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Quarta - 12 de Abril de 2017 às 16:53
Por: Da Assessoria

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Gcom-MT/Mayke Toscano
Lideranças da etnia wauja ouvem com atenção discurso de Taques durante cerimônia nesta terça (11.04)
Lideranças da etnia wauja ouvem com atenção discurso de Taques durante cerimônia nesta terça (11.04)

Durante a assinatura dos contratos dos projetos aprovados em editais lançados pela Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso (SEC-MT), na noite desta terça-feira (11.04) no Palácio Paiaguás, lideranças representativas da comunidade indígena wauja agradeceram pelo projeto “Circuito Kamukuwaká: o livro de Kamukuwaká e Yakuwixeku” ter sido contemplado no “Prêmio Territórios MT”. E, para não perderem a viagem de dois dias, aproveitaram para fazer algumasreivindicações ao governo do Estado. Presente no evento, o governador Pedro Taques parabenizou os wauja pela iniciativa cultural e se prontificou a se reunir com os mesmos, já nesta quarta-feira (12.04), para ouvir detalhadamente as demandas e analisar o que pode ser feito a respeito. O encontro vai acontecer novamente no Palácio Paiaguás.

Na ocasião, os líderes Apayupi Waurá e Akari Waurá (cujas falas foram traduzidas pelo conterrâneo e professor de letras, Piratá Waurá), cobraram a oferta de cursos de capacitação para professores indígenas, estrutura física adequada para desenvolverem as atividades curriculares, além de maior fiscalização e cuidados ambientais no entorno do Território Indígena do Xingu (TIX), que é inteiramente cercado pelo agronegócio.


Melhorias na Educação Indígena

O primeiro ponto destacado pelos indígenas foi a educação. As pautas iniciais foram a falta de cursos para capacitação de professores indígenas e a promessa não cumprida - que se estende por quase duas décadas - de um prédio escolar.

“Precisamos de recursos para formação de magistérios, realizar o curso para melhorar a atuação dos professores indígenas nas escolas”, salientou Akari. De acordo com Kuya Waura, diretor da escola local, “não falta professores, só falta a formação”. A capacitação, segundo eles, teria sido ofertada em duas etapas, porém, desde o ano passado, não houve continuidade.

Sobre o prédio escolar, muitos governos já se passaram, mas desde que as escolas foram implantadas na comunidade, em 1998, os líderes das aldeias alegam ouvir o mesmo que fora prometido aos seus antepassados. “Isso é uma das grandes lutas dos caciques. Alguns morreram lutando. Falaram para eles que iam construir e até hoje nada”, lamentou Kuya.


Questões Ambientais

Em seguida, os wauja abordaram questões ambientais e culturais, como o desmatamento nas margens de rios e nascentes. Um exemplo do efeito desta ação é o que acontece na gruta Kamukuwaká, associada às histórias de Kamukuwaká e Yakuwixeku, que compõem a identidade e o cotidiano da etnia, já que estão no cerne do ritual de furação de orelha, cerimônia de iniciação de jovens lideranças. No entanto, mesmo tendo sido tombada como patrimônio da União em 2010, tem se deteriorado por conta do uso indevido dos recursos ambientais à sua volta, já que está localizada fora dos limites do TIX.

“É um lugar sagrado, mas em volta está tudo desmatado. É o próprio humano que está destruindo estes territórios”, lamentou Akari. E, após deixar claro que a intenção não é expulsar os fazendeiros, mas fazer com que as margens e as cabeceiras dos rios sejam reflorestadas, concluiu dizendo que “esses territórios que a gente está tentando proteger não são só para nós, são para a humanidade”, arrebatando efusivos aplausos da plateia.

Então foi a vez do professor Piratá descrever com suas palavras o sentimento indígena. Ele afirmou ser muito triste ter que lidar com o processo de assoreamento dos rios, o que diminui gradativamente a quantidade de peixes. E, para exemplificar como a preservação das florestas é de suma importância para os wauja, ele usou de uma comparação tão simples quanto eficaz. “A gente procura nossa comida nas florestas, enquanto vocês compram no mercado. Então as florestas são o nosso mercado”, concluiu.

Apesar das cobranças, não houve nenhum constrangimento, tanto é queagradeceram diversas vezes pela oportunidade de desenvolver o projeto que visa lhes dar maior autonomia. “Significa que o governo está ouvindo os povos indígenas”, destacou Piratá. E, por fim, presentearam Pedro Taques e Leandro Carvalho (Secretário de Cultura) com panelas de cerâmica feita pelos wauja.


Projeto “Circuito Kamukuwaká: o livro de Kamukuwaká e Yakuwixeku”

O projeto “Circuito Kamukuwaká: o livro de Kamukuwaká e Yakuwixeku”, idealizado pelos próprios wauja com suporte do Instituto Homem Brasileiro (IHB), foi um dos contemplados pelo edital “Prêmio Territórios MT”.

A iniciativa surgiu na sequência de um projeto de Gestão Ambiental, iniciado em 2014. Desde então, apresenta um enfoque colaborativo, composto por uma equipe interétnica formada por pesquisadores indígenas e do IHB, que reúne arqueólogos, antropólogos, professores, alunos, fotógrafos, historiadores e anciões.

Pretende-se, com essa abordagem colaborativa, capacitar os pesquisadores indígenas na pesquisa etnográfica e produção de material didático para ser inserido no programa letivo das escolas wauja. A proposta é que o livro reúna conteúdo produzido exclusivamente pelos indígenas, desde a parte escrita, até ilustrações, fotografias...

Enfim, o objetivo que norteia todo o projeto é o de preservar e redinamizar os mecanismos de transmissão do conhecimento tradicional, a fim de que os indígenas possam, em breve, fazer todo registro por conta própria.

“O nosso almejo principal é a autonomia dos wauja, na execução dos trabalhos de registro e pesquisa sobre a sua cultura. Essa autonomia vem com as ações conjuntas de registro etnográfico que viemos desenvolvendo, fomentando também uma familiarização com as novas tecnologias de informação”, explica Gabriele.





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