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Meio Ambiente
Segunda - 07 de Outubro de 2019 às 08:27
Por: Allan Pereira/RD News

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Gccom
Bombeiro, em área atingida por chamas, usando equipamentos necessários no difícil combate ao fogo na estiagem
Bombeiro, em área atingida por chamas, usando equipamentos necessários no difícil combate ao fogo na estiagem

Corpo de Bombeiros já atuou em mais de 2,1 mil ocorrências de fogo até agosto deste ano. A média é de 8 por dia. São tantos casos que a corporação tem tido dificuldade de atender a todos os chamados.

Neste contexto, de acordo com o comandante-geral, coronel Alessandro Borges, o jeito é escolher quais são mais urgentes.

Apesar do fim do período de estiagem, ainda é proibido atear fogo em área rural, pois o Governo prorrogou o prazo de proibição. Também suspendeu novas autorizações para desmate, até para 30 de novembro.

Gilberto Leite

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Comandante-geral do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, coronel Alessandro Borges

“Mato Grosso tem 903 mil km², três biomas distintos (Amazônica, Cerrado e Pantanal) e dimensões continentais”, aponta o tenente-coronel Dércio Santos da Silva, coordenador-adjunto geral do Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional do Estado de Mato Grosso (CIMAN), que integra diversos órgãos públicos de combate a incêndios florestais e urbanos.

Dércio explica que algumas ocorrências exigem mais esforço e tempo, como o incêndio no Cahapda, que durou 4 dias de combate, mas, mesmo assim, aparecem nas estatísticas como apenas uma ocorrência. "Os números ocultam algumas informações muito importantes e não somam de forma justa o esforço dos militares no combate ao fogo"

O incêndio na Chapada destruiu cerca de 5 mil hectares e foi controlado dia 2 de setembro.

Além da ocorrência no Parque da Chapada, o militar cita pelo menos dois casos que duraram dias de combate: o incêndio no Parque Ricardo Fraco, em Vila Bela da Santíssima Trindade, e na Serra da Petrovina, em Pedra Preta.

Os números ocultam algumas informações muito importantes e não somam de forma justa o esforço dos militares no combate ao fogo (...) Esse ano não pode passar apenas como adverso ou difícil, mas um grande ensinamento. O Estado fez muito e de forma eficiente com os recursos disponíveis

Tenente-coronel Dércio Silva

Cada caso é um caso, e o enfretamento é feito de forma estratégica. “Nós fazemos aqui uma análise tática para poder ter um emprego efeito e o resultado pretendido. A questão é bem técnica mesmo. Uma análise do território e dos recursos que você tem”, explica.

Dados oficiais apontam que em abril deste ano haviam 29 focos de fogo florestais e urbanos. Em maio, a quantidade já saltou para 126. E, no começo do período proibitivo, em junho, havia 443 focos de calor. Em julho e agosto, foram 667 e 809 casos respectivamente. “É uma coisa absurda. É uma coisa absurda mesmo”, enfatiza.

Apesar dos incêndios em unidades florestais chamarem grande atenção, a maioria dos focos, ou seja, 70% deles, ocorre em propriedades particulares. Menor parte é registrada em assentamentos rurais (6,23%) e em áreas de conservação (4,46%).

Durante todo o período de estiagem, Mato Grosso praticamente liderou os números absolutos de focos de calor, com mais de 27,8 mil focos de 1º de janeiro até este domingo (5). Os dados são do Inpe. Um aumento de mais de 76% em relação ao mesmo período do ano passado, que teve 15,8 mil registros.

O sistema do Inpe aponta quaisquer pontos da superfície da terra que estejam acima de 47º graus Celsius. O que, muitas vezes, não significa fogo.

O tenente-coronel Dércio não questiona os dados, mas assegura que, proporcionalmente à sua área total, Mato Grosso não é o Estado que mais queima, principalmente na Amazônia Legal. Explica que, se os focos de calor forem divididos pela dimensão territorial, fica em quinto lugar desde o começo do período proibitivo. A proibição começou no dia 15 de julho.

quadro fogo

Estrutura

Para fazer frente ao trabalho de combate ao fogo, o Corpo de Bombeiros usa 87 veículos, dois aviões, um helicóptero e 1.327 combatentes, que se revezam entre 350 e 400 homens por dia. Somam-se a eles brigadistas do Ibama e do Instituto Chico Mendes, além de brigadas municipais organizadas por prefeituras. Por decisão do Governo Federal, o Exército também.

quadro fogo

A corporação tem 23 unidades fixas e 18 unidades móveis de resposta onde não há uma base dos bombeiros.

Foram aplicadas mais de R$ 213,5 milhões em multas em infratores. A penalidade ainda não exclui os futuros processos na Justiça em que suspeitos podem ser condenados a pagar indenizações por dano ambiental.

O tenente-coronel Dércio relata que resultados preliminares dos laudos indicam que o uso do fogo é para desmate.

Pelo artigo 41 da Lei de Crimes Ambientais, provocar incêndios em matas ou florestas pode resultar em uma pena variável de dois a quatro anos e multa, em caso de crime doloso (intencional), ou de seis meses a um ano e multa, se culposo. O valor da multa varia entre R$ 1 mil e R$ 7,5 mil por hectare.

Alívio com as chuvas

O tenente-coronel Dércio comenta que, com a volta das chuvas, o número de ocorrências reduz. O "alívio", segundo ele, proporcionou uma melhor redistribuição dos bombeiros para combater os incêndios em duas áreas ainda tidas como críticas no Estado: a região do Araguaia e do Pantanal.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o Araguaia e o Pantanal ainda não foram agraciados com a chuva. As duas áreas ainda estão mais claras, conforme mostra imagem do satélite do último domingo (5), o que significa que não choveu com tanta abundância. Ao contrário das regiões em verde que mostram os pontos já caiu chuva e a umidade do ar tem melhorado.

“Setembro foi severo”, comenta Dércio sobre o último mês da estiagem. Mas os esforços do Corpo de Bombeiros ainda devem perdurar até o final do mês de outubro, enquanto a chuva não se distribuir por todo o Estado, melhorando o clima e a umidade do ar. Ficarão ainda em alerta até o dia 30 de novembro, quando acaba o período proibitivo de queimadas.

O tenente-coronel espera que os incêndios de 2019 sirvam para que a corporação cresça mais. “Esse ano não pode passar apenas como adverso ou difícil. O meu sentimento é que deve passar como um grande ensinamento para obter mais recursos, se integrar mais e ter a visão que o Estado fez muito e de forma eficiente, com os recursos disponíveis”.





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