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Comportamento
Domingo - 07 de Janeiro de 2018 às 14:52
Por: Bianca Fujimore/midianews

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Delima Zilma, de 38 anos, abriu uma frutaria em novembro, no Bairro Areão
Delima Zilma, de 38 anos, abriu uma frutaria em novembro, no Bairro Areão

Cerca de 12% da população estão desempregadas, o que equivale a 13 milhões de pessoas, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os números traduzem uma situação vivida por muitos a partir da crise. Ao ser demitido de um posto formal, o trabalhador não consegue se recolocar no mercado nas mesmas condições.

Com o tempo, desiste de procurar emprego e abre um negócio próprio, no chamado empreendedorismo por necessidade.

Este é o caso do haitiano Delima Zilma, de 38 anos.

O imigrante, que está no Brasil desde 2013, conseguiu superar as dificuldades financeiras e abriu uma frutaria em novembro, a “Beraca – Frutaria e Verduraria”. Beraca quer dizer “abençoado por Deus” em sua língua mãe, o crioulo.

Além da busca por uma vida melhor, Delima também quer dar auxílio a outros imigrantes. De acordo com um levantamento realizado pela Polícia Federal em 2016, Mato Grosso abriga cerca de 5 mil haitianos, sendo 2 mil em Cuiabá. Desses 2 mil, quase a metade está desempregada.

“Eu escolhi abrir esse negócio para o nosso povo que vem e não fala português. Quando o País está em crise, a pessoa que não fala a língua tem mais dificuldade para arrumar emprego. Aí eu fiquei preocupado. Por isso dou apoio para o nosso povo e para qualquer outro imigrante, qualquer nacionalidade”, revelou o novo comerciante.

Para conseguir abrir o próprio negócio, o haitiano investiu R$ 7 mil que havia economizando desde quando chegou ao País.

“Não peguei nenhum financiamento. Esse espaço aqui é meu. Eu abro para todo mundo que quiser colaborar. Nossa missão é mudar a vida das pessoas que estão precisando”, disse Delima, com orgulho.

Ele contou que inicialmente o negócio começou simples e foi ganhando mais variedades com a demanda de seus clientes. “Comecei vendendo frutas. Aí a cada vez que o povo vinha, pedia uma coisa e eu falava: amanhã vai ter. E eu corria atrás”.

Um mês depois, o comércio já tem quatro funcionários, todos haitianos, e Delima se orgulha de ter produtos de qualidade.

“Eu vendo o melhor produto. Compro caro, mas é de qualidade. Tem coisa aqui que é mais barato que o mercado. Para conseguir comprar as frutas, tenho que acordar 3h da manhã”, revelou.

Por causa das boas ofertas, o haitiano está fazendo sucesso. “Temos bastante clientes. Aqui o povo vem entre as 6h e 7h e, quando chega 10h, as frutas foram quase todas vendidas. Fruta sai bastante”.

Entretanto, o empreendedor ainda não está satisfeito. “Quando aqui estiver bem cheio, aí minha vida vai melhorar. Minha missão é correr atrás de conseguir abrir outra frutaria. E pensei em abrir uma marmitaria também. Tem bastante haitiano que cozinha, que faz comida gostosa”, disse.

Paixão pelo Brasil

Mesmo tendo visitado diversos países, o haitiano revelou que seu sonho era conhecer o Brasil. “Primeiro vim visitar, ver como estava a situação. Porque desde criança eu gostava muito, tinha o sonho de conhecer o Brasil. Eu conheço vários países. Aí eu falei: o último País que eu tinha que conhecer era o Brasil, aí eu seria completo”.

O haitiano veio apenas para visitar e acabou ficando. Porém passou por momentos de dificuldade. “Enfrentei um pouco de dificuldade quando cheguei. Porque todo mundo que chega aqui pela primeira vez vai enfrentar. Quando cheguei, eu não tinha ninguém”, contou Delima.

Inicialmente, o imigrante foi morar em São Paulo, porém revelou que não gostou do ritmo agitado que a cidade tem. Por conta disso, escolheu vir para a capital mato-grossense.

Quando chegou a Cuiabá, Delima encontrou dificuldades para conseguir se manter e ainda juntar um pouco de dinheiro. “Eu trabalhava quase 24h por dia. Ia para a obra às 7h e saía às 16h30. Às 17h já ia para o outro trabalho, onde eu era cozinheiro. Só saía do restaurante a 1h da manhã. Se tivesse algum serviço particular, eu tinha que fazer”, revelou o imigrante.

O haitiano também não se importa com o preconceito. “Se eu enfrentar o preconceito, não fico preocupado. Porque o preconceito é mundial. Todos os países têm racistas”.

Delima não quer mais voltar para o seu País, mesmo com sua mãe ainda morando lá, pois diz ter encontrado a felicidade aqui.

“Eu não volto para o meu País. Aqui no Brasil tenho meu filho de quase 2 anos. Minha família toda está no Haiti. Eu só vou voltar para passear lá. Porque o Brasil está no meu coração”.




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