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Opinião
Terça - 05 de Abril de 2011 às 15:54
Por: Lourembergue Alves

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Ao abrir a caixa de entrada, ontem pela manhã (04/04), um dos e-mails destacava-se dos demais. Trazia a notícia do falecimento da Sra. Idvanilde Gomes Luzardo Pizza, ou só Deva para os amigos e familiares, e também para aqueles que não lhe eram tão próximos assim, mas tiveram a sorte de pertencer a sua geração, estudar na mesma sala de aula e frequentar quase os mesmos lugares que ela, quando criança.

Casada com Petan Pizza. Ambos nascidos na mesma cidade, e, quando solteiros, moraram por muito tempo um de frente do outro, em casas que tinham como divisas apenas as avenidas centrais, que terminam à porta da Igreja Católica. De onde se podia avistar o coração do lugar, bem como sentir o pulsar da sua vida noturna, a qual se dava em duas ruas paralelas àquelas: uma, mais a direita, em direção contrária ao do grupo escolar, que contava antes com o clube, parede-meia com o prédio da prefeitura – destinado a festas e aos bailes, inclusive carnavalescos - e, tempos depois, substituído que fora por uma boate, erguida bem ali por perto; e na outra ponta, mais a esquerda, em sentido oposto ao terreno da Casa Paroquial, a série de bares – pontos de farras e de tantas “coisas mil”.
Todos esses traçados citadinos tinham igual ponto de convergência e o de divergência também, formando um desenho arquitetônico próprio de uma cidade garimpeira e interiorana, cujas extremidades pareciam se encontrar na praça e no cinema. Locais umbilicalmente ligados. Por conta disso, cenários de tantas histórias em comuns, de milhares de causos que se juntaram, e que se confundiram com o real, ou pelo menos com aquilo que se tinha como realidade, norteada por leituras que “endeusavam” os “salvadores da pátria” e tinha na condição de bálsamo o “duelo” de dois titãs da música brasileira, Paulo Sérgio e Roberto Carlos, reproduzido pelo serviço de alto-falante do cinema.
Era igualmente uma realidade fantasiada por meninos e meninas nascidas na região, sendo muitas delas movidas pelos mesmos sonhos dos pais, cuja crença se amarra com o dia de se encontrar a sorte grande. O “bamburrar” está bastante preso a esta sina.        

Nortelândia é assim, ou era. Em seus tempos idos, pelo menos o fora. Pois nasceu sob o signo do encontro e do reencontro. Seus filhos se misturavam – e ainda hoje se misturam com quem vinham e vem de outras paragens, mas que a escolheram para morar e se desenvolver, e, juntos e entrelaçados aos primeiros, constituíam-se desse modo uma comunidade nada imitada, sem que a pobreza ou qualquer condição pudessem se postar de óbices para o tal congraçamento.

Foi nesse ambiente, natural e espontâneo, que nasceu Deva. Dentro de um lar abençoado. Todo construído com tijolos da lealdade, cujas fileiras se solidificaram sobre a argamassa do respeito e da cortesia. Ainda por cima, ladeada de gente com inteligência brilhante e refinada, a exemplo de dois de seus irmãos que também não estão mais por aqui.

Ela era apaixonada por seu torrão natal. Amava os festejos de Nossa Senhora Sant’Ana e tinha um apreço todo especial pelo desenho urbanístico que vinha se tornando a “velha” e “adorável” Nortelândia. Cidade que, no último sábado (02/04), infelizmente, perdeu uma de suas filhas mais brilhantes, uma colega de sala de aula inquieta e de olhos cravados no futuro e, sobretudo, uma figura humana exemplar.

Idvalnide, ou melhor, Deva era assim. Um misto de tudo isso – lições para seus filhos (Iza, Petra e Ildevan). Parte, deixando saudades, mas também lembranças de um tempo e de uma cidade que se tentou descrever aqui. Ainda que de forma bastante resumida.  

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos.


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