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Carros & Motos
Terça - 15 de Fevereiro de 2011 às 14:23
Por: Eduardo Rocha - Auto Press

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Chevrolet Cruze tem design mundial - nem muito careta, nem muito ousado - para agradar de americanos a chineses
Chevrolet Cruze tem design mundial - nem muito careta, nem muito ousado - para agradar de americanos a chineses

Houve um tempo em que a Chevrolet do Brasil dava as cartas em todas as faixas do mercado de sedãs. Mas a concorrência foi ficando cada vez mais feroz e a marca literalmente se apequenou. Ou seja, passou a dominar apenas os segmentos de carros compactos e perdeu a hegemonia entre os modelos médios e grandes. Nos últimos meses, no entanto, a General Motors decidiu retomar a briga. Trouxe o Malibu e o novo Omega para os segmentos superiores e prepara a chegada de seu modelo mais internacional. O Chevrolet Cruze pode ser visto circulando em todas as partes do mundo. Está na China, na Europa, no Oriente Médio e até nos Estados Unidos, onde é considerado compacto. No Brasil, o modelo deve estrear ainda este ano e marca o início de uma grande renovação na gama da marca.

A função do Cruze é clara: enfrentar os também internacionais Honda Civic e Toyota Corolla. O modelo da Chevrolet, lançado em 2008, é produzido em nada menos que seis países: Cazaquistão, China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Tailândia. Em outros dois é vendido com outras marcas: na Austrália como Holden Cruze e na Coreia do Sul como Daewoo Lacetti Première. Por ser um modelo verdadeiramente planetário, como os rivais, a General Motors pôde apostar um pouco mais alto na hora de projetar uma plataforma moderna em termos de engenharia e versátil na linha de produção. Essa mesma plataforma é utilizada para o Chevrolet Volt e também para o monovolume Orlando – cotado para substituir as minivans Meriva e Zafira no Brasil no ano que vem.

Por ter essa característica multinacional, as linhas externas do modelo evitam os exageros. Buscam um equilíbrio entre sobriedade e modernidade para não desagradar em canto nenhum. O perfil é dominado pelo teto em arco perfeito. A linha de cintura reta, paralela ao chão, cria volumes planos à frente e atrás e dá ao conjunto um grande equilíbrio. A frente traz a identidade de marca internacional da Chevrolet, com a grade bipartida horizontalmente, e tem uma dose bem medida entre a agressividade e desenho clássico. Já a traseira é dominada pelas lanternas horizontais, que engordam nas extremidades externas.

Com a chegada do Cruze ao Brasil, a GM deve interromper a produção do Astra e trazer o Vectra para a base do mercado de médios. O novo sedã, nesse caso, entraria na briga direta com os japoneses e com Peugeot 408, Citroën C4 Pallas e Ford Focus de topo. O Vectra ficaria na briga com Renault Fluence, Nissan Sentra e ainda atacaria os sedãs compactos mais completos e caros, como Honda City, Fiat Linea, Ford New Fiesta e Volkswagen Polo. Em um segundo momento, em 2012, esta mesma plataforma seria utilizada na nova minivan da marca, Orlando, que deve ter versões de cinco e de sete lugares.


Ponto a ponto

Desempenho – Com um bom motor turbodiesel sob o capô - diferente do que virá ao Brasil -, o Cruze mostrou muita força em todas as faixas de giros. O turbo entra logo cedo e os 39 kgfm de torque máximo já estão totalmente disponíveis aos 2.000 giros. E como são seis marchas para escalonar o trabalho, o motor está sempre cheio de vigor. Daí o zero a 100 km/h em 9,4 segundos. Essas características fazem o Cruze funcionar bem tanto no trânsito urbano quanto no rodoviário. Mas como é normal em propulsores diesel, o ímpeto cai bastante em velocidades mais elevadas. A máxima fica em 209 km/h, o que, a rigor, já extrapola as possibilidades das vigiadas "autoroutes" francesas. Nota 8.

Estabilidade – O Cruze tem o centro de gravidade baixo, o que ajuda a deixar o carro muito bem equilibrado. O conjunto suspensivo – McPherson e multilink à frente e atrás – é bastante eficiente e vem se tornando o preferido no segmento. Nas curvas, o sedã médio da Chevrolet suporta um bom nível de aceleração lateral até ceder à rolagem. Nas retas, em velocidades dentro da lei – até 140 km/h – não há flutuação alguma. Nota 8.

Interatividade – Até por influência da Opel, braço europeu da General Motors, o modelo da Chevrolet segue a cartilha alemã para posicionamento dos comandos. Os controles de vidros e espelhos ficam na porta, enquanto o comutador de luzes está instalado à esquerda do volante – em um carro francês, seria na haste do pisca. Som, ar-condicionado e navegação têm os comandos no console central. Tudo estritamente no lugar. O GPS, porém, não tem uma operação intuitiva e acaba tirando demais a atenção do motorista. O volante multifuncional poderia ser mais efetivo: tem apenas ajuste do sistema de som e do controle de cruzeiro. Nota 7.

Consumo – A média de 11,3 km/l de diesel é apenas razoável para um modelo que é leve no segmento. E fica bem distante da média prometida de 15 km/l. Nota 6.

Conforto – A suspensão tem pequeno curso e não filtra muito bem as irregularidades do piso. Por outro lado, o isolamento acústico é razoável e os bancos são firmes e confortáveis. Nota 7.

Tecnologia – A equação que a Chevrolet faz com o Cruze não permite um grande embarque de tecnologia. Mas o sedã médio oferece o que o segmento efetivamente consome. Os sistemas de segurança, como ABS, oito airbags, controle de tração e de estabilidade, são de série. Já boa parte dos equipamentos de conforto são opcionais na versão LS e de série na LT testada. Nota 8.

Habitabilidade – O acesso é dificultado pela pequena altura do carro. Como, além disso, o teto em parábola tem um caimento muito intenso, o banco traseiro teve de ser afundado para que um adulto ali sentado não raspasse com a cabeça no teto. De qualquer maneira, o espaço é bom para quatro adultos. O porta-malas, de 450 litros, é bastante aproveitável, mas no habitáculo faltam porta-trecos. Nota 7.

Acabamento – É o ponto fraco do Cruze. Os plásticos no interior são duros e desagradáveis ao toque – acabamento "soft-touch" é uma exigência neste segmento. Nas partes em forração, usou-se um tecido grosso, extremamente áspero. Os muitos detalhes em pintura metalizada também não ajudam a dar uma imagem de requinte ao modelo. Para vingar no Brasil será preciso dar um capricho maior nos materiais e no acabamento. Nota 5.

Design – O Cruze é o carro mundial da Chevrolet e, como tal, não pode ser ousado ou conservador demais, pois tem de agradar tanto no mercado americano quanto no chinês, brasileiro e francês. Com linhas bem harmoniosas e geometricamente bem-traçadas, o Cruze pode não encantar, mas também não vai espantar a freguesia. Nota 7.

Custo/Benefício – Na Europa, a versão top LT com a motorização TD 2.0 começa em cerca de R$ 52 mil (22.700 euros), valor bem razoável para o nível de equipamento com que o Cruze é entregue. O modelo testado, que possuía ainda navegador e pintura metálica, chega a R$ 55 mil (23.895 euro). Com teto solar e acabamento em couro, chega a R$ 59 moil (25.715 euros). Não é exatamente um automóvel barato. Nota 6.

Total – O Chevrolet Cruze somou 69 pontos em 100 possíveis.

 
Impressões ao dirigir: projeção pela base

A primeira impressão que se tem do Cruze não é a melhor possível. O tecido que reveste os bancos e as partes "moles" do acabamento interior, uma espécie de linhão, é grosseiro ao toque e à visão. Até o cheiro é desagradável. Os outros materiais que compõem o acabamento também não ajudam, com peças em uma pintura metalizada altamente reflexiva e plásticos pretos duros e ásperos.

O lado bom do Cruze aparece na parte de pura engenharia, quando é posto em movimento. A versão em questão tem um motor 2.0 turbodiesel de 163 cv. Ele se porta de forma semelhante a um propulsor a gasolina, mas com um melhor torque em baixa e com ganho de velocidade mais lento. Independentemente do poder de aceleração, o comportamento dinâmico do Cruze chama atenção pelo equilíbrio. A carga bem dosada do conjunto suspensivo dianteiro faz com que o Cruze não embique nem empine em freadas e arrancadas. E a suspensão traseira multilink responde muito bem nas curvas e retarda ao máximo a rolagem lateral.

No interior, nada de trepidações ou ruídos aerodinâmicos. Mas a vida a bordo no Cruze não é muito generosa com os ocupantes. O espaço só é amplo para os passageiros da frente. Os de trás ficam em um banco afundado e com o teto próximo às cabeças. Esse foi o preço para manter no design a parábola perfeita da primeira à última coluna. Os bancos não são muito macios, mas seguram bem o corpo e permitem uma postura mais relaxada. Apesar da localização dos comandos básicos facilitar a vida, já que estão nos lugares tradicionais, os comandos do GPS não têm nada de intuitivo. É preciso um certo tempo até achar a rota.

No fim das contas, o Cruze mostrou ser um carro com ótimo compromisso dinâmico e belo design, mas que peca na parte de acabamento e de escolha de materiais. Uma coisa simples de alterar no processo de abrasileiramento do modelo. Hoje é preciso enxergar através dos materiais para ver um concorrente à altura dos sedãs médios da Honda, Toyota, Ford ou Citroën.



Embora o visual do interior seja bonito, os materiais - plásticos duros e tecidos - deixam a desejar






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