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Economia
Domingo - 19 de Fevereiro de 2012 às 15:14
Por: ANDREI NETTO

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Economista e membro da direção executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Miranda Xafa defende as medidas de austeridade para enfrentar a crise das dívidas soberanas em seu país, a Grécia. Para ela, cortes como o de 22% do salário mínimo, que provocou a explosão de violência do último domingo, em Atenas, são "tristes, mas necessários".

PhD em Economia pela Universidade da Pensilvânia, Miranda propõe à Grécia abrir mão de novas eleições em abril, demitir ministros, formar um governo tecnocrata dirigido pelo atual premiê, Lucas Papademos, ceder em sua soberania e implementar à risca todas as instruções do FMI, da União Europeia e do Banco Central Europeu (BCE). Caso contrário, entrará em default e terá de abandonar a zona do euro.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

A sra. acredita que há alguma saída para a Grécia além da reestruturação voluntária que vem sendo negociada com os credores privados?

Não, não creio. A única alternativa seria um default caótico e a saída da zona do euro. Por mais que essas medidas sejam duras, elas são muito melhores do que as alternativas que temos.

Mas muitos experts acreditam que, mesmo com a negociação com os credores, a Grécia pode vir a declarar default (calote).

Sim, é verdade. Mas é preciso ter em mente que o memorando para o corte das dívidas - o Private Sector Involvement (PSI) - é uma das medidas para evitar o default. Ele é um pré-requisito para o segundo pacote de austeridade da UE e do FMI, de € 130 bilhões, que por sua vez é pré-requisito para o PSI. Ambos estão atrelados. Afinal, os credores oficiais, públicos, também devem contribuir com € 30 bilhões ao PSI. E eles só contribuirão se a Grécia concordar em adotar um certo número de medidas para reduzir seu déficit fiscal e melhorar sua competitividade.

Permita-me insistir: economistas gregos e estrangeiros acreditam que nem mesmo essa conjunção de corte voluntário da dívida e de novo socorro pode evitar o default desordenado, até porque falta consenso político.

O Parlamento já votou e aprovou novas medidas de austeridade no domingo. Basta que o governo da Grécia se esforce para implementá-las. Muitos experts duvidam da intenção da administração grega de levar a cabo as medidas aprovadas pelo Parlamento, porque haverá eleições em abril. Eles têm razão em se preocupar, porque antes de eleições nada funciona na Grécia. Este é o motivo pelo qual Wolfgang Schäuble, ministro de Finanças da Alemanha, afirmou nesta semana que o modelo Monti, na Itália, talvez seja algo que os gregos deveriam considerar: um governo pequeno e tecnocrático, que consista em técnicos, e não em políticos profissionais.

Para a comunidade internacional, Lucas Papademos, o atual primeiro-ministro, já é o tecnocrata que a sra. menciona.

Sim, ele o é. Mas seu gabinete não. Seu gabinete tem 49 pessoas, a ampla maioria de políticos profissionais que ele herdou do governo anterior.

A sra. não vê nisso uma intervenção na soberania grega?

Sim, é uma intervenção. Mas, do jeito como as coisas estão indo, é necessário haver algumas intervenções estrangeiras.

Qual é o seu balanço sobre as medidas de austeridade que já foram implantadas?

Penso que nos últimos dois anos, quando o primeiro memorando foi assinado, houve cortes exagerados em salários e pensões, de 10% a 15% além do que se deveria, mas as instruções que o governo recebeu não foram implementadas. Esse é um ponto muito importante para entender o que se passa na Grécia: em todo programa de cortes é importante que as medidas de austeridade sejam justas, o que não é o caso atual. A razão pela qual o governo não mexe nesses salários é o clientelismo, que explica os benefícios tão generosos para alguns. Esse é um primeiro ponto.

E qual é o segundo?

O segundo ponto são as reformas estruturais. As reformas no mercado de trabalho, para torná-lo mais flexível, não foram feitas. A remoção dos obstáculos para o empreendedorismo, para a criação de empresas, também não foi feita. Nada disso avançou. O corte de consumo é inevitável numa economia que gastou demais por décadas. É triste, mas inevitável, uma recessão, e profunda.

A sra. diz que os cortes salariais precisariam ter sido mais justos, e não indiscriminados. Mas o FMI e a UE impõem um corte geral no salário mínimo de 22%, que chega a 32% para jovens. Essa medida é justa?

Mas é melhor do que ficar desempregado. O salário mínimo aqui era maior do que em Portugal ou na Espanha, e não há razão para isso.






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