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Sexta - 08 de Maio de 2015 às 17:24

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Aos 71 anos de idade, o jornalista Percival de Souza tem mais de 40 anos de experiência na área criminal, 18 livros publicados e quatro prêmios Esso de Jornalismo, um dos mais importantes da área. Seu nome, no entanto, ficou mais conhecido por conta das brincadeiras de Marcelo Rezende no programa policial "Cidade Alerta", da Record. Em entrevista exclusiva ao UOL, ele confessa que viveu momentos de decepção por conta disso, mas que hoje tem convicção de que o lado humorístico não tira o prestígio de sua trajetória.

Reprodução

"No início, cheguei a me sentir frustrado, por ter livros adotados em várias faculdades, e um deles, 'Autópsia do Medo', ser tema de doutorado na faculdade de história da USP. Mas tenho uma receita: o que digo na TV tem a mesma dimensão se eu estivesse falando numa faculdade, num congresso, ou em um encontro com especialistas. Procuro ser didático, pedagógico até. A isso, adiciono o fato de sermos [ele e Rezende] do ramo, conhecemos o assunto do qual estamos falando, o que nos permite informar, criticar, elogiar, cobrar, exigir. Também somos especialistas, estudei Criminologia e Direito", diz ele, que costuma comentar os crimes exibidos na atração, sempre que o companheiro de palco solicita sua participação.

No "Cidade Alerta", que fica diariamente no ar por três horas e meia, Percival "interpreta" um "magnata", com ares de rei, e é constantemente alvo de piadas de Rezende. O jornalista passa a maior parte da atração sentado em uma espécie de trono. O apresentador também criou outros personagens que acompanham o enredo de Percival. Entre eles, o cachorro Barra Funda, o carro Malloy, o helicóptero Comandante Stuart e o palhaço que ri diante da omissão das autoridades.

"O Marcelo [Rezende] descobriu o formato de fazer na essência, o que nós jornalistas fazemos. Ou seja, contar bem uma história. Modéstia à parte, ninguém entende mais sobre o funcionamento do sistema criminal do que eu e o Marcelo na televisão brasileira. A brincadeira tem um peso forte, mas sabemos a hora certa. Não me sinto diminuído por conta disso de jeito nenhum. Primeiro, temos uma história no jornalismo. Eu, por exemplo, ganhei quatro prêmios Esso, que é o Nobel do jornalismo brasileiro. Não é esse o parâmetro para medir", justifica.

No início, cheguei a me sentir frustrado, por ter livros adotados em várias faculdades, e um deles, 'Autópsia do Medo', ser tema de doutorado na faculdade de história da USP. Mas tenho uma receita: o que digo na TV tem a mesma dimensão se eu estivesse falando numa faculdade, num congresso, ou em um encontro com especialistas
conta o jornalista Percival do "Cidade Alerta"

Sem medo do ridículo, Percival teve seu bigode "leiloado" após Rezende lançar uma pesquisa no programa questionando se o repórter deveria ou não removê-lo. Como parte do espetáculo, Souza aceitou participar do "Domingo Show" comandado por Geraldo Luís e ao vivo permitiu que raspassem o seu bigode no palco. Chegou até a usar uma máscara para aumentar o suspense em volta do "novo visual".

Reprodução/Record
Marcelo Rezende e o personagem cão Barra Funda durante apresentação do "Cidade Alerta"

Como consequência do jornalismo popular, Percival conquistou fãs, os quais não esperava angariar nessa fase da vida, e garante que costuma fazer mais sucesso que a noiva em casamentos. "Cativamos o público infantil por conta dos personagens, elas adoram. É comum eu estar em um restaurante, por exemplo, e a mãe trazer o filhote, ou a filhota, que dizem: 'Cota pá mim, Pecival' [sic]", conta. Recentemente, ele recebeu uma homenagem de uma admiradora mirim. "Uma senhora, mãe de uma criança na Alemanha, veio ao Brasil com a filha só para conhecer eu e o Marcelo. A mãe me contou que deu um cãozinho para ela, que passou a chamá-lo de 'Percivalzinho'".

Sorridente, Souza se gaba de seu lado animador. "Sempre fui bem-humorado. O que eu não sabia é que poderia usar isso profissionalmente, interagindo com o Marcelo. Para nós, o 'Cidade Alerta' é mais do que um programa. É uma responsabilidade por termos conquistado o primeiro lugar em audiência diária da TV Record". No mês de abril, o jornalístico obteve nove pontos no Ibope, 0,6% a mais em relação a março.

"Há um grande conflito intelectual"

Envolta de tantos questionamentos sociais, como a questão da redução da maioridade penal, a legalização do aborto, a aprovação da lei de terceirização e até pedidos para volta da ditadura militar, Percival faz críticas ao atual momento político brasileiro e analisa as ideias defendidas por grupos conservadores da sociedade, os quais fazem parte de sua convivência.

"Hoje, há um grande conflito intelectual. Tanto a esquerda, quanto a direita estão diluídas. O assunto segurança pública é tratado com amadorismo no país, há um domínio da república dos bacharéis. Não quero nem os militares de ontem, nem os que nos transformam em cobaias. Ambos são nefastos. As pessoas estão incrédulas, pensam em si próprias, em seus filhos, nos familiares, tomam conhecimentos de casos traumáticos [diariamente]. E querem solução. O direito penal não oferece todas as respostas para sociedade", justifica.

Acostumado a ver de perto crimes dramáticos, o jornalista se mostra a favor de uma reavaliação da maioridade penal. "Estudos mostram que não dá para medir a perigosidade pela faixa etária. Em contrapartida, vemos muitos menores de idade envolvidos em crimes. Não acredito que na nossa sociedade de hoje não existam rapazes de 16 anos que não saibam o que estão fazendo. Do jeito que está atualmente não dá para ficar. Acho que pelo menos o prazo de três anos para detenção precisa ser revisto", analisa.

Membro da igreja Presbiteriana

Caseiro, Percival é casado há 45 anos com Yeda, pai de Andréia e Tatiana e avô da Julia e do Murilo. Na próxima semana, ele levará ao altar a caçula, Tatiana, que se casará com um delegado da Polícia Federal. "Estou muito feliz. Prezo muito minha família, minha mulher é a parceira de todas as horas", comemora ele, que diz ser um homem religioso. "A Deus, devo tudo o que sou e o que tenho. Procuro andar nos seus caminhos: Ele sempre tomou conta de mim, sempre foi generoso. Minha origem é de família muito pobre. Pelo andar da carruagem, eu deveria fazer alguma coisa na área rural".

Telespectador da TV Cultura, Percival costuma acompanhar o programa intelectual "Café Filosófico". E já sabe o que fazer caso o "Cidade Alerta" acabe. "Gostaria de me dedicar à minha paixão, a literatura. Escrever, aventurar-me na ficção. A literatura é o espetáculo das palavras, e narrar ou comentar na TV exige ser testemunha da história, na verdadeira arte do jornalismo que é a reconstrução dos fatos. Mas, no fundo, no fundo, acho que Marcelo e eu estaremos de bengalinha, sempre juntos, em algum lugar, até Deus permitir!", conclui.





Fonte: DO UOL ENTRETENIMENTO

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