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Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Quinta - 29 de Agosto de 2013 às 09:05

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Mudar a cultura da sociedade brasileira, que entende que o reeducando inserido no sistema prisional precisa passar por árduo sofrimento para que a pena tenha validade, é um dos primeiros passos para que o início da humanização desse sistema seja efetivamente possível. Esse é um dos pontos de vista defendido pelo professor doutor José Ricardo Ferreira Cunha, que nesta quarta-feira (28 de agosto) proferiu a última palestra do Fórum Mato-grossense para Modernização e Humanização do Sistema Penitenciário, em Cuiabá.


 
“A população acha que se a pessoa está na prisão, tem que sofrer. Nosso desafio começa, antes de tudo, com a mudança cultural. Enquanto isso não ocorrer, todo trabalho será inútil. Precisamos dialogar com a sociedade para que essa mudança seja possível. A privação da liberdade já é em si mesma uma pena extrema. Basta prender, não é preciso ‘arrebentar’ com o ser humano”, aponta o palestrante, que tem formação jurídica e também filosófica. “A prisão já é suficiente para quebrar a espinha dorsal do ser humano”, acrescenta.


 
Conforme José Ricardo, a liberdade é fator fundamental para a realização humana, contudo, ele avalia como lamentável o fato de que a cultura brasileira não dê o devido valor a ela. Ele também ressaltou o fato de que hoje – 28 de agosto de 2013 – ser o aniversário de 50 anos do famoso discurso ‘ I have a dream’ de Martin Luther King, para ele uma das figuras mais importantes na construção dos direitos civis da modernidade. “Ele fez o impossível para mudar uma ordem de coisas. (...) É sim possível humanizar o sistema penitenciário, porque essa é a hipótese de todas as pessoas que ousam sonhar. Vocês estão aqui para ir além da realidade, para transformá-la. Humanizar esse sistema é fazer uma transformação radical da realidade”.


 
Ao longo da palestra, o professor fez uma série de questionamentos ao público, entre eles qual seria o papel da pena. Para ele, a despeito das fundamentações jurídicas tradicionais, o cumprimento da pena representa o ‘direito ao esquecimento’. “É para isso que as pessoas cumprem a pena, para serem esquecidas e, uma vez esquecidas, tenham a oportunidade de reconstruir sua própria vida”, salienta. José Ricardo ainda destacou a importância de todos os envolvidos nessa questão trabalharem sempre tendo em mente o coletivo. “Não caiam na tentação de achar que sozinhos vocês conseguirão resolver os problemas. Precisamos perceber que o todo é diferente da soma das partes”.


 
Participantes – Após a palestra o presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário de Mato Grosso, João Batista de Souza, afirmou que os grandes operadores da ressocialização dentro das unidades prisionais são os servidores e, por isso, eles precisam participar das discussões e ser valorizados. “Precisamos estreitar a relação entre servidores e instituições para que o atendimento que fazemos possa ser melhorado”, defendeu.


 
O reeducando Renildo Feliz, que cumpre pena no Centro de Ressocialização de Cuiabá, destacou a necessidade de que não apenas os reincidentes, mas principalmente os egressos que conseguiram se reinserir na sociedade sejam devidamente contabilizados. “Precisamos divulgar o índice daqueles que conseguiram acertar, que estão reconstruindo suas vidas”, assinalou. Já o presidente do Conselho da Comunidade de Barra do Garças, Alexandre Scarello, destacou a importância de manter a esperança dos reeducandos. “Eles precisam acreditar que as coisas vão melhorar”.





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