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Segunda - 27 de Novembro de 2006 às 08:55

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Ribeira, SP - Dezoito anos depois de ser anunciada, a Usina Hidrelétrica do Tijuco Alto, que a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do Grupo Votorantim, quer construir no Rio Ribeira, na divisa de São Paulo com o Paraná, não saiu do papel e já está 50% mais cara. Quando a obra foi projetada, em 1998, a previsão de gastos era de R$ 330 milhões. Hoje, o custo atinge R$ 500 milhões, segundo os cálculos da empresa. Em todo esse tempo, o projeto passou por vários órgãos ambientais e sofreu inúmeras mudanças.

Um novo estudo de impacto ambiental está sendo analisado pelo Ibama. A cada dia que passa, aumenta o custo da obra e a descrença dos moradores nos cinco municípios que seriam atingidos pela hidrelétrica. "É um exemplo de como a legislação ambiental pode tirar as chances de desenvolvimento de uma região", disse o vereador e ex-prefeito Luiz Antonio Dias Batista (PSDB), de Ribeira, a 360 km de São Paulo.

Segundo ele, em quase duas décadas de expectativa, muita gente deixou de investir. A cidade perdeu 2 mil empregos e voltou a sofrer com o êxodo dos moradores. A região, que é a mais carente do Estado, está ainda mais pobre. "Nossa renda per capita é inferior ao salário mínimo", afirma Batista.

Enquanto o projeto está parado, os 1.972 moradores das áreas a serem inundadas vivem num clima de incerteza. "Isso está muito enrolado e depois que a CBA comprou as terras, acabou o trabalho", reclama o sitiante Eduardo Tavares dos Santos, 53 anos. Ele mora com a mulher e duas filhas no bairro da Ilha Rasa, em Ribeira, e espera uma indenização que não tem data para chegar. "Nem posso mexer na casa." Além da entrada da CBA comprando terras, as mineradoras Plumbum e Rocha, que exploravam minérios, saíram da região.

Vilas fantasmas

Bairros rurais que antes exploravam a cultura da banana ou forneciam mão-de-obra para a mineração viraram vilas fantasmas. Na Vila do Bom Jesus, só ficaram Lino Pontes Maciel, de 80 anos, e sua mulher Maria Duarte, de 74. A pequena igreja está fechada. O casal sente falta dos seis filhos que foram embora logo que a CBA começou a comprar as terras. As safras acabaram e o velho Lino, que é seleiro, deixou de receber encomendas. "Aqui tudo minguou e, se não tiver a barragem, agora vai ser pior", disse. Na Vila do Rocha, a escola e o posto do correio estão em ruínas. Até o cemitério foi abandonado.

O produtor rural Nodir Dringote, 32 anos, admite vender as terras e deixar a beira do rio, "por um preço que compense". Ele cultiva bananas e tem 135 colméias produzindo mel. "Estamos aqui há 40 anos."

Outro ribeirinho, Darci Cerbello, de 59 anos, diz que só vai acreditar na barragem "quando vir com esses olhos". Ele, a mulher Ana Maria, 3 filhos e 1 neto cuidam do sítio para o dono das terras. Eles querem ir para um assentamento. Nas margens do rio, em locais onde o único acesso se dá por barcos, há um clima de expectativa e desconfiança. "Será que agora sai?", pergunta João Ramos, de 47 anos. Ele decidiu colocar piso no casebre à beira-chão, mesmo que a água vá cobrir tudo. "Se inundar, fazer o quê?





Fonte: Agência de Notícias

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