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Economia
Sexta - 28 de Setembro de 2018 às 09:44
Por: Marianna Peres/Folha Max

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O gasoduto que permite o transporte do gás natural da Bolívia direto para o Distrito Industrial de Cuiabá está prestes a ser bloqueado, por decisão da empresa que detém a autorização para a exploração da estrutura, a GasOcidente Mato Grosso (GOM). A empresa formalizou a decisão de interromper as atividades por tempo indeterminado à Agência Nacional do Petróleo (ANP) e agora deve iniciar os procedimentos para o bloqueio. Isso inclui a queima de todo o gás que está parado na tubulação, um total de 5 milhões de metros cúbicos (m3) , seguida pelo preenchimento do duto com nitrogênio. O procedimento é necessário para evitar acidentes.

O gás que deverá ser incinerado tem um valor de mercado próximo a US$ 925 mil – equivalente a R$ 3,9 milhões. Para as indústrias, esse custo tem um significado muito maior: é um golpe direto na competitividade, por acabar com uma fonte de energia de baixo custo.

A GOM alega não ter mais interesse na exploração do gasoduto a partir do momento em que a Petrobras deixou de atender à Usina Termelétrica Mario Covas, em Cuiabá, que pertence à Âmbar Energia. Tanto a GOM quanto a Âmbar pertencem ao Grupo J&F.

O contrato com a Petrobras era necessário porque a Bolívia não tem disponibilidade contratual para fornecer o gás necessário para o funcionamento da usina – mas tem um contrato de fornecimento com a estatal. Com isso, uma fração do gás comprado pela Petrobras era revendido à Âmbar. Após desdobramentos de denúncias relacionadas ao grupo J&F na Operação Lava-Jato, a Petrobras suspendeu o acordo, alegando questões de compliance.

Empresários da indústria, do setor de postos de combustíveis, reparadores automotivos, taxistas e motoristas de Uber querem que a GOM volte a fechar um contrato para o transporte do gás até Cuiabá – onde a empresa GNC Brasil distribui o produto para indústrias e postos de combustíveis, que, por sua vez, o revendem para taxistas e outros motoristas. Isso porque, independentemente do acordo da Petrobras com a Âmbar, se o contrato estiver em andamento o governo boliviano libera o envio de quantidades menores do gás sempre que existir sobra, o que é suficiente para o abastecimento do parque industrial e postos de combustíveis, no cenário atual.

A demanda tem o apoio da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt), do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Mato Grosso (Sindipetróleo) e da Companhia Mato-grossense de Gás (MT Gás).

O presidente da MT Gás, Emmanuel Almeida Figueiredo Júnior, explica que a GOM chegou a abrir espaço para a renovação do contrato de transporte do gás, há quase um ano, porém com a tarifa majorada em mais de 10 vezes. Como houve questionamento da MT Gás sobre a majoração, o assunto se estendeu até fevereiro deste ano, quando a GOM informou que não tinha mais interesse em renovar o contrato. Desde então, a liberação do transporte de gás foi obtida por meio de decisões judiciais – e está suspensa desde 10 de julho.

Para o presidente da Fiemt, Jandir Milan, a liberação do gasoduto não pode ficar atrelada ao funcionamento da usina. “Entendemos que esse impasse só existe por se tratarem de empresas do mesmo grupo econômico, que defendem os mesmos interesses, enquanto diversos setores ficam à mercê de decisões unilaterais”, afirma.

AFETADOS - A suspensão do envio do gás afeta diretamente as indústrias que se estruturaram para usar o Gás Natural como fonte de energia. O resultado do desabastecimento são empresas paradas ou funcionando com Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), que chega a custar o triplo do valor do gás natural.

Atualmente, se a GOM liberasse o uso apenas do gás que já está na tubulação – e que será incinerado em breve – já seria possível atender ao consumo atual por cerca de quatro anos – já que, em média, vinham sendo consumidos 100 mil m3 por mês (considerando indústrias e abastecimento de veículos).

Porém, um estudo elaborado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai MT) para a MT Gás mostra que o potencial é pelo menos 10 vezes maior. Após contato com mais de 40 indústrias de Cuiabá e Várzea Grande, a pesquisa indica uma demanda potencial que pode chegar aos 3 milhões de m3 de gás natural por mês para indústria na região metropolitana.

Apenas no Distrito Industrial de Cuiabá, a estimativa é de que mais de 100 indústrias passariam a usar o gás natural se estivesse disponível – e se a tubulação para distribuição fosse executada. Hoje, cinco indústrias dependem do gás. Elas chegaram a paralisar as atividades por 15 dias e agora arcam com o custo mais alto do GLP.

Ainda de acordo com a MT Gás, nos estados onde o abastecimento do gás natural é firme, a industrialização avançou mais. Em Mato Grosso do Sul, o consumo chega a 700 mil m3 por dia – cerca de 20 milhões de m3 mensais.

Esses dados mostram que é improcedente a afirmação da GOM de que não vale a pena continuar a operação do gasoduto sem que a usina térmica esteja em funcionamento. “O modelo de negócio atual faz com que o foco da GOM seja apenas a usina, negligenciando o grande mercado potencial existente”, afirma o presidente da Fiemt, Jandir Milan.

POSTOS DE COMBUSTÍVEL - Entre os postos que possuem bombas para o abastecimento com gás natural, o cenário é de incertezas. Luiz Flávio Blanco Araújo é proprietário de um posto que está com um terço da capacidade parada – das seis bombas de seu estabelecimento, duas são de gás natural. Com a nova suspensão do fornecimento, veio o impasse: ou demite parte do pessoal e mantém as bombas à espera da regularização do fornecimento, ou desiste e substitui as bombas de gás natural pelas de combustíveis tradicionais.

Nenhuma das alternativas é bem vista pelo empresário, que defende o fornecimento firme e confiável do gás. Se ele desistir, o negócio tende a morrer, pois hoje só existem dois postos que oferecem gás natural da capital – e já foram 12. Em Mato Grosso do Sul, são oito postos na capital, Campo Grande, e um em Três Lagoas.





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