maurício Abraão, que é professor associado da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), também afirmou que é preciso ter cuidado na hora de diagnosticar a TDPM.

"A inclusão da TDPM na categoria de transtornos depressivos da DSM5 foi um avanço para o tratamento de mulheres que têm uma depressão importante nesse período, mas a definição de um transtorno depressivo não é matemática, sempre tem uma grande subjetividade no diagnóstico. Por isso é preciso atentar para quadros intermediários, já que os graves são mais fáceis de definir", afirma.

Tratamento

Depois de ter problemas com o marido e de começar a ser vista de maneira diferente pela filha de 4 anos, Cyntia conta que "encostou a ginecologista na parede" para ela resolvesse o seu problema. A médica receitou um antidepressivo, o que assustou Cyntia. Ela afirma que não queria passar a vida inteira tomando o medicamento e buscou ajuda em tratamentos alternativos.

A professora-titular de Psicofarmacologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Helena Maria Calil, livre-docente em Psiquiatria, explica que o principal tratamento contra o transtorno é o antidepressivo. "Eles ajudam a melhorar, e muito, os sintomas pré-menstruais. Em muitos casos, não há necessidade de que a mulher tome diariamente o medicamento, basta tomar depois do período da ovulação, 10 a 14 dias, ou até menos, dependendo do ciclo", explica.

A duração do tratamento varia. Há mulheres que consegue controlar o transtorno e deixam de usar a medicação e outras que precisam tomá-la até a menopausa. Atividades físicas e técnicas de relaxamento também fazem parte do tratamento. "As pílulas anticoncepcionais ajudam porque dão certo equilíbrio na distribuição de estrogênio e progesterona', acrescenta Appolinário.

Calil afirma ainda que o ginecologista pode tratar a paciente, mas o ideal é uma avaliação psiquiátrica. "A mulher geralmente é acompanhada durante anos pelo mesmo ginecologista, que a conhece bem e pode avaliar se a alteração que ela relata é mesmo intensa e pode receitar o tratamento. Mas, o ideal seria que ela fosse avaliada pelo psiquiatra, para poder avaliar cuidadosamente a gravidade dos sintomas, de acordo com os critérios diagnósticos de TDPM", explica.

Toda mulher tem TPM - MITO. Nem toda mulher sofre com Tensão Pré-Menstrual e há algumas, muito poucas, que não exibem nenhum sintoma, assegura Felipe Henning Gaia Duarte, diretor da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia 

O principal sinal do distúrbio é a mudança de humor. VERDADE - Conforme atesta Felipe Henning Gaia Duarte, ?no quadro diosgenina, a mudança de humor, junto a sinais de intensificação da compulsão alimentar, é a mais recorrente?. Mas é importante deixar claro que não apenas a labilidade emocional ?fecha? o diagnóstico. ?Em geral, temos mais sintomas que vem a reboque, como ansiedade, depressão, insônia, sonolência, enxaqueca, dor nas mamas, distensão abdominal, acne e alteração de apetite com desejo por chocolate?, completa Maria dos Anjos Chaves. Arte UOL/Getty Images

Alguns alimentos ajudam a minimizar o quadro. VERDADE - Evitar o excesso de sal é a primeira medida importante, pois ele contribui para o agravamento da retenção de líquidos. Vale, ainda, manter distância de itens gordurosos e substâncias com cafeína ? chá preto, refrigerantes, vinho tinto ?, que aumentariam a agitação e irritabilidade. Por outro lado, alimentos diuréticos, que vão combater o inchaço, são excelentes opções: frutas como melancia e morango, por exemplo Leonardo Soares/UOL

Dor de cabeça é um dos sintomas. VERDADE - O incômodo acontece por causa da retenção hídrica cerebral. Existem mais de 150 dores de cabeça catalogadas e esta é a chamada cefaleia tensional. Para driblar o problema, vale investir em caminhos como ingestão aumentada de água, exercícios regulares, banho morno, relaxamento, massagem. Como a dor não costuma ser intensa e incapacitante, e sim incômoda e moderada, pode-se, ainda, usar um analgésico comum para minimizar o quadro ? mas sempre falando com o médico antes  

O estresse aumenta a chance de ocorrer a TPM. VERDADE - ?Em um ambiente em que já existe instabilidade emocional, o nervosismo só vai aumentar, e muito, o desconforto dessa fase?, diz o doutor em Endocrinologia, Felipe Henning Gaia Duarte. Sabe-se que, quanto mais elevados forem os níveis de estresse, maiores são as chances de a mulher sofrer com Tensão Pré-Menstrual. A recomendação, então, é investir em pelo menos 20 minutos diários de relaxamento ou qualquer atividade que dê prazer. Alguns alimentos também podem ajudar: no caso do estresse, a recomendação é ingerir itens com vitamina C ? limão, laranja, goiaba, kiwi ?, que ativam o funcionamento da glândula adrenal, regulam a produção de cortisol e oferecem poder antioxidante para combater os radicais livres

A TPM não tem cura. VERDADE - ?Ela pode ser atenuada de modo importante com medidas comportamentais como dieta equilibrada, atividade física e sono adequado. Se isto não for suficiente, o emprego de anticoncepcionais, quando indicado, pode ser tentado, bem como de outros medicamentos que reduzam as manifestações?, ressalta Felipe Henning Gaia Duarte. ?Não tem cura, e por isso a mulher precisa de cuidados constantes, que mudam de acordo com os sintomas. É preciso buscar tratamento a cada ciclo, porque nem todos os ciclos são iguais?, completa Maria dos Anjos Neves Sampaio Chaves

Há uma TPM mais grave, até com nome diferente. VERDADE - A forma mais séria acontece em 8% a 10% dos casos e é chamada de Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM). Normalmente, a paciente apresenta sintomas mais intensos, como explosões de raiva e crises de ansiedade. Por isso, em geral sofre com problemas de relacionamento interpessoal e conflitos no trabalho. Vale, então, procurar ajuda especializada, conversando com o ginecologista e depois buscando auxílio terapêutico Arte UOL/Getty 


A Tensão Pré-Menstrual é mais comum em mulheres com certa idade. VERDADE - Trabalho realizado no Hospital do Coração, em São Paulo, com 2.000 mulheres, mostrou que a disfunção é mais frequente após os 30 a 40 anos, especialmente no que toca os aspectos psíquicos. Nas adolescentes, os principais sintomas são físicos: dor de cabeça e cólica

Hoje, há tratamentos modernos que praticamente desaparecem com os sintomas. VERDADE - Felipe Henning Gaia Duarte explica que vários medicamentos reduzem os sintomas, como os receptadores de serotonina e/ou dopamina. Há, ainda, anticoncepcionais de baixa dosagem que trazem benefícios mas devem ser empregados apenas em casos extremos, quando as manifestações interferem nas atividades normais. Algumas dicas, porém, são comuns a todos os médicos: investir em qualidade de vida com exercícios aeróbios, técnicas de relaxamento (ioga, meditação) e alimentação balanceada, sem exagero de sódio e cafeína Divulgação


Os sintomas são sempre os mesmos para todas as mulheres. MITO - Ainda mais se pensarmos que existem mais de 150 sintomas diferentes, entre físicos (cefaleia, dor de estômago, incômodo nos seios, aumento do apetite) e emocionais (irritabilidade, impaciência, ansiedade, depressão). ?Eles são variáveis para cada mulher, que pode sentir desde um edema no corpo até cólicas, dor de cabeça, mal estar, instabilidade no humor, impulsão por chocolates e doces?, diz Felipe Duarte, acrescentando que os sinais também ocorrem com intensidade diferente nas pacientes


É possível ter TPM o mês inteiro. MITO - O distúrbio é cíclico e ocorre apenas entre 10 a 14 dias antes da menstruação ? nem antes, nem depois deste período. ?Para ser diagnosticado como TPM, os sintomas têm de desaparecer com o término da menstruação?, sustenta Maria dos Anjos Neves Sampaio Chaves, graduada em Medicina pela Faculdade de Teresópolis. ?Partindo do fato de que a disfunção advém da mudança do perfil hormonal, já que na fase pré-menstrual os níveis de estrogênio estão reduzidos e os de progesterona elevados, vemos que tal afirmação não se sustenta. Quando a mulher menstrua, as alterações cessam e um novo período hormonal tem início. Portanto, se uma mulher diz que apresenta sinais o mês todo, provavelmente padece de algum outro mal associado?, completa Felipe Duarte, consultor do SalomãoZoppi Diagnósticos

Se  a mulher não engravida e tem filhos, os sintomas da TPM ficam mais exacerbados. MITO - A Tensão Pré-Menstrual independe de gravidez e filhos, explica a ginecologista Maria dos Anjos Neves Sampaio Chaves. ?São variações hormonais que, no decorrer da vida, podem sofrer alterações, mas não na quantidade e intensidade dos sintomas. E como estamos falando de características individuais, há mulheres que vão ter os sinais atenuados com o parto, outras não.?






Fonte: DO UOL

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/418945/visualizar/