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Repórter News - reporternews.com.br
Economia
Segunda - 30 de Março de 2009 às 10:54

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Os consumidores deverão sentir mais depressa o reajuste de 5,9% dos medicamentos, anunciado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para esta terça-feira (31) --principalmente nas farmácias independentes ou ligadas a pequenas redes. Essa é a avaliação de comerciantes e associações do setor.

Nos anos anteriores, quando o aumento anual era anunciado, a maior parte dos comerciantes independentes (cerca 90% das 60 mil lojas em todo o Brasil, segundo estimativas do setor) recorria a uma estratégia. Eles compravam uma quantidade maior dos produtos mais vendidos antes que os preços subissem e conseguiam vender ao cliente pelo preço antigo mesmo após o reajuste.

Agora, como não têm o mesmo poder de barganha das grandes drogarias, que podem negociar diretamente com as indústrias, esses estabelecimentos estão tendo que comprar com prazos mais curtos e encontrando poucos medicamentos com desconto. Resultado: não conseguem ficar sem repassar o aumento para o cliente por muito tempo.

A principal causa desse efeito no bolso do consumidor não é, portanto, o reajuste, mas o impacto da crise na rede de distribuição. Sem financiamento, ela não consegue oferecer prazos e descontos como antes.

"O primeiro impacto da crise foi no distribuidor. O segundo impacto foi nas farmácias, principalmente as independentes, porque o distribuidor não conseguiu mais repassar o crédito", diz Marcello Albuquerque, diretor de linha de negócios da IMS Health, consultoria especializada no mercado farmacêutico.

Segundo a avaliação da Febrafar (Federação Brasileira das Redes Associativistas de Farmácias), que representa mais de 2.500 pequenas e médias farmácias ligadas a redes independentes em 11 Estados, com essas condições, as lojas não vão conseguir praticar os mesmos descontos.

"Nos últimos seis meses, o preço não subiu. Mas o consumidor está pagando mais porque já não tem desconto", aponta o presidente da Febrafar, Edison Tamascia.

As distribuidoras, por sua vez, sentem o efeito da crise na dificuldade para conseguir crédito nos bancos. Era com os financiamentos que elas bancavam prazos mais longos e descontos mais generosos para os varejistas, já que os prazos das indústrias são mais curtos. Agora, algumas distribuidoras estão tendo dificuldades até para repor o próprio estoque.

"Todas as distribuidoras estão tendo falta de produtos", diz Luiz Fernando Buainain, presidente da Abafarma (Associação Brasileira do Atacado Farmacêutico), que representa as empresas de distribuição.

Segundo ele, ainda não é possível quantificar os medicamentos que estão faltando no mercado, mas já há dificuldade para encontrar alguns produtos tanto no atacado quanto no varejo. A associação deve encomendar, para os próximos meses, uma pesquisa para mapear essas faltas.

Na avaliação de Buainain, "se a indústria não se cuidar, vai haver uma crise muito grande na distribuição". Ele defende que os laboratórios ofereçam prazos mais longos de compras para os distribuidores.

Os laboratórios, no entanto, não têm a mesma perspectiva. A Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica), diz que não há movimento entre as indústrias do setor no sentido de flexibilizar as condições de compra. Segundo Ciro Mortella, presidente-executivo da entidade, a mudança das políticas comerciais não é uma tendência no setor.

Na outra ponta da cadeia, os donos de pequenas farmácias não estão otimistas com o novo quadro. A reportagem conversou com dez proprietários na região central de São Paulo e constatou que a nova realidade preocupa o setor.

"Nós temos que dar desconto, se não, não vendemos. E a margem de lucro, que já é pequena, diminui mais ainda", reclama Tadashi Yashida, dono de uma drogaria no bairro da Liberdade. Segundo ele, "90% dos clientes chegam perguntam: e o desconto?".

O desconto que o consumidor recebe está saindo do caixa dos comerciantes, que já não têm como evitar o repasse por muito tempo. "Você tem que mexer na sua margem [de lucro] para poder dar o desconto. Quem dá descontos maiores está pagando para trabalhar", diz Ivan Juris Martins, dono de uma farmácia no Cambuci.

Entre as grandes redes a preocupação parece menor. Para Sérgio Mena Barreto, presidente-executivo da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drograrias), que reúne as maiores redes do setor, assim como nos outros anos, o aumento ficará embutido nos descontos.

De acordo com Barreto, a dependência do atacado é uma preocupação maior para as empresas pequenas e médias. Com relação às grandes, ele diz que, "em princípio estão muito bem, mas a gente não sabe o que pode acontecer".

A Anvisa, que no anúncio do teto do reajuste dos preços, no último dia 11, disse que o preço máximo ao consumidor poderia sofrer descontos de acordo com as políticas de comercialização das empresas, informou que a agência não tem como regular essa relação.

"É uma relação privada, mas ninguém é contra o desconto", disse Luiz Milton Veloso Costa, secretário-executivo da Cmed (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos).





Fonte: Agora

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