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Sexta - 11 de Maio de 2018 às 08:41
Por: Lucas Rodrigues/Midianews

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O empresário José Henrique Gonçalves, sócio da EIG Mercados, afirmou ter sido coagido pelo também empresário Roque Reinheimer, da Santos Treinamento, a continuar pagando propina sob pena de ser alvo de um dossiê relatando os crimes investigados na Operação Bereré.

Segundo ele, Roque afirmou que iria pedir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembleia Legislativa, caso a propina não fosse paga, pois teria “13 deputados em sua mão”.

A informação consta em depoimento prestado por José Henrique ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), e colaborou para a deflagração da 2ª fase da operação, na quarta-feira (09).

A Bereré apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 30 milhões, que operou de 2009 a 2015.

Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.

Roque foi preso preventivamente nesta semana juntamente com seu sócio na Santos Treinamento, Claudemir Pereira. Também foram presos o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques e o irmão dele, Pedro Jorge Taques, assim como o deputado estadual Mauro Savi (DEM) e o ex-diretor-presidente da EIG Mercados, José Kobori.

Até 2015, de acordo com o empresário, as propinas aos políticos e empresários envolvidos eram pagas pela EIG por meio do contrato com a Santos, que tinha Roque como sócio.

Porém, com a entrada da nova gestão do governo do Estado, as propinas passaram a ser pagas ao então chefe da Casa Civil, Paulo Taques, por intermédio do executivo Valter Kobori, à época presidente da EIG.

Desta forma, José Henrique relatou que a EIG rescindiu o contrato com a Santos, fato que levou Roque Reinheimer a passar a ameaçar ele e seu pai, José Ferreira Neto, também sócio da EIG.

“Após a cessação do pagamento da propina através da Santos Treinamentos (de cujo quadro societário Roque Anildo Reinheimer fez parte), este passou a extorquir os sócios da EIG Mercados Ltda., exigindo o pagamento de R$ 50.000,00 mensais, sob a ameaça de se utilizar de sua influência 'política junto à Assembleia Legislativa de Mato Grosso para a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito - CPI a respeito do contrato entre a EIG Mercados e o Detran-MT”.

Conforme o Gaeco, a versão dada pelo empresário “bate” com os documentos apreendidos na casa de Roque Reinheimer durante a operação.

“Dentre os quais estão a minuta de denúncia direcionada ao Deputado Estadual Guilherme Antônio Maluf, que traz como assunto anunciado a ‘fiscalização para apuração - requerimento de informações - indícios de informações levantados’, e a minuta de denúncia em nome de Roque Reinheimer direcionada ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado — GAECO, que traz como referência ‘pedido de apuração’".

Ainda no depoimento, José Henrique contou que se reuniu com Roque no Hotel Odara, em 2017, para tratar do assunto, ocasião em que o sócio da Santos ameaçou divulgar um dossiê caso as propinas não fossem pagas.

"Ainda no início do ano de 2017, vim a Cuiabá a pedido de Roque, pois este dizia que era imprescindível a minha vinda, pois ‘o contrato iria acabar’. Essa reunião com Roque ocorreu no Hotel Odara, onde então Roque disse que teria treze deputados ‘em sua mão’ e entregou ao interrogando um dossiê denominado CPI Detran, conforme cópias que junto nesta oportunidade; Roque dizia que ‘essa CPI estaria para ser aberta, e que era a última chance para que a CPI não fosse aberta, dizendo que queria um percentual da empresa FDL/EIG’", diz trecho da oitiva.

Para o desembargador José Zuquim, que mandou prender Roque Reinheimer, as provas demonstram que o mesmo tenta ocultar a participação de outros integrantes da organização criminosa, “seja pela montagem de documentos, pela ameaça, pela extorsão, de modo que sua prisão preventiva é necessária para a garantia da investigação criminal e da instrução processual penal”.

“[A investigação] Demonstra que Roque Anildo Reinheimer tem a atividade criminosa como seu modo de vida e de ‘trabalho’, bem como é pertinente às suas condições pessoais que, como visto, tem atuado sobre outros investigados, valendo-se da própria torpeza para exigir vantagens indevidas”, consta trecho da decisão.

A operação

De acordo com as investigações, entre os meses de julho e agosto do ano de 2009, quando Teodoro Moreira Lopes o “Dóia” ocupava o cargo de presidente do Detran, foi convocado para uma reunião no gabinete do deputado Mauro Savi. No local estavam presentes, além do parlamentar, Marcelo da Costa e Silva e Roque Anildo Reinheimer, ambos investigados no caso.

Na ocasião, Marcelo Silva e Roque Anildo teriam oferecido a Dóia a execução da atividade de registro junto ao Detran dos contratos de financiamento de veículos com cláusula de alienação fiduciária, de arrendamento mercantil, de compra e venda com reserva de domínio ou de penhor dizendo que apresentariam ao então presidente da EIG Mercados.

Conforme, o MPE, na ocasião a empresa se oferecia a formular contrato administrativo com o Detran para prestar o serviço de registro de contratos junto à entidade de trânsito. Na oportunidade, um dos sócios da empresa, a fim de garantir a prestação de serviços, teria se comprometido a repassar o valor equivalente ao pagamento de um mês às campanhas eleitorais do deputado Mauro Savi e do então governador Silval Barbosa.

Os promotores dizem que a promessa teria sido cumprida no valor de R$ 750 mil para cada um dos candidatos, logo após a assinatura do contrato.

Para que a empresa fosse a vencedora do edital, na época o antigo presidente do Detran determinou que a comissão de licitações do Detran confeccionasse o edital de licitação nos mesmos moldes que a empresa FLD Fidúcia - hoje EIG Mercados - já havia vencido no Piauí. Desde então, segundo o MPE, a empresa é responsável pelo pagamento de propinas a organização ciminosa.

Consta nas investigações que após a assinatura do contrato administrativo, "Mauro Savi, Claudemir Pereira dos Santos, Teodoro Lopes e outros investigados se organizaram a fim de garantir a continuidade do contrato, formando uma rede de proteção em troca do recebimento de vantagens pecuniárias da parte da FDL, propina na ordem de 30% (trinta por cento) do valor recebido pela FDL do Detran repassado por intermédio de empresas fantasmas que foram criadas em nome dos integrantes da rede de proteção do contrato".

"Esquema que teve continuidade com a mudança de Governo e a participação de Paulo César Zamar Taques e seu irmão Pedro Jorge Zamar Taques", afirmou o MPE.

Os promotores explicam que no ano de 2015 - quando Silval da Barbosa deu lugar ao atual governador Pedro Taques -, ao ter informações do esquema de recebimento de propinas operado dentro do Detran, Paulo Taques e Pedro Zamar Taques - primos do governador - apropriaram-se do esquema de recebimentos, com ajuda de Valter José Kobori.

Em depoimento colhido junto a um dos proprietários da empresa EIG Mercados Ltda, foi revelado ao MPE que após acertar os pagamentos com a antiga gestão Silval Barbosa a EIG Mercados contratou Valter Kobori como CEO (Chief Executive Officer). Desde então seria ele a pessoa responsável em receber pessoalmente a propina sob título de bônus pelos serviços pessoais prestados a empresa e repassar o dinheiro para Paulo Taques.

Segundo o depoimento as negociações foram feitas antes mesmo do resultado das eleições de 2014 onde Valter Kobori já havia combinado com Paulo Cesar Zamar Taques o auxílio para manutenção do esquema.





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