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Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Quarta - 11 de Setembro de 2019 às 15:25
Por: Rose Domingues Reis/Da Assessoria

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A saúde mental ainda é o ‘patinho feio’ da saúde pública na avaliação da psicóloga e chefe da Superintendência de Políticas sobre Drogas (Supod), vinculada à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), Eunice Teodoro. Ela trouxe à audiência pública sobre depressão, realizada na tarde desta terça-feira (10), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, a demanda urgente de se estruturar a rede de atenção aos pacientes, prioritariamente na faixa etária de risco entre 15 e 25 anos e que está em fase escolar.

“Hoje o suicídio é a segunda maior causa de morte entre os jovens no Brasil, mas o que temos é um atendimento psicológico e psiquiátrico disponível em presídios, por exemplo, mas não há nenhum serviço específico para as nossas crianças e os adolescentes. Por isso, trago aos deputados uma proposta de tornar obrigatória a estruturação da rede de proteção à depressão e ao suicídio nas escolas”, pontuou a servidora da Sesp.

O deputado estadual e médico, Dr. Gimenez (PV), organizador do evento, disse que a proposta da Comissão da Saúde da Assembleia é esta. Ele, inclusive, apresentou nesta semana um projeto de lei que busca fortalecer o trabalho preventivo nas escolas públicas estaduais, por meio de uma parceria entre Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e Saúde (SES). “Inicialmente não há um custo elevado, pois se trata de capacitar e treinar os professores para que possam identificar os primeiros sinais da depressão e fazer os encaminhamentos necessários”.

Na avaliação do médico e presidente da Associação Mato-grossense de Psiquiatria, Carlos Periotto, o estado, atualmente, não dispõe de um sistema para atendimento a pessoas em risco iminente de suicídio ou que tentaram suicídio, o que seria facilmente contornado com treinamento e orientações especializadas na rede de saúde. Ele pontou que a falta de organização da saúde pública e particular vem gerando aumento dos números de suicídio que chegam a 10 mil casos todos os anos, mas que podem ser três vezes maior devido à subnotificação.

“Em média, 80% dos casos de suicídio envolvem homens e 20% mulheres, no Brasil, as estatísticas vêm subindo significativamente entre os jovens e mata muito mais que uma guerra. Ainda assim quando alguém está com problemas não sabemos o que fazer com ela, onde levar, como acessar o tratamento e, principalmente, há um estigma grande ainda com as doenças mentais que deve acabar”, disse o especialista.

Comunicação humanizada - Carlos Eduardo Laterzza Oliveira, representante do Centro de Valorização da Vida (CVV), frisou que após a instalação de uma linha de atendimento gratuito (188), o número de ligações aumentou de 1 milhão por ano, em 2016, para 3 milhões no ano passado, porém, isso não vem sendo acompanhado pelo crescimento de voluntário para se revezarem nos 110 postos brasileiros, 24 horas diariamente. “Temos uma carência muito grande de voluntários”.

Ele explicou que quem integra o CVV passa por um curso de formação que capacita para ouvir sem intervir ou ‘dar palpites’, é um tipo de comunicação em que o voluntário se dispõe a escutar, por acreditar que a pessoa conseguirá se reestruturar emocionalmente para enfrentar os próprios problemas, após o momento de desabafo.

“Ouvir é um aprendizado que passa necessariamente pelo não julgamento e pela empatia, ou seja, se colocar no lugar do outro, acredito que todos nós podemos adotar essa postura e tornar a convivência mais humanizada onde estivermos”.

O empresário Hiran Melo perdeu a irmã por suicídio em janeiro de 2018, ela pulou do 10º andar de um prédio. Mesmo após esse período (posvenção) de 1 ano e meio, ele sente que a família vive um dia de cada vez, a dor ainda é enorme, pois se tratar de um luto mais demorado e dolorido em que todos se sentem muito culpados. É como se tivessem que ter feito algo para evitar a morte e não fizeram.

“Convivemos diariamente com a culpa, porque depois que acontece, a gente rememora tudo e estuda o assunto, percebe que havia muitos sinais, ou seja, a pessoa estava pedindo ajuda e o que eu fiz? Quis dar ‘chacoalhão’, colocar o meu ponto vista, achava que ela queria fazer chantagem emocional ou ‘aparecer’. Hoje ofereço o meu depoimento e peço para as pessoas não julgarem, que sejam mais amorosas”.

O psicólogo Douglas Amorim orientou que nem sempre quem está com depressão tem uma postura de tristeza e introspecção, pode ser alguém que aparenta estar produtivo e sadio, mas que, no fundo, se sente muito frustrado, cansado e sozinho. Quando há risco de suicídio, em geral a pessoa verbaliza que a vida não vale mais a pena e que pensa em morrer, por isso é importante estar atento.

“Nós todos podemos passar por esses momentos de depressão, por isso devemos cultivar uma rede de proteção com amigos que nos apoiam e ouvem, e também é importante buscar ajuda profissional quando necessário. Assim como quando temos uma virose, dor de estômago ou outro problema físico vamos ao médico, na saúde mental devemos ter a mesma postura, não há do que se envergonhar”.

Números


A cada 3 segundos uma pessoa no mundo tenta o suicídio, e a cada 40 segundos, uma pessoa consegue dar fim à própria vida. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 90% dos casos poderiam ser evitados a partir de uma rede de apoio estruturada, que inclui saúde pública, família, amigos e trabalho.

Cerca de 320 milhões de pessoas de todas as idades sofrem com depressão, segundo a OMS. No Brasil, mais 11 milhões de pessoas no Brasil afetadas pela doença, entre crianças e adultos, um índice que crescente que ainda significa um tabu, considerado por muitos como ‘frescura, fraqueza ou falta de Deus’.





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