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Judiciário e Ministério Público
Quinta - 17 de Junho de 2021 às 06:35
Por: Diego Frederici/Folha Max

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Investigadores da Polícia Judiciária Civil (PJC) tentaram “comprar” 10 quilos de pasta base de cocaína, em 2020, utilizando bolívares no pagamento. O Bolívar é a moeda oficial da Venezuela,

Segundo a taxa de conversão deste segunda-feira (14), R$ 1,00 equivale a 613.438,38 VEF (o símbolo da moeda do país sul-americano). A tentativa de transação foi revelada na denúncia apresentada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), contra os 25 réus investigados na operação “Renegados”.

A juíza da 7ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), Ana Cristina Silva Mendes, recebeu a denúncia no dia 31 de maio de 2021. O Gaeco revela que a organização criminosa é composta por policiais e ex-policiais, tanto civis quanto militares, “informantes” e demais apoiadores, especializados em “apreender entorpecentes, extorquir traficantes para não serem presos”, além de indícios de cooptação de menores para aplicação de golpes por meio de exploração sexual.

Segundo a denúncia, um dos informantes do bando, identificado como Reinaldo do Nascimento Lima, informou aos comparsas de que um traficante de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá, tentava negociar 10 quilos de pasta base de cocaína. Com a intenção de “roubar” os entorpecentes, o próprio Reinaldo ficou com a tarefa de “simular” uma suposta compra da droga.

Em contato com o traficante, Reinaldo informou que após adquirir a pasta base, passaria a droga para um comprador de Goiânia (GO), que estaria de passagem por Rondonópolis (216 KM de Cuiabá). Para “convencer” o vendedor dos entorpecentes de Várzea Grande, o informante enviou uma fotografia com vários “maços” de dinheiro vivo.

Ocorre, no entanto, que o informante tentava aplicar um “golpe” no traficante, uma vez que os “maços de dinheiro” apresentavam duas notas de R$ 50,00 – somente a primeira e a última. O pacote de dinheiro em si, entre as cédulas de R$ 50,00, era formado por bolívares.

“Visando a conferir credibilidade ao negócio, Reinaldo encaminhou a fotografia de blocos de notas que aparentam ser de várias notas de R$ 50,00. No entanto, somente a primeira e a última cédula dos referidos blocos eram notas de Real, haja vista que o interior dos referidos blocos era composto por bolívares (moeda venezuelana), que possuem cor muito parecida com as notas de R$ 50,00”, diz trecho da denúncia.

ABORDAGEM SIMULADA

O traficante, acreditando que faria um bom negócio, aceitou a oferta e marcou de entregar a droga em Cuiabá, no Jardim Industriário, no mês de agosto de 2020. Para aplicar o golpe, porém, era necessário monitorar os passos do vendedor dos entorpecentes, morador de Várzea Grande.

Assim, antes de concretizar a negociação, outros membros da organização criminosa - o ex-investigador da PJC, Hairton Borges Junior (o “Borjão”), e os investigadores Paulo da Silva Brito e Edilson Antônio da Silva (o “Prego”), “simularam” uma abordagem a um suposto “investigado” no local de trabalho do traficante que venderia os 10 quilos de pasta base.

Segundo a denúncia do Gaeco, o vendedor dos entorpecentes também atua como mestre de obras em Várzea Grande e possui uma caminhonete F-250. A quadrilha denunciada na operação “Renegados” utilizou outro informante do bando, identificado como Ananias Santana da Silva, para “entrar correndo” na obra onde o traficante trabalhava – numa simulação de abordagem.

O episódio é narrado pelo próprio Ananias Santana da Silva, em depoimento ao Gaeco. A ação policial de “mentirinha” utilizou viaturas oficiais da 3ª Delegacia de Polícia do Coxipó, em Cuiabá, além de armas de fogo.

“Borjão contatou o declarante e combinaram de simular uma abordagem policial em frente a obra; que no dia o declarante estava em seu carro, oportunidade em que Edilson, Borjão e Brito que estavam na viatura palio 1658, da 3ª DP, acionaram a sirene; que como combinado, o declarante saiu correndo de seu carro, entrou na obra em construção sendo abordado pelos policiais Edilson, Brito e Borges, em um ato simulado”, narrou Ananias em depoimento ao Gaeco.

O objetivo dos membros da organização criminosa era aproveitar a “confusão” causada na obra devido a “abordagem fake”, e instalar um rastreador na caminhonete F-250 do traficante de Várzea Grande para monitorar seus passos. O investigador Edilson Antônio da Silva, apontado como líder do bando, realizou a tarefa.

QUEBRA DE CELULAR

Marcado o “encontro” entre o informante Reinaldo e o vendedor de entorpecentes de Várzea Grande – nesta altura, com seus passos já monitorados pelo rastreador instalado em sua caminhonete -, era chegada a hora de “dar o golpe”. Assim que deixou sua residência com a F-250 em direção ao Jardim Industriário, para “vender” a pasta base, o traficante foi “abordado” por Hairton Borges Júnior, Paulo da Silva Brito e Edilson Antônio da Silva.

Quando percebeu a “ação policial”, o vendedor da droga tentou quebrar seu telefone celular para evitar que a PJC tivesse acesso às informações do aparelho. Os depoimentos não são claros em dizer se os policiais conseguiram “roubar” a droga do traficante.

Já em relação ao telefone celular, Hairton Borges Júnior – que na época, ainda era investigador da PJC -, tinha a intenção de “consertar” o aparelho para extrair informações do traficante, de modo que pudesse iniciar uma “extorsão” contra o criminoso. Hairton, porém, não teve a chance de dar cabo da extorsão pois foi preso no dia seguinte à abordagem do traficante de Várzea Grande, em 12 de agosto de 2020, após ser denunciado na Corregedoria da PJC por tentar extorquir outro traficante de drogas.

OPERAÇÃO RENEGADOS

A juíza da 7ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça (TJMT), Ana Cristina Silva Mendes, aceitou uma denúncia contra 25 policiais e ex-policiais, civis e militares, além de “apoiadores” e “informantes”, que fariam parte de uma organização criminosa que atuava na Polícia Judiciária Civil (PJC) de Mato Grosso. Os réus são acusados de concussão (receber ou exigir propina em razão do cargo que ocupam), roubo (com uso de arma de fogo, sob violência, mantendo as vítimas sob seu poder), além de “importar, produzir, transportar ou vender drogas”.

A decisão da juíza Ana Cristina Silva Mendes, publicada em 31 de maio de 2021, aponta ainda que a organização criminosa utilizou menores de idade para cometer os crimes. Tornaram-se réus Edilson Antônio da Silva, Alan Cantuário Rodrigues, Júlio Cesar de Proença, Paulo da Silva Brito, Rogério da Costa Ribeiro, André Luis Haack Kley, Frederico Eduardo de Oliveira Gruszczynski, Dhiego de Matos Ribas, Evanir Silva Costa, Raimundo Gonçalves Queiroz e Domingos Sávio Alberto de SantAna.

Ainda fariam parte da organização criminosa Reinaldo do Nascimento Lima, Natália Regina Assis da Silva, Manoel José de Campos, Jovanildo Augusto da Silva, Genivaldo de Souza Machado, Neliton João da Silva, Adilson de Jesus Pinto, João Martins de Castro, Delisflavio Cardoso Bezerra Da Silva, Sandro Victor Teixeira Silva, e Kelle de Arruda Santos, que também viraram réus no processo.

Todos eles, com exceção de Kelle Santos, continuam presos. A operação “Renegados” foi deflagrada em 6 de maio deste ano.

Segundo informações da decisão que aceitou a denúncia, a organização criminosa era dividida em quatro subgrupos - núcleo de integrantes da Polícia Judiciária Civil, núcleo de ex-integrantes da Polícia Judiciária Civil, núcleo de apoio aos integrantes e ex-Integrantes da Polícia Judiciária Civil e núcleo dos informantes. O MPMT revela que pelo menos 12 ações criminosas foram realizadas pelo grupo.

As práticas criminosas teriam resultado numa extorsão em dinheiro no valor de mais de R$ 1 milhão, além do "roubo" (e posterior "revenda") de nada menos do que 139 quilos de drogas (pasta base e cocaína).





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