A Fifa está satisfeita: as obras dos estádios para a Copa do Mundo de 2014 estão a pleno vapor. Tudo indica que a competição vai ocorrer sem sobressaltos. Mas há sérias dúvidas de que o evento trará os benefícios prometidos para a população. Especialistas alertam que as empresas privadas ainda não perceberam que o jogo para elas já começou. E vão além: se sobra investimento em estrutura, falta em inteligência para gerenciar as arenas de maneira sustentável.
Eduardo Costa, criador do Programa 14bis - que prevê investimentos de até R$ 120 milhões para projetos de inovação tecnológica para a Copa e a Olimpíada de 2016 - diz que as empresas estão muito paralisadas olhando apenas para a questão do patrocínio e construção de arenas.
"Nos grandes empreendimentos relacionados ao governo é difícil uma empresa pequena participar. Mas imagina um aplicativo em que o estrangeiro pode chegar num telefone público qualquer, apertar um número pré-definido e o código do país de onde ele veio. Do outro lado, vai atender uma pessoa que fala a língua dele e vai ajudá-lo a se localizar. O empresário está vendendo isso para o governo, mas precisamos de outros projetos de inovação", afirmou Costa, que participou de um debate no Rio Info 2012, maior congresso de tecnologias da informação do Brasil, sobre as experiências da Olimpíada de Londres que o país pode reutilizar.
"Existe a oportunidade e as empresas não estão sabendo aproveitar. As empresas não se deram conta ainda. É isso que precisamos alertar. A audiência dos dois eventos é incrível. São bilhões de pessoas. Olhando sob o ponto de vista da oportunidade, é um mundo infinito", explicou. "As empresas precisam se conscientizar que a Copa não é um evento de um mês. A Copa já começou."
Lala Deheinzelin, especialista em economia criativa e desenvolvimento sustentável e fundadora do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP, vai ainda mais longe. Para ela o investimento da Copa do Mundo está sendo muito focado em infraestrutura e o governo está relegando a qualificação da mão de obra.
"Segundo números do BID, 97% do investimento é em infraestrutura. O problema é que, se não se investir na inteligência para gerenciar toda esta infraestrutura, será o caos. Não vai dar certo. Estamos perdendo tempo", garantiu a especialista, que participou de outro painel no primeiro dia da Rio Info 2012.
Segundo ela, o Brasil corre o risco de fazer eventos de sucesso, mas que vão fracassar em deixar um legado para a sociedade. "Porque estádios, arenas, apodrecem e o que serve hoje já não serve amanhã. As arenas dos Jogos Pan-Americanos que vão ser esquecidas na Olimpíada estão aí para provar. Mas inteligência, inovação, isso é permanente", disse Deheinzelin, que esteve em Pequim e viu que os grandes estádios construídos para os Jogos de 2008 estão esquecidos.
"O Ninho do Pássaro e as arenas da Olimpíada de Pequim, eu estive lá, são um mico para o país. Estão entregues às moscas. Mesmo o grande aeroporto que foi feito hoje opera utilizando muito pouco da sua capacidade. E não vejo ninguém analisando o peso da realização da Olimpíada de Atenas para a crise da Grécia hoje em dia. É outro país que tem grandes elefantes brancos que hoje não servem para nada, mas nos quais se investiu muito dinheiro", analisou a especialista.
Deheinzelin acredita, no entanto, que ainda dá tempo de encontrar uma solução. "Agora é hora de fazermos uma força-tarefa de qualificação e inovação. O Brasil tem uma experiência muito boa de trabalho em redes neste sentido. Eu tive um sonho muito engraçado esses dias que, em vez de se fazer aquela obra enorme do Maracanã, cada comunidade do Rio de Janeiro ficou responsável por uma parte. E o resultado era muito melhor e tinha a nossa cara. Então é uma questão de viabilizar soluções de inteligência e inovação para que tenhamos um legado de verdade."
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