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Sexta - 09 de Dezembro de 2011 às 15:24

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"I want the windows!", "I want the windows!", repetia Martha Medeiros, 49, em reunião com Diane Behkor, a compradora de alta-costura de uma das lojas de departamentos mais tradicionais de Nova York, a Bergdorf Goodman.

Aquelas eram as únicas palavras que a estilista alagoana sabia pronunciar em inglês. Mas eram suficientes. Se vendesse uma coleção para a loja americana, queria ter certeza de que ganharia o espaço nobre das vitrines (as tais "windows").

Saiu de lá com uma encomenda de 40 vestidos exclusivos, um desfile agendado para fevereiro de 2012 e boas chances de expor na vitrine da Quinta Avenida.

  Franco Amendola  
Estilista Martha Medeiros e as rendeiras de São Sebastião, em Alagoas
Estilista Martha Medeiros e as rendeiras de São Sebastião, em Alagoas

Martha é daquelas mulheres de respiração, olhar e pensamento acelerados. Não perde uma oportunidade. Controla os negócios com o mesmo pulso firme com o qual suas rendeiras trançam fios de linha branca presos a bilros de madeira (o "trançador").

ARTESANAL-CHIQUE

Os pedaços de renda que ela usa para construir suas criações levam tempo para ficar prontos. Um vestido de noiva, por exemplo, pode levar um ano e meio para ser feito, envolve o trabalho de 32 rendeiras e custa mais de R$ 20 mil.

Certa vez, uma noiva pediu um vestido coberto por 800 flores de renda. Cada pétala levava uma semana para ser feita. "Não tenho mais pontos de venda porque não conseguiria suprir a demanda", diz ela, que vive entre São Paulo e Maceió e vende para 20 lojas no Brasil.

Curiosamente, as rendas, marca registrada de seus vestidos, podem ser encontradas a preço de banana em feiras de artesanato de Maceió e nas comunidades de pescadores.

"Martha acrescentou informação de moda a um trabalho tradicional e o transformou em objeto de desejo. No exterior, o artesanal é muito chique", diz a consultora Gloria Kalil.

Ao mesmo tempo, ela assina uma linha de roupas populares para a rede Riachuelo, que começa a ser vendida em 4/12 e dura até o fim do estoque. A coleção inclui peças com detalhes em renda que vão de R$ 59 a R$ 220. "É a democratização da moda. Muitas meninas querem ter um vestido meu e agora podem."

Espécie de embaixadora das rendas nordestinas, ela foi convidada a expor uma de suas peças em um museu dedicado à renda e à moda em Calais, na França. A diretora do museu planeja uma exposição solo da estilista em 2013.

OPERAÇÃO

Para conseguir usar a renda manual em quase todas as peças -- vendidas em Maceió e na loja paulistana no bairro do Jardins, e ainda exportar para Líbia, Itália, Inglaterra, França e Oriente Médio --, Martha teve que montar uma operação de guerra.

Ela trabalha com cinco comunidades diferentes nos Estados de Alagoas, Ceará, Piauí, Paraíba e Pernambuco. São aproximadamente 250 artesãs e 30 adolescentes que estudam a técnica. "Quando comecei o trabalho com essas comunidades, notei que todas as rendeiras tinham mais de 60 anos. Essa arte estava morrendo com elas", diz.

"Meu sonho é que as prefeituras incluam aulas de renda no currículo escolar. Se depender de mim, essa tradição nordestina não vai acabar", arremata a estilista.

Parece que não mesmo. Das vitrines da Quinta Avenida ao museu na França, Martha espera que suas rendeiras conquistem o mundo, um vestido de cada vez.





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