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Comportamento
Domingo - 20 de Janeiro de 2019 às 10:23
Por: Vinicius Lemos/RD News

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Arquivo Pessoal
José Nilton e a irmã Nara, atualmente, depois do sufoco da doença e do tranplante: gratidão
José Nilton e a irmã Nara, atualmente, depois do sufoco da doença e do tranplante: gratidão

o dia 10 de janeiro de 2013, a diagramadora Nara Regina de Castro, 53 anos, recebeu aquele que considera o mais importante presente que ganhou do único irmão: um rim. O gestor ambiental José Nilton da Silva, 55, afirma que não teve dúvidas de que deveria fazer a boa ação, ao ver a caçula sofrendo com problemas renais. A relação de cuidado que ele mantém com Nara, desde a infância, ficou ainda mais forte após o ato.

Nara descobriu que sofria de insuficiência renal crônica em 2005, durante um exame de rotina. O problema trouxe mudanças na vida da diagramadora. Ela, que afirma que sempre teve uma vida saudável, passou a ser ainda mais cuidadosa no cotidiano. Para contornar a dificuldade, passou a evitar sal ou açúcar em excesso e outros alimentos que pudessem prejudicá-la.

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nara

Muita emoção no quarto do hospital, após o transplante e de Nara receber o presente mais importante o irmão José Nildo poderia ter dado a ela na vida

Não pensei duas vezes

José Nilton

O maior medo dela era ter que passar por hemodiálise, procedimento ao qual são submetidos pacientes com problemas renais avançados, onde uma máquina faz o trabalho do órgão. “Queria evitar ao máximo ter de fazer hemodiálise, porque via o quanto as pessoas que faziam sofriam com isso. Não queria passar três dias da semana fazendo esse tratamento por quatro horas”.

Com o passar dos anos, a saúde de Nara ficou ainda mais comprometida em decorrência do problema nos rins. “Eu sentia muita indisposição e dor de cabeça constante. Passei a ficar muito tempo em casa. Evitava até encontrar conhecidos”, diz.

Foi muito lindo, mas também me deu muito medo. Era uma grande responsabilidade, porque me sentia responsável pela vida dele, principalmente porque ele sempre foi uma pessoa saudável

Nara Castro

Em 2011, teve que suspender todas as atividades. Na época, se afastou do trabalho por mais de um ano. “Nesse período, fui a Porto Alegre, para fazer exames, e vi que a hemodiálise era uma das poucas alternativas que restavam. A outra era o transplante, mas a fila era grande e eu somente poderia entrar se estivesse fazendo hemodiálise”, lembra Nara.

A busca por um rim

A diagramadora chegou a cogitar iniciar a hemodiálise, mas logo desistiu. O irmão dela, que mora em Porto Alegre, e o marido de Nara se dispuseram a doar um rim para a mulher.

“Aqui em Porto Alegre, conversamos. Me ofereci para doar um rim. Para mim foi algo muito natural. Não há o quê explicar. Não foi uma decisão complicada ou demorada. Foi algo normal. Não pensei duas vezes”, relata José Nilton.

O rim do irmão foi o mais compatível com Nara, segundo os exames. Os dois fizeram todos as avaliações e os médicos apontaram que seria possível que José Nilton doasse o órgão para a diagramadora.

Nara revela ter se emocionado ao saber que o irmão doaria o rim para ela. “Foi muito lindo, mas também me deu muito medo. Era uma grande responsabilidade, porque me sentia responsável pela vida dele, principalmente porque ele sempre foi uma pessoa saudável”.

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Nara

Nesta foto, Nara já com problemas de saúde, mas antes do transplante

“Eu sabia que depois que ele doasse, não teria volta. Deu um aperto em meu coração, porque ele teria de retirar um órgão, mesmo sem estar doente”, acrescenta.

Nos dias que antecederam o transplante, a diagramadora conta que se lembrou da época em que eles eram crianças e o irmão era extremamente zeloso com ela. "Somos apenas nós dois, filhos do mesmo pai e mesma mãe. Então, ele sempre cuidou de mim. Da nossa mãe, de 83 anos, ele cuida até hoje", relata. Os dois afirmam que mantêm um laço forte. Eles moraram juntos com a mãe durante a infância e adolescência. "Só mudamos de casa depois de nos casarmos", revela Nara, que nasceu em Porto Alegre e na vida adulta veio para Cuiabá.

A doação

Nilton passou por novos exames ao aceitar se doador. Ele também fez acompanhamento psicológico. “Para ter certeza de que não iria mudar de ideia”, comenta Nara. Em todos os momentos, o gestor ambiental reforçou o interesse em ajudar a irmã.

Na manhã de 10 janeiro de 2013, em um hospital de Porto Alegre, Nara e Nilton começaram os preparativos para a cirurgia. Momentos antes do procedimento, a médica fez o último questionamento ao gestor ambiental sobre a decisão de passar pelo procedimento. “Eu disse pra ela que não tinha dúvidas. Era óbvio que eu doaria meu rim. É a minha irmã”, relata Nilton.

Horas mais tarde, os irmãos passaram pela cirurgia, que foi realizada sem problemas. “Deu tudo certo. O meu rim voltou a funcionar no mesmo dia. Um dos fatores que ajudaram a correr tudo bem é que o órgão era do meu irmão, então era ainda mais compatível que qualquer outro”, diz Nara.

Nilton também não teve nenhuma dificuldade após o operatório. “Tive apenas algumas limitações por conta da cirurgia, durante alguns meses, mas depois passou”, revela o homem. Ele tomou remédios somente um período depois da cirurgia, depois suspendeu as medicações. “Hoje estou muito bem. A única diferença é que engordei, mas sei que isso aconteceria independente da cirurgia, porque tenho tido uma vida muito atribulada, por conta do trabalho”.

Ele ressalta que se sentiu bem depois de ajudar a irmã. Porém, frisa que não considera que tenha feito algo que deva ser considerado extraordinário. “Para mim foi uma oportunidade de ajudar a minha irmã. Sei o quanto foi vital para ela. Mas não gosto de transformar isso em uma dimensão muito grande. Foi uma atitude de irmão”, declara. Atualmente, ele faz exames e acompanhamento médico constante, para checar a saúde.

Nara toma remédios diariamente e faz acompanhamento médico. “O transplante não representou a cura, mas uma melhora muito grande na qualidade de vida”, pontua.

Seis anos. Eu, meu irmão e o nosso rim. Gratidão eterna, mano

Nara, em legenda de foto no Face

Caso não tivesse recebido o órgão do irmão, Nara avalia como estaria a sua vida. “Creio que eu estaria sofrendo, porque estaria fazendo hemodiálise há uns cinco anos, caso tivesse conseguido resistir às complicações dos problemas renais”, diz.

Mãe de um casal de filhos, hoje Nara é avó e agradece ao irmão por ter saúde para brincar com os dois netos.

Em todo dia 10 de janeiro, ela publica um agradecimento ao irmão pelo gesto. Neste ano, mais uma vez ela publicou a foto dos dois abraçados, logo após o transplante. “Seis anos. Eu, meu irmão e o nosso rim. Gratidão eterna, mano”, escreveu.

Transplante de rins em MT

Desde 2009, Mato Grosso suspendeu os transplantes de rins no Estado, devido a problemas administrativos e estruturais. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, a expectativa é de que os procedimentos sejam retomados no início deste ano, após o Ministério da Saúde autorizar o estado a dar início a um Centro Transplantador de Rim.

A pasta informou que neste momento está finalizando a etapa de credenciamento do serviço, para a regularização da oferta do procedimento por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Desta forma, Mato Grosso poderá passar a receber órgãos do próprio estado e de outras regiões.

A expectativa é de que os procedimentos voltem a ser ofertados a partir deste mês. O prazo de retorno dos transplantes, porém, poderá ser postergado, caso ainda não haja a estrutura adequada.





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