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Saúde
Sábado - 02 de Julho de 2011 às 08:23

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Peça chave de um controverso transplante de útero a ser realizado no ano que vem, o médico sueco Mats Brännström é um homem ocupado. Professor da Universidade de Gotemburgo, envolvido em pesquisas clínicas e atendendo pacientes, ele não dá muitas entrevistas. A barreira em volta do cientista se intensificou depois do anuncio de que sua equipe planeja transferir o útero de uma mulher de 56 anos para o corpo da filha de 25. Portadora de uma síndrome, Sara Ottosson nasceu sem o útero e parte da vagina.

Em um intervalo entre consultas, e com exclusividade ao Terra, o ginecologista fala um pouco mais sobre as dificuldades do procedimento e as questões éticas que envolvem esta operação - se vale a pena um transplante de um órgão que não é vital e que pode levar a paciente à morte.

Terra - Transplantes já não são novidade na medicina e vemos diariamente operações de vários tipos. O que há de tão complicado no transplante de útero?
Mats Brännström - É uma operação complicada porque o útero está situado no fundo da pélvis, e é difícil extrair o útero, que tem grandes veias. E claro, o útero não vai ficar no seu tamanho normal. Vai ter que ser capaz de carregar um feto e se expandir muito. Lidar com as particularidades desse órgão e prever as suas mudanças são os principais fatores que dificultam o procedimento.

Terra - Essa operação foi tentada antes?
Brännström - Foi tentada uma vez, no ano 2000, e não funcionou. Desde então, tanto nossa equipe quanto outros grupos têm realizado muitas pesquisas com animais, e até agora tem funcionado em algumas espécies. E é por isso que eu acredito que estamos preparados para tentar com humanos.

Terra - Em quais animais tentaram?
Brännström - Ratos, coelhos, porcos, ovelhas e babuínos. E a operação no babuíno é muito semelhante à feita nos humanos.

Terra - Por que as tentativas anteriores falharam?
Brännström - Eu acredito que foi porque ainda não tinham desenvolvido bem a técnica. Provavelmente foi isso.

Terra - Seria este o transplante mais difícil de se fazer?
Brännström - Eu não fiz transplante de todos os órgãos, então não poderia dizer sim ou não. Com certeza, existem órgãos mais "complicados", em si, do que o útero. Mas no que diz respeito ao transplante, o grau de dificuldade é comparável aos procedimentos mais difíceis que temos.

Terra - Considerando que o útero é de uma mulher mais velha (56 anos), o órgão seria menos funcional do que o de uma mulher mais jovem?
Brännström - Provavelmente será quase tão bom quanto o de uma mulher mais jovem. Podemos dizer isso baseados nos resultados de programas de doação de oócitos, que foram recebidos por mulheres mais velhas. Mas é óbvio que é melhor ter um útero de 25 anos do que um de 50! (risos).

Terra - O fato da doadora do órgão ser a mãe da paciente é importante?
Brännström - Sim, com certeza é uma vantagem. Por serem parentes, todos os problemas relacionados a rejeição serão menores.

Terra - O senhor vê como ético este procedimento, já que ao contrário de outros transplantes, esta operação não é essencial para a sobrevivência do paciente?
Brännström - Eu acho que, do ponto de vista ético, é claro que o assunto precisa ser debatido. E já está sendo debatido! Mas também é preciso entender que algumas mulheres querem passar por toda a experiência da maternidade, e isso envolve o parto, etc. Em princípio, penso que é como qualquer outro tratamento de infertilidade, só que, obviamente, é mais invasivo.





Fonte: Terra

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