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Nacional
Sábado - 25 de Junho de 2011 às 08:08

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Laureado como o país que mais promoveu a ascensão das classes D e E na história recente, o Brasil é, contraditoriamente, um dos mais atrasados na América Latina em negócios voltados para esse estrato da população.

A avaliação é do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que, não à toa, escolheu o país para sediar seu primeiro "Fórum para o Desenvolvimento da Base da Pirâmide na América Latina e Caribe", na próxima segunda-feira (27), em São Paulo.

De acordo com Luiz Ros, gerente do BID, o banco multilateral tem dificuldades de prospectar modelos inovadores para a base da pirâmide social no Brasil. Exemplos de países que estão na frente, aponta Ros, são o México, a Colômbia e o Peru.

"Mesmo que outras empresas latino-americanas estejam em um patamar mais avançado hoje, o Brasil tem uma chance de se nivelar muito rapidamente", pondera o presidente do BID, Luis Alberto Moreno, um dos palestrantes do evento, ao lado de empresários, políticos e empreendedores sociais da região.

"Com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos vindo para o país, muitos setores crescerão rapidamente, como os de turismo, transportes e comunicações", justifica Moreno.

A fim de promover modelos de negócios com foco nas classes C, D e E, o banco criou há cinco anos o departamento Oportunidades para a Maioria, com um fundo de US$ 250 milhões para fornecer empréstimos, garantias de crédito e assistência técnica a essas empresas, de cooperativas e pequenos negócios a multinacionais.

"Devemos dobrar esse valor nos próximos três anos", antecipa Ros, brasileiro que comanda a iniciativa.

CRESCIMENTO PERVERSO

Do montante de US$ 250 milhões, apenas US$ 15 milhões (6%) foram destinados a empresas brasileiras --duas, no total, até agora.

"Há pelo menos três projetos com base no Brasil em fase final de avaliação nas áreas de desenvolvimento de empresas, educação e serviços financeiros", revela Moreno.

O processo de seleção é longo e criterioso, avaliam os escolhidos. "Com o momento atual, de crédito barato e disponível, daria para fazer uma emissão maior e com menos burocracia no mercado", compara Paulo Dalla Nora, 35, diretor-executivo do banco Gerador, que acaba de receber aporte de US$ 5 milhões do BID. "É preciso ver o dinheiro do BID com o viés que ele aporta. Além de ser uma operação de prazo maior --dois anos--, percebemos o valor do know-how e de tecnologia."

Especializado em serviços para as classes C e D e para pequenas e médias empresas, o Gerador, único banco privado com sede no Nordeste (em Recife), foi procurado pelo BID para desenvolver um produto que se adequasse ao fundo do Oportunidades para a Maioria.

Criou então, há quatro meses, um cartão para supermercados de dois a seis "checkouts" que trabalham com caderneta nas periferias de Recife, João Pessoa e Natal e no interior desses Estados. O objetivo é ofertar crédito com taxa entre 2% e 3% ao mês para a aquisição de equipamentos como freezers e computadores e, sobretudo, substituir o "fiado".

"Trabalhamos no efeito perverso do boom econômico no Nordeste. Quanto mais melhora a situação, mais o cliente quer comprar na caderneta. Só que o "fiado" suga o capital de giro do supermercadista, que não aguenta."

A Tenda Atacado, primeira empresa brasileira selecionada para receber recursos desse fundo do BID, também desenvolveu um modelo de oferta de crédito aos clientes --no caso, comerciantes como dogueiros e pasteleiros, muitos dos quais na informalidade.

"O processo todo com o BID é demorado e rigoroso, levou 14 meses. Porém para o negócio é estratégico, um selo de qualidade creditícia que ajuda a desenvolver expertise de governança e "compliance", além de, no longo prazo, impactar na captação de novos recursos", analisa Marco Gorini, diretor-executivo da VoxCred, empresa do Grupo Tenda responsável pela área de crédito e risco.

Com os US$ 10 milhões captados, mais US$ 270 mil provenientes de um fundo perdido do governo coreano, o atacadista almeja beneficiar até 50 mil empreendedores em dois anos, a partir de agosto. Também está construindo uma central de treinamento, onde serão dadas capacitações de gestão, planejamento e finanças a mais de 6.000 clientes.

"A lógica desses negócios na base da pirâmide é sempre a mesma. A empresa passa a pensar no cliente de forma mais holística, ajudando-o a fazer seu empreendimento crescer. Paralelamente, constrói externalidades positivas que fidelizam os clientes e melhoram as vendas dela mesma", descreve Luiz Ros.

1º Fórum BID para o Desenvolvimento da Base da Pirâmide na América Latina e Caribe

Quando: 27 e 28 de junho

Quanto: R$ 300

Onde: Centro Fecomercio de Eventos (rua Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, região central de São Paulo)

Informações e inscrições: www.baseforumbop.com






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