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Domingo - 18 de Abril de 2021 às 09:22
Por: Bruna Barbosa/Midia News

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Reprodução/Instagram
Nas redes sociais, jovem modelo tem quase 9 mil seguidores e aborda temas como capacitismo
Nas redes sociais, jovem modelo tem quase 9 mil seguidores e aborda temas como capacitismo

Os cabelos cacheados e ruivos da modelo cuiabana Zannandra Fernandez, de 19 anos, chamam atenção de quem vê suas fotos, em que esbanja beleza e desenvoltura. Por trás das imagens, a jovem, que é cadeirante desde que nasceu, enfrenta os desafios do mundo que ainda não prioriza a inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD).

Nas redes sociais, ela tenta abordar os temas com bom humor em pequenos vídeos publicados para os quase 9 mil seguidores de seu Instagram.

Em um deles, Zannandra interpreta sua reação quando as pessoas dizem que ela "bonita demais e nem parecer ser cadeirante".

Já em outro vídeo, a jovem reage quando alguém lhe dá parabéns em situações comuns, como estar em um bar com os amigos, apenas pelo fato de ela ser PcD.

Para ela, o comportamento é reflexo de uma sociedade falha.

"Não quero parabéns por ter tido que me esforçar três vezes mais para ultrapassar barreiras criadas por quem me parabeniza. Isso não é bonito, é um reflexo de uma sociedade falha", diz.

Prestação de serviço para PcD

Ao MidiaNews, Zannandra compartilhou uma das situações mais recentes que escancaram a falta de inclusão.

Ansiosa para tirar a primeira habilitação, foi em busca de autoescolas que oferecem o serviço para PcD em Cuiabá: voltou para casa frustrada.

Na ocasição, foi informada de que o processo custaria R$ 3,4 mil. Como já tem "experiência" com este tipo de acontecimento, decidiu esperar e procurar por outro lugar.

O mesmo já se repetiu outras vezes quando Zannandra buscou por serviços básicos.

Uma diferença de mais de R$ 1,4 mil da carteira convencional que seria para carro e moto. Colocam valores absurdos, aproveitam do fato de que em Mato Grosso existem poucos lugares que prestam esse serviço"

"Até nisso somos explorados. Em todo tipo de serviço, vou preparada para sair com provas caso precise recorrer e isso é muito exaustivo. Não deveria precisar fazer isso", lamentou.

No caso da carteira de habilitação, Zannandra criticou o fato do valor ofertado a ela ser cerca de R$ 1,4 mil mais caro que o convencional.

A jovem ainda explicou que as autoescolas usam como "justificativa" dos preços altos o fato de precisarem de carros adaptados, por exemplo.

"Não aceitei por ter contato com muitos PCDs, sei dos valores e do processo. É uma diferença de mais de R$ 1,4 mil da carteira convencional que seria para carro e moto. Colocam valores absurdos, aproveitam do fato de que em Mato Grosso existem poucos lugares que prestam esse serviço e colocam valores abusivos por não termos opções.

Ativismo nas redes sociais

Além das fotos dos ensaios fotográfios e trabalhos no mundo da moda, a jovem também usa o espaço das redes sociais para expor a realidade de ser uma pessoa com deficiência no Brasil.

Zannandra relatou que chegou a ter uma recepção conturbada por seguidores que não gostaram do conteúdo publicado por ela.

"Alguns se sentiram atacados pelas coisas que eu falava, porque meu conteúdo é politizado. Falo, principalmente, sobre o capacitismo. Muitas pessoas não estão preparadas, nem dispostas, a ouvir que toda sua criação e ações são capacitistas. Ferem outras pessoas", disse.

O alcance nas redes sociais também possibilitou que a jovem conseguisse mais trabalhos como modelo. Por ser PCD, conseguir estabilidade como modelo é um desafio para Zannandra.

Reprodução

Zannandra

Zannandra faz trabalhos como modelo e é ativista PCD


"Ano passado foi onde realmente tudo mudou quando comecei a atuar como ativista PCD e usar minhas redes sociais para isso. A partir daí muitas oportunidades surgiram, queriam justamente o que eu representava", explicou.

Capacitismo

O capacitismo é uma forma de preconceito que não está apenas ligado a termos ofensivos ou julgamentos, mas também quando PCDs são reduzidos a uma defiência.

Esse tipo de comportamento pode se manifestar pelos olhares de estranhamento na rua, falas que apontam sentimento de pena ou narrativas que coloquem pessoas com deficiência como exemplos de superação.

Zannandra explicou que o termo em inglês "inspiration porn" (pornografia de inspiração) também é um exemplo do comportamento capacitista da sociedade.

Neste caso, imagens e vídeos de pessoas com deficiência sendo compartilhados para, em suma, provocar o sentimendo de "eu também consigo".

A jovem reforçou que não quer ser parabenizada por ter de se esforçar tanto.

"Gosto de comparar com casos de estudantes que não têm acesso a quase nenhum meio para estudar, porque o sistema e a sociedade tiram essas possibilidades. Os que conseguem são parabenizados. Acho péssimo e uma certa desonestidade insconciente", disse.

Para o futuro, a jovem afirma que tem metas em muitas áreas, começando pela faculdade de Relações Internacionais que deve iniciar ainda neste semestre.

Ela também pretende seguir no ramo da moda ou de desenvolvimento de cosméticos.

"Lançar uma linha de maquiagem acessível sempre foi um sonho pra mim, assim como uma marca de moda acessível. Pela primeira vez me sinto capacitada para conseguir fazer. Não sei o que vou concretizar das minhas metas, mas a minha certeza é que será focada na inclusão não só de pessoas com deficiência, mas de todos que são invisíveis".

Veja alguns dos vídeos:





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