No campo e nas quadras
A trajetória de Macedo Filho, a "Enciclopédia do Esporte" de MT Nascido em Guiratinga, o ex-contínuo criou programas esportivos e competições de sucesso

Quando criança, Macedo Filho costumava jogar futebol como goleiro no time da escola em que estudava em Guiratinga (a 330 km de Cuiabá). Na adolescência, largou as luvas para atuar na beira do campo, como narrador da Rádio Educadora da cidade.

Aos 18 anos, se mudou para Cuiabá em busca de uma vida melhor. Chegou a ser zelador de uma concessionária de tratores, antes de surgir uma oportunidade na Rádio A Voz do Oeste. Assim começava a carreira de um dos mais importantes cronistas esportivos de Mato Grosso, que chegou a dominar, com folga, a audiência nas coberturas esportivas na década de 80.

De lá para cá, dedicou a sua vida ao esporte, criando e divulgando diversos campeonatos. O tempo que passou no meio esportivo, aliado a sua capacidade de organização, levou-o a construir um dos maiores acervos do futebol mato-grossense. O que não está na gravado em fotos ou vídeos, Macedo Filho preserva na memória prodigiosa.

“Quando vim para Cuiabá em 1970, não tinha um objetivo definido do que queria ser. Morava num hotel no centro da cidade e fiquei sabendo que a Rondomaq abriria uma filial na Rua 15 de Novembro. Foi ali que consegui meu primeiro emprego em Cuiabá. Eu varria, passava pano, fazia café, enfim, tudo”, conta.

O timbre de voz, no entanto, não passou despercebido pelos colegas, que logo o incentivaram a retornar ao rádio, revivendo seus tempos de Guiratinga.

“Vasculhei as emissoras de rádio e fui rechaçado por todas. Até que um dia, em 1972, um amigo em comum me conseguiu um teste na Rádio Cultura de Cuiabá. Fiz e passei, mas como não tinha promessa de salário, resolvi sair”, disse.

Victor Ostetti/MidiaNews

Jornalista digitalizou história dos clubes de Mato Grosso

“Meses depois encontrei uma amiga que era casada com um graduado da Rádio Voz Oeste e ela conseguiu um lugar para mim lá. Cresci dentro da Voz Oeste, com um programa esportivo. Eu entrava no ar as 11h30 e ia até 17h30”.

Pouco tempo depois, Macedo Filho já estava estrando na televisão pela TV Centro América, afiliada à Rede Globo em Mato Grosso que dava seus primeiros passos.

“Na época em que trabalhava na Voz Oeste, a equipe de esporte pertencia a Eugênio de Carvalho, que também era diretor comercial da TV Centro América. O Eugênio fazia um programa na TV no domingo só para dar os resultados do Campeonato Estadual e da Loteria Esportiva. Um dia ele foi viajar e me pediu para substituí-lo. Eu apresentei e fiquei lá de 1973 até 1980”, lembra.

Após três anos afastado, Macedo retornou à televisão já pela Brasil Oeste, afiliada da Rede Bandeirantes em Mato Grosso, com o programa "Poliesportes", aquele que é considerado o maior sucesso de sua carreira, com liderança constante na audiência.

Foi através do programa que Macedo Filho impulsionou o esporte armador em Mato Grosso, com a criação de vários campeonatos, como o histórico "Oito Vai ou Racha", que realizava campeonatos amadores de futebol com transmissão ao vivo, numa época em que a tecnologia era pouco acessível no Estado.

Ele lamenta que, atualmente, Cuiabá seja uma "serra pelada" no setor.

"O Macedo Filho não tem mais tesão para isso. Falta alguém para fazer. Eu fico observando e não vejo ninguém".

Impulsionamento do esporte armador

Conforme Macedo Filho, o campeonato do "Oito Vai ou Racha" contava com a participação de cerca de 170 times.

“Os jogos ocorriam sempre no domingo de manhã e todo domingo nós transmitíamos uma partida. O estádio ficava abarrotado de gente”, recorda.

Macedo Filho também criou o Torneio Centro Oeste de Futsal, que classificava a equipe vencedora para o Campeonato Brasileiro.

“Eu fiz um Brasileiro aqui em 1993, trazendo os 14 melhores times do Brasil para decidir o título nacional no ginásio da UFMT, que comporta entre 5,5 mil pessoas. Durante todo o período da competição, nós tivemos um ginásio cheio. A partir de tal hora, a Polícia não deixava mais ninguém entrar porque não cabia”.

“Eu me lembro que na final, que foi entre um time de Santa Catarina e um do Paraná, havia mais de 4 mil pessoas fora do ginásio. O jogo foi transmitido para todo o País pela TV Brasil Oeste”, acrescenta.

Victor Ostetti/MidiaNews

Macedo Filho revolucionou o esporte armador em Mato Grosso

Naquela época, o jornalista ainda inventou a "Copa Novos Amigos", disputada por empresas que possuíam campo próprio.

“Entraram a Coca-Cola, Sadia, TrêsCinco, Café Brasileiro... Os jogos ocorriam no sábado à tarde e depois, a empresa que recebia a partida fazia um churrasco para todos”, lembra.

História do Futebol

Com 50 anos de profissão, Macedo Filho é dono dos maiores acervos do futebol mato-grossense e resolveu digitalizar parte da história do esporte do Estado.

No ano passado, ele lançou o DVD Verdão Memória Viva, que contra a história do Estádio Governador José Fragelli.

“O DVD tem 47 minutos e mostra o início, o meio e o fim do Verdão. Tudo inicia com o governador José Fragelli no 7º andar do Palácio Alencastro reunindo as autoridades mato-grossenses para assinar o ato de desapropriação da área para construir o estádio. Depois mostra a pré-inauguração com o jogo entre Fluminense e a Seleção Mato-Grossense. Posteriormente a inauguração, grandes jogos, até o último caminhão saindo com a grama do Verdão para jogar sabe-se lá onde”, recorda, referindo-se à transformação do estádio em arena da Copa.

O jornalista também digitalizou a história do Mixto, do Operário Várzea-Grandense e do Dom Bosco, os times que se rivalizavam no auge do futebol mato-grossense, quando o Verdão recebia até 40 mil pessoas em um jogo.

Em breve, ele promete lançar um DVD com as finais do Campeonato Mato-Grossense de 1983 até 2019.

“Esse DVD será lançado agora em março. Uma obra em três volumes que vai 1983 até 1990, de 1991 até 2008 e 2009 a 2019”, promete.