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Ciência/Pesquisa
Quinta - 27 de Abril de 2017 às 12:20
Por: Veja.com

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Descobertas anteriores já tinham confirmado a existência de microplásticos no estômago de animais marinhos, mas, pela primeira vez, o mesmo foi observado em terra firme (Joseph Eid/AFP)
Descobertas anteriores já tinham confirmado a existência de microplásticos no estômago de animais marinhos, mas, pela primeira vez, o mesmo foi observado em terra firme (Joseph Eid/AFP)

Uma equipe de cientistas mexicanos e holandeses documentou pela primeira vez a entrada de microplásticos na cadeia alimentar terrestre, graças a um estudo de campo desenvolvido na reserva ambiental de Los Petenes, no México. Os pesquisadores apresentaram os resultados nesta terça-feira durante uma reunião da União Europeia de Geociências.

Apesar de há anos existirem estudos sobre a entrada do plástico na cadeia alimentar marinha, este seria o primeiro a documentar o fenômeno no entorno terrestre, segundo explicou a cientista mexicana Esperanza Huerta, do centro de pesquisa Colégio da Fronteira Sul (ECOSUR, na sigla em espanhol). Ela coordenou a pesquisa junto a cientistas da Universidade de Wageningen, na Holanda.

De acordo com a pesquisadora, devido à falta de recolhimento e gestão dos plásticos, os habitantes de Los Petenes queimam os resíduos e os enterram no chão de suas hortas, aumentando o risco de microfragmentação. Analisando o solo, as minhocas e as fezes de galinhas domésticas de dez hortas na reserva mexicana, a equipe detectou a presença de plástico na terra e até dentro dos animais terrestres – o que, considerando que eles são uma fonte de alimento para muitas pessoas, representa um risco à saúde humana.

Huerta explica que as minhocas acabam ingerindo o plástico junto com a terra. Assim, quando são devoradas pelas galinhas, transportam essas substâncias para dentro do estômago e das moelas das aves, que, por sua vez, são ingeridas por humanos. Também é possível que as galinhas se contaminem diretamente, ingerindo plástico do solo ao beliscar pedaços que estão aderidos a restos de comidas.

Huerta assegurou que, considerando que Los Petenes é uma reserva ambiental e seus habitantes recebem educação para cuidar do meio, é possível que em outros entornos a situação seja inclusive pior. O grande problema, para a pesquisadora, é o costume de queimar os plásticos, o que agrava a contaminação.

“Pensam que ao queimá-lo resolveram o problema. Mas a situação é que ele fica acessível aos invertebrados do chão, e se for acessível para eles, é também para o resto da cadeia alimentar”, resumiu.

As moelas das galinhas, que, segundo os cientistas, também tinham concentrações de microplástico em seu interior, são usadas em diversos pratos tradicionais mexicanos. A pesquisadora apontou que as pessoas com as quais falou confessaram não limpar as moelas por dentro, lavando somente por fora e cozinhado logo em seguida, prática que pode, facilmente, levar à contaminação de uma pessoa.

Sobre qual seria a real consequência do consumo de plástico para a saúde humana, a pesquisadora indicou que são necessários mais estudos a respeito, mas o considerou um “grande risco”. Para as minhocas, no entanto, os efeitos são mais claros. Huerta, que é especialista no estudo desses invertebrados, diz que, dependendo da concentração e do tempo de exposição ao plástico, a mortalidade aumenta de forma considerável e a fertilidade dos animais se reduz.

Embora o acesso ao plástico tenha melhorado a vida das pessoas, afirma a professora, sua escassa degradação é um grande problema e deve ser motivo de preocupação, evidenciando a necessidade de algum tipo de regulamentação internacional para evitar doenças.

(Com EFE)





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