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Internacional
Domingo - 18 de Dezembro de 2011 às 21:18

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Takashi Tachibana (esq.) e Hiromitsu Itoh são os fundadores da empresa Oh!Guts!. Foto: EFE


Takashi Tachibana (esq.) e Hiromitsu Itoh são os fundadores da empresa Oh!Guts!. (Foto: EFE)



Pouco mais de nove meses depois de o tsunami arrasar literalmente a localidade de Ogatsu, uma vila de pescadores no nordeste do Japão, agora uma pequena aventura empresarial tenta reinventar a indústria local e ressuscitar o povoado.

Fundada em agosto, a sociedade retomou o cultivo de mariscos e camarões, atividade pela qual a região era famosa antes do desastre por estar localizada ao fim de uma estreita e sinuosa baía de águas tranquilas. O sossego foi quebrado pelo terremoto de 11 de março e o posterior tsunami, que devorou o povoado em meia hora.

Hiromitsu Itoh - pescador de Ogatsu e fundador da empresa - lembra bem o som que pressagiava a chegada de água: "era o barulho do desprendimento das rochas", descreve. Itoh explica que, pelo fato de o vilarejo ficar no fim da baía e completamente rodeado de montanhas, o efeito do tsunami foi como o de uma banheira transbordando em grande velocidade.

Por sorte, a maioria dos moradores, pessoas que conhecem o mar, identificaram o que se aproximava e refugiaram-se nas colinas, a partir de onde viram o mar engolia o povoado que agora ressurge aos poucos.

Itoh e Takashi Tachibana, o outro sócio-fundador da empresa, explicam com assombrosa integridade os efeitos do desastre em frente ao colégio de Ensino Médio de Ogatsu, cujos três andares, que somam 18 m de altura, foram cobertos pela água.

Em março, Tachibana chegou a partir de Tóquio como voluntário a Ogatsu e conheceu Itoh e o diretor da escola, e se uniu a eles no desejo de devolver vida a este lugar. Tachibana deixou de vez a capital e mudou-se para o povoado, onde vivem somente 1 mil dos 4,3 mil habitantes. A maioria foi embora depois do tsunami, que matou 200 deles.

Com os conhecimentos adquiridos ao longo de sua experiência na indústria alimentícia e ao ver que a tragédia havia feito estragos no modo de vida local - só dez navios restaram de uma frota de 300 -, Tachibana decidiu regenerar, com Itoh e outros oito pescadores e voluntários, a atividade pesqueira de Ogatsu.

Itoh questionava há anos a estrutura da indústria local, que basicamente consistia em vender a intermediários os produtos cultivados no mar a preços muito baixos.

O novo negócio ganhou o nome de Oh!Guts!. A ideia consiste em cultivar, processar e vender os produtos diretamente a atacadistas e varejo, e também aos acionistas, já que a empresa foi aberta como sociedade anônima.

Cada beneficiado pode adquirir uma participação pelo equivalente a 98 euros que permite obter o produto diretamente e também participar, sempre que queira, das atividades de cultivo, algo pensado para impulsionar o "turismo de pesca".

Tudo isto permite vender o gênero a preço melhor, obter lucro na distribuição direta e oferecer produto fresco diretamente ao consumidor, algo que, segundo Itoh e Tachibana, com o tempo pode ajudar a criar uma "marca" reconhecida fora e dentro do Japão.

A sociedade já tem mais de 1,5 mil acionistas, incluindo estrangeiros que vivem fora do Japão, e seu objetivo é alcançar os 50 mil no período de três a cinco anos, o que permitiria criar ostras, moluscos e salmões.

"A administração subvenciona 70% do equipamento perdido na tragédia, mas o ruim é que, depois dos meses que levou o governo para elaborar os orçamentos extraordinários de reconstrução, ainda vai levar dois anos até o dinheiro chegar", critica Itoh.

"O ritmo de reconstrução é lento, portanto é preciso atuar, liderar a situação", acrescenta Tachibana.

A meta de Oh!Guts! é criar um novo "kizuna" (termo japonês para definir o vínculo coletivo), ao entender a reconstrução como uma oportunidade para cimentar uma comunidade que, de acordo com Itoh, estava destinada a desaparecer inclusive sem o tsunami, dado o progressivo abandono do entorno rural japonês.

Aí é onde entra o programa de formação de três anos que acaba de ser lançado para permitir que futuros pescadores se instalem em Ogatsu e devolvam a vida a este remoto e aprazível cantinho do litoral do nordeste do Japão. 





Fonte: TERRA

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