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Cidades/Geral
Terça - 08 de Junho de 2010 às 16:26

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O tráfico de drogas e armas na fronteira de Mato Grosso com a Bolívia motivou o Ministério Público Estadual (MPE) e o Grupo Nacional de Combate à Organizações Criminosas (GNCOC) a realizarem o "2º Encontro de Fronteira", no município de Cáceres (200 km de Cuiabá). O evento reunirá representantes do Ministério da Justiça, Exército, Justiça Federal, Ministério Público Federal, Justiça estadual e federal, polícias Federal, Rodoviária Federal, Civil e Militar, Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Marinha e Aeronáutica.

A abertura do evento ocorrerá às 8h, no auditório da Cidade Universitária da Unemat. O restante do encontro será restrito aos representantes das instituições que atuam na área. No dia 11, no período da tarde, os participantes farão uma visita técnica na fronteira, próximo à sede do Grupo Especial de Fronteira (Gefron), em Porto Esperidião. “Vamos verificar "in loco" as condições estruturais de repressão ao narcotráfico e os locais onde os traficantes costumam transportar a droga”, disse o coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), procurador de Justiça Paulo Prado.

Cerca de 650 quilos de cocaína já foram apreendidos este ano na fronteira de Mato Grosso. Somente em 2009, o Grupo Especial de Fronteira (Gefron) e a Polícia Federal apreenderam mais de uma tonelada de entorpecentes. Ao todo, 22 municípios fazem fronteira com a Bolívia. Entre eles, Cáceres é considerada a principal rota de tráfico no Estado. O juiz de Direito Alex Nunes de Figueiredo ressalta que a cidade é a única Comarca de 3ª Entrância do Estado que possui três Varas Criminais e, segundo ele, existe a necessidade de criar mais uma. “Cáceres é uma cidade extremamente pobre. Não possui infraestrutura ou energia para trazer indústrias. A economia vive em torno do turismo, da pecuária e de servidor público. Fora isso, existe a economia do tráfico. Se acabarem com o tráfico, a economia da cidade quebra”.

O magistrado destaca ainda, que a cidade não possui sequer uma Delegacia Especializada em Entorpecentes. “Isso é um absurdo. O Estado deve investir mais em segurança pública e em programas sociais”, afirmou ele. A promotora de Justiça Januária Dorilêo Bulhões, também acredita que investimentos na área social podem contribuir para a redução dos problemas ocasionados pelo tráfico. “O município tem somente um único local que cuida do tratamento de pessoas viciadas em drogas, e sabemos que nos locais onde o tráfico é muito intenso o número de usuários também é muito grande. O Estado precisa voltar os olhos para a região de Cáceres porque sabemos que aqui é a ponto de entrada da grande parte da cocaína que ingressa no Brasil.”

MULAS – O termo "mula" é utilizado para denominar a pessoa aliciada pelos traficantes para transportar droga. Para cruzar a fronteira, as mulas usam diversos artifícios na tentativa de passar pela fiscalização como saltos de sapatos, roupas, e, até mesmo o próprio corpo, com a ingestão de cápsulas. Habituado com a rotina de examinar mulas para diagnosticar a existência de drogas, o perito e médico legista Manoel Francisco de Campos Neto resolveu desenvolver o trabalho científico "Mulas Humanas", para abordar as modalidades de transporte de cocaína e os tipos de envólucros utilizados nas cápsulas.

Segundo ele, 55% das mulas são bolivianas e 45% são brasileiras. “Costumo dizer que a mula é um suicida em potencial. Um pouco mais de um grama de pasta-base seria letal para um indivíduo que nunca usou droga, ele teria uma overdose. Geralmente, os mulas levam cápsulas de 14 a 15 gramas. Se romper uma delas, ele tem morte instantânea”.

Plantonista do Hospital Regional de Cáceres, ele conta que um dos casos que mais o impressionou foi de um garoto de 16 anos, que consumia 10 gramas de cocaína por semana. “Ele tinha 87 cápsulas de pasta-base no intestino, com 16 gramas cada uma”. Ele lembra que a maior quantidade que já constatou foi 92 cápsulas em uma mulher grávida. “No início eram muito homens e poucas mulheres. Hoje isso já inverteu e as mulheres são a maioria. Geralmente, elas possuem fisionomias tristes, com filhos no colo”.

Para ele, o problema deve ser encarado com mais seriedade pelo poder público. “Hoje, uma mula que carrega uma mochila com 15 kg tem que andar 90 km a pé para entregar a droga. Por esse trabalho, ela recebe U$ 100 por quilo, ou seja, U$ 1.500,00 por viagem. Se ele fizer uma por semana, ele ganha U$ 6 mil por mês. Isso seduz as pessoas. Por isso, é necessário que haja maior envolvimento político e mais investimentos na repressão para diminuir a passagem de droga pela fronteira”, argumenta.






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