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Economia
Quinta - 22 de Abril de 2004 às 10:26
Por: Renato Andrade e Gustavo Freir

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Brasília - A expectativa de que o repasse do aumento de preços do atacado para o varejo acontecerá de maneira menos intensa foi a principal justificativa do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para decidir, por unanimidade na semana passada, cortar novamente a meta da taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, dessa vez para 16% ao ano. "O comitê entendeu que essa redução é coerente com o diagnóstico da última reunião, que atribui uma maior probabilidade ao cenário benigno de baixa persistência para a inflação nos próximos meses, permanecendo baixa a intensidade de repasse do atacado para o varejo", afirmam os diretores do BC na ata da reunião da semana passada, divulgada esta manhã.

O Copom destaca que apesar da inflação do primeiro trimestre ter sido superior ao esperado, as expectativas de inflação do mercado permaneceram "relativamente estáveis". A pequena elevação verificada ocorreu, segundo o Comitê, apenas por um processo de incorporação dos valores de inflação já ocorridos. "O efeito sobre as expectativas foi marginal; elas permanecem, portanto, adequadamente ancoradas", argumentam.

A aposta no cenário de baixo grau de persistência da inflação do primeiro trimestre é ancorada, segundo análise do Copom, no "alívio sazonal" esperado para a inflação dos preços livres ao longo do segundo e terceiro trimestres do ano, como historicamente acontece. Os diretores do BC lembram que as projeções de inflação da autoridade monetária (com juros constante em 16,25% e câmbio a R$ 2,88 por dólar) apontam para uma inflação "ligeiramente inferior" à meta de 5,5% de 2004 e abaixo da meta de 4,5% em 2005. Usando os parâmetros do mercado, essas projeções indicam variações acima das metas. Em março, ambos os cenários contemplaram aumento da projeção de inflação para 2004, já que a inflação verificada ficou acima do estimado na reunião do Copom de março.

"O cenário de mercado projeta inflações mais altas do que o cenário de referência (BC) por pressupor uma tendência declinante da taxa de juros e uma elevação, ainda que pequena, na taxa de câmbio", explicam os diretores. "Dado que o valor projetado pelos dois cenários para a inflação de abril situou-se muito próximo ao esperado pelas instituições classificadas como Top 5 (os melhores em projeções) de curto prazo na pesquisa da Gerin, incorporar essas expectativas aos cenários de projeção, como vinha sendo feito pelo Copom em notas recentes, não altera de forma significativa, neste caso, as inflações projetadas para 2004 e 2005", argumentam os diretores.

Em função do cenário para a inflação configurado por essas considerações, o Copom resolveu reduzir novamente a meta da taxa Selic.

Conta-gotas

O Copom acredita que a atuação "cautelosa" da política monetária tem sido "fundamental" para aumentar a probabilidade dos índices de inflação convergirem para as metas estabelecidas. "Para que essa maior probabilidade se materialize, entretanto, é preciso que os indicadores prospectivos de inflação continuem apresentando elementos compatíveis com o cenário benigno de baixa persistência que tem sido considerado", alertam os diretores do BC na ata. O Comitê argumenta que a dinâmica da política monetária tem "contornos diferenciados" quando se está enfrentando uma "crise aguda", como no fim de 2002 e início de 2003, ou quando se está lidando com situações de "maior estabilidade econômica", como em meses recentes.

"Logo, quando se reverte a crise, como a taxa de juros ainda se encontra em patamares bastante elevados, os decréscimos tendem a ser maiores. Porém, outra dinâmica deve ser observada em situações de maior estabilidade, quando a convergência da inflação para a trajetória de metas, em paralelo ao processo sustentado de retomada da atividade, deve ser completada de forma muito mais cuidadosa", argumentam os diretores, numa defesa clara da política de corte de juros a conta-gotas.

"O Copom ressalta que não faz sentido, diante do quadro de normalização macroeconômica que o País vem logrando consolidar, inferir de forma mecânica que um ritmo mais moderado de reduções dos juros corresponda a uma avaliação negativa sobre o comportamento futuro da inflação, ou que dele deva resultar pessimismo a respeito da trajetória futura do nível de atividade", afirmam os diretores do BC na ata. "Pelo contrário, um sintoma natural da normalização progressiva do ambiente macroeconômico é justamente o decaimento do ritmo médio dos cortes da taxa de juros básica", defendem. Para os diretores do BC, além de permitir um maior alcance ao processo de flexibilização, esse procedimento cauteloso de redução da taxa básica de juros viabiliza uma "transição suave" para um cenário duradouro de estabilidade com crescimento econômico, mediante menor volatilidade das taxas de juros de mercado no médio prazo.

Juros dos EUA

Segundo o Comitê, de forma geral, o cenário externo permanece "bastante favorável". Para os diretores do BC, a perspectiva de crescimento das principais economias mundiais estimula o saldo comercial. "Em março, o saldo da balança comercial foi 73,3% superior ao do mesmo mês de 2003", exemplificam. Os diretores do BC também chamam atenção para o fato de que a antecipação da previsão de aumento da taxa de juros básica nos Estados Unidos não deve acarretar correções "muito acentuadas" nos custos e na disponibilidade do financiamento externo para a economia brasileira ao longo de 2004. "Apesar da provável instabilidade que deverá ser observada no curto prazo", ponderam.

Para o Copom, fato importante a se observar é que os cenários "plausíveis" de elevação da taxa básica de juros norte-americana já estão "precificados" pelos mercados de títulos. "O que permite antever um impacto residual menor sobre as condições de liquidez internacional no momento em que esses cenários vierem a se concretizar", explicam. "Além disso, o expressivo ajuste de conta corrente realizado pelo Brasil e a redução da parcela da dívida pública com indexação cambial contribuem significativamente para mitigar não só o impacto que uma dada deterioração das condições de liquidez internacional teria sobre o financiamento do balanço de pagamentos brasileiro, como também o impacto de piores condições de financiamento externo com que o País se defronte sobre sua taxa de câmbio", completam.

Saldo comercial expressivo

O País fechou o primeiro trimestre do ano com um superávit de US$ 1,7 bilhão no saldo de suas transações correntes, conforme informa o Comitê. Esse resultado indica que, somente em março, as transações correntes do País registraram um superávit acima de US$ 800 milhões, dado que no primeiro bimestre a conta corrente brasileira acumulava um superávit de US$ 865 milhões. Os dados consolidados das contas externas em março serão divulgados pelo Departamento Econômico (Depec) do BC na próxima terça-feira. Segundo os diretores do BC, o resultado das transações correntes reflete os "expressivos" saldos comerciais que o País vem registrando em sua balança comercial.




Fonte: Estadão.com

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