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Cidades/Geral
Domingo - 25 de Fevereiro de 2018 às 18:27
Por: Gazeta Digital

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Apesar do aumento na expectativa de vida, poucas pessoas superam a marca dos 100 anos e, a cada década que passa, este grupo seleto de centenários tem diminuído mais em Mato Grosso, seguindo a tendência do país. É o que mostram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A redução ficou nítida nos censos demográficos mais recentes. Em 2000, havia 439 centenários no Estado. Uma década depois, somente 278. O IBGE fará nova contagem apenas em 2020. Mas qual o segredo para resistir tanto tempo? Existe fórmula da longevidade? O que os geriatras dizem a respeito?

O quilombola Antônio Benedito da Conceição, mais conhecido como Antônio Mulato, tem 112 anos e ostenta o título de cidadão mais idoso de Mato Grosso. Ela também é considerado o quilombola mais velho do Brasil. Sempre teve saúde de ferro, nasceu e foi criado na roça, comeu comida de horta e lavoura caseiras, trabalhou pesado no roçado, se casou três vezes, teve 18 filhos, toma uma dose de pinga todo dia e de vinho a hora que tem vontade, sempre gostou de sexo e de rasqueado.

A filha, Marcelina Rita, 51, cuida do pai. Adoentado, ele saiu do quilombo de Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento, e foi morar na casa dela, na área urbana do município. Isso para ter mais acesso a médicos e medicamentos.

Marcelina conta que, em janeiro do ano passado, após perder a esposa e um dos filhos, em abril, o idoso “sentiu o baque”, diz ela. Mesmo assim, entre idas e vindas do hospital, Antônio Mulato atualmente está estável. “O que acho mais incrível no meu pai é a cabeça dele, que é um computador, lembra de tudo, está lúcido”, detalha Marcelina.

Antônio Mulato ainda anda e fala, mas com dificuldade. Está um pouco surdo e, às vezes, não entende às perguntas que fazem a ele. A filha, questionada sobre o motivo da longevidade, acredita que primeiramente trata-se da vontade de Deus. “Em seguida, o que faz ele viver muito é a alimentação caipira que sempre teve e a vivência no campo”, comenta.

Se tudo der certo, dia 12 de julho deste ano, ele chega aos 113 anos. “A gente vive um dia de cada vez, um dia a morte vai acontecer, mas só tenho a agradecer a Deus pela vida que a ele concedeu”, agradece.

Boa genética

O geriatra que cuida do quilombola centenário é de Cuiabá. Há 35 anos na área, Marco Aurélio Silva Ribeiro acredita que a genética de Antonio Mulato “é boa”. Segundo o médico, não há uma explicação para a longevidade do paciente centenário. “Nunca viveu vida regrada, fumou muitos anos, toma aperitivos alcoólicos e, se eu fosse segui-lo, já estava morto”, brinca.

Desde que Antônio Mulato começou a ir ao geriatra, teve melhorias em funções orgânicas, como a digestiva. “Se ele não tivesse vindo já teria morrido? Não tenho a mínima ideia, mas é possível sempre melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, garante o médico.

Ele ressalta que idosos têm muitos problemas digestivos e a mudança alimentar é fundamental. “Refeição com carboidratos e carne não é recomendável, porque produz uma digestão fermentativa ruim para o corpo e exige tempo mais prolongado. Isso causa proliferação bacteriana, dá anemia e desnutrição, mudar um pouco a dieta pode evitar isso tudo”, orienta.

Outros aspectos importantes da saúde na velhice são a reposição hormonal e exercícios físicos.

“Caminhada serve, mas é um esforço leve. O senhor Antônio, por exemplo, era um verdadeiro atleta na roça, suava a camisa de verdade, isso que tem que ser feito”.

O geriatra também condena o uso excessivo de venenos agrícolas e atribui a isso ao elevado índice de câncer, inclusive entre os mais jovens. “Com certeza, impacta nas estatísticas de redução dos centenários. Na Europa já estão muito à frente na postura contra esse envenenamento crônico ao consumirem alimentos orgânicos”, ressalta.

Segundo o médico, uma boa genética pode ser ajudada com estes comportamentos simples, que podem fazer “adormecer” gens ruins e despertar os fortes.

Municípios

Na lista de municípios matogrossenses, Cuiabá também perdeu centenários. De 82, eles caíram para apenas 57. Cáceres também perdeu, de 12 para 8. Já em Chapada dos Guimarães houve um aumento. Só havia um centenário, em 2000, e chegou a três em 2010, assim como em Campinápolis, de seis para nove.

Em Dom Aquino, o número aumentou de dois para quatro. Dona Maria Batista Teixeira, 111 anos, mora lá. Há 5 meses teve um princípio de AVC e, desde então, a saúde ficou comprometida. Quem cuida dela são a filha e a neta, Ilza Batista, 41, diretora de uma escola local. “Hoje ela está acamada, mas até ano passado era uma mulher ativa, andava, falava pouco e se alimentava muito bem”, relembra. “Morou a vida toda em fazenda, criou 11 filhos, teve 49 netos, só comia comida de roça. O marido dela, meu avô, faleceu muito idoso também, mas não chegou aos 100 anos”, detalha a neta.

Com a avó, ela tem em comum a preocupação em manter bonitos os cabelos longos.

“Eu chego em casa, abraço minha avó enquanto posso e converso com ela, que fica me olhando, como se me entendesse, mas não pudesse mais responder”.





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