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Opinião
Sexta - 19 de Agosto de 2011 às 09:41
Por: Waldir Serafim

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As reservas internacionais do Brasil chegaram a US$ 350,0 bilhões, e no ritmo atual passará dos US$ 400,0 bilhões até o final do ano. Um volume extraordinário, principalmente se considerarmos que, até poucos anos atrás, era recorrente batermos às portas do FMI, pedindo dinheiro emprestado para honrar compromissos internacionais.

O acúmulo dessa montanha de dólares teve diversas origens: o saldo positivo da balança comercial (exportações menos importações), investimentos estrangeiros no país, atraídos pelo tamanho de nosso mercado interno, e os dólares provenientes da especulação internacional, que aportam no país para se apropriar da diferença entre as taxas de juros pagas internamente (as mais altas do mundo) e as pagas no mercado externo (principalmente EUA, que estão abaixo de 1% a.a.).

Dizem que a diferença entre o remédio, que cura, e o veneno, que mata, é a dose. Assim também é com relação ao montante das reservas. O Tesouro Nacional deve estar torcendo por uma redução no seu ritmo de crescimento. É que a manutenção dessas reservas tem um custo. É o chamado custo de carregamento, que é tanto maior quanto maior for o seu montante.

Não há demonstrações oficiais de quanto tem custado o carregamento de nossas reservas. Em março de 2011, pela primeira vez, o Banco Central informou que em 2010 esse custo teria sido de R$ 26,0 bilhões. O Departamento Econômico do Bradesco, no entanto, calculou esse mesmo custo em R$ 46,0 bilhões. Divergências metodológicas à parte, o certo é que o Tesouro Nacional está pagando um custo muito elevado para manter essas reservas. 

Esse custo de carregamento tem duas fontes: a primeira é a diferença entre os juros que o governo paga, pelos empréstimos em reais que toma no mercado (taxa Selic, equivalente a 12,5% a.a.), para comprar os dólares que entram no país, e o rendimento da aplicação de nossas reservas no mercado internacional (menos de 1% a.a. no mercado americano, onde estão aplicados ²/³ de nossas reservas).

A segunda fonte desse custo de carregamento provém da variação da cotação do real frente ao dólar. A cada vez que o dólar se desvaloriza menos poder de compra tem nossas reservas. Um dólar americano valia, em média: R$ 2,00 em 2009, R$ 1,76 em 2010 e deverá ficar abaixo de R$ 1,60 em 2011. Ora, se o Banco Central gastou R$ 2.000,00 para comprar US$ 1.000,00 em 2009, hoje, se precisar vendê-los, vai apurar apenas R$ 1.600,00. Um prejuízo de 20%, portanto.

Alguns economistas não consideram essa segunda fonte em seus cálculos, sob a alegação de que, não sendo vendidos os dólares, o prejuízo não se realiza e, de qualquer forma, o dólar pode voltar a se valorizar frente ao real quando, nesse caso, haveria uma compensação contábil.

Grandes reservas em moedas estrangeiras formam uma barreira protetora contra crises internacionais, quando o fluxo de empréstimos nessas moedas tende a ficar escasso, e os países que não as têm não podem atuar no mercado internacional.

Um país ficar sem reservas deixa-o vulnerável, mas, por outro lado, reservas em excesso têm um custo a ser suportado pelo Tesouro Nacional. O difícil é encontrar o volume ótimo de reservas, em que o custo de carregamento não supere os seus benefícios.

Waldir Serafim é economista em Mato Grosso
serafim.waldir@gmail.com



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