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Agronegócios
Sábado - 26 de Setembro de 2020 às 07:46
Por: Eduardo Gomes/Diário de Cuiabá

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O objetivo é evitar que negócios sejam prejudicados pela imagem negativa provocada pelo desmatamento e as queimadas
O objetivo é evitar que negócios sejam prejudicados pela imagem negativa provocada pelo desmatamento e as queimadas

Com a intensificação das pressões externas, tanto de empresas, governos e fundos de investimento, as exportadoras brasileiras do agronegócio aceleraram a adoção de práticas sustentáveis.

O objetivo é evitar que seus negócios sejam prejudicados pela imagem negativa provocada pelo desmatamento e as queimadas. BRF, Marfrig, Minerva, JBS e Bunge já adotam medidas ligadas à sustentabilidade, de olho no mercado externo.

O agronegócio também vem tentando se dissociar do atual governo, que inicialmente era visto como favorável pelo setor e cujo discurso contra maiores regulações ambientais acabou se mostrando prejudicial aos exportadores.

“As queimadas passam uma imagem negativa do Brasil para o mundo. Fica parecendo que todo produto brasileiro é igual. O resultado acaba sendo ter de oferecer com desconto um produto de alta qualidade e de bom preço. Se o Brasil não cria argumentos para contrapor essas imagens, sai perdendo”, alerta José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Neil Peixoto, vice-presidente de Sustentabilidade da BRF, destaca que as empresas que não seguirem práticas sustentáveis terão dificuldade para obter recursos lá fora e até para exportar: “Se as práticas não estiverem de acordo com as mais avançadas políticas ambientais, a primeira perda é do capital externo. Além disso, pode criar barreiras para os produtos no mercado externo. Cada vez mais, os consumidores demandam que os produtos sigam as cartilhas de sustentabilidade. Sustentabilidade não é oportunismo, é uma prática necessária”.

A BRF se associou à Emerging Markets Investors Alliance, organização americana que educa investidores globais sobre as questões ambientais.

Já a Marfrig é o primeiro frigorífico brasileiro a figurar na Science Based Targets, iniciativa internacional que monitora as empresas que se comprometem em reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE).

A meta é reduzir em 43% as emissões que vêm do processo produtivo e do consumo de energia elétrica até 2035, com base no patamar registrado em 2019.

Para isso, em meados do ano a empresa anunciou várias medidas, como o Plano Marfrig Verde+.

Este prevê que, até 2030, toda a cadeia produtiva seja sustentável e não cause desmatamento. Isso implica o controle de toda a cadeia de suprimentos, inclusive dos chamados fornecedores indiretos. Foi criada ainda uma linha de carne carbono neutro, em parceria com a Embrapa.

“Vamos financiar produtores com R$ 500 milhões em recursos próprios nos próximos cinco anos. E estamos desenvolvendo mecanismos junto aos bancos para destravar crédito a esse segmento. É preciso ainda capacitação técnica e tecnologia para monitorar a cadeia”, diz Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade e Comunicação da Marfrig.

Ele ressalta que a empresa conversa regularmente com investidores para esclarecer dúvidas e divulgar suas ações. Tanto que, na terça-feira, a agência de classificação de risco Fitch elevou a nota da Marfrig de BB- para BB, citando fatores financeiros e ambientais.

Pianez, porém, admite que o cenário da pecuária nacional impacta a competitividade da carne brasileira: “O Brasil tem 2,6 milhões de produtores e essa cadeia não é toda rastreada. O Uruguai tem 11 milhões de cabeças de gado 100% rastreadas. Com isso, o Uruguai está em 12 mercados internacionais a mais que o Brasil, com o gado com preço entre 25% e 30% maior que brasileiro”.

A Minerva Foods, por sua vez, iniciou em agosto testes com uma ferramenta para melhorar a rastreabilidade e o monitoramento dos rebanhos. O objetivo é mapear todos os fornecedores diretos no país até o fim do ano, explica Taciano Custódio, diretor de Sustentabilidade da empresa.

“O debate sobre sustentabilidade não é um modismo. As empresas já perceberam que, adotando medidas de preservação ambiental, vão se diferenciar e se colocar de forma positiva no cenário internacional”, afirma Annelise Vendramini, coordenadora do Programa de Finanças Sustentáveis do Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces).

A Bunge, uma das maiores produtoras de soja do mundo, adotou há cinco anos a meta de eliminar o desmatamento em toda a sua cadeia até 2025. Hoje, todas as compras diretas de grãos da companhia são rastreáveis.

Na pauta de exportações brasileira, o setor agrícola respondeu por 50,34% das vendas totais entre janeiro e agosto deste ano. O complexo soja ficou com 21,9% do total exportado, e as carnes, com 8,16%.

“O Brasil é protagonista nessa área. Não podemos nos transformar em coadjuvantes. Se acontecer, será por incompetência nossa”, diz Castro.





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