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Sexta - 17 de Dezembro de 2021 às 09:41
Por: Michael Esquer/Olhar Direto

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A descoloração e o baixo nível de água da gruta da Lagoa Azul, conhecido ponto turístico do Complexo de Cavernas Aroe Jari, tem despertado a atenção de turistas e guias que visitam a cidade de Chapada dos Guimarães. Para entender o que influencia este fenômeno, o Olhar Direto entrevistou a presidente do Instituto Mato-Grossense de Espeleologia (IMEsp).

Para Natally Neves Linhares, a situação hidríca da região é, inédita, devido à seca, mas a preocupação quanto a cor não se sustenta do ponto de vista científico, apesar de ser normal por aqueles que visitam a Lagoa. Isto porque, conforme ela explica, é natural que todos os anos a gruta sofra a alteração da sua coloração, isto devido a uma condição dos seres humanos.



“A questão da coloração da lagoa azul, diferente do que muita gente antigamente, principalmente guias afirmavam, que era presença das cianobactérias, na verdade essa coloração azul é uma condição dos nossos olhos, dos seres humanos”, explica.



Para que esse fenômeno ocorra é necessário que haja a incidência de luz solar sobre a água. Neves diz que essa incidência acontece em períodos bem definidos do ano, especificamente entre maio e agosto, também conhecido como solstício de verão. Nessa época, o sol se posiciona bem em frente a entrada da caverna.

Imagem da caverna com a sua comum coloração entre maio e agosto. (Foto: Natally Neves)

“Às duas da tarde a luz do sol se posiciona bem em frente a entrada da caverna, fazendo com que a luz do sol entre e atravesse a água. A luz do sol possui todas as cores, é uma luz branca, e quando ela chega num local que tem bastante água, com profundidade, ela reflete para nossos olhos a luz azul”, exemplifica.


O começo do período das chuvas e a constante visitação de turista, porém, podem sim influenciar e contribuir para o enfraquecimento da famosa cor da gruta da Lagoa Azul. Este último, devido ao processo de assoreamento — acúmulo de terra, lixo e matéria orgânica no fundo de um rio — que é causado na região.



“Essa coloração azul que a gente vê, até um pouco mais disfarçada, a gente não tá vendo porque ta chovendo e essa água tá entrando junto com areia”, disse. "Acaba que quando chove, forma um curso d'água pequeno, mas esse curso d'água ele tá assoreando, até porque os guias e visitantes estão pisando nessa parte seca e ela vem trazendo areia de fora pra dentro da caverna, deixando a água turva".



Situação hidríca preocupante



Apesar de refutar que a mudança na coloração da gruta seja uma preocupação real, a pesquisadora alerta para outro problema: a seca. Segundo Natally, que atua na região há cerca de 20 anos, o baixo nível de água na caverna, é inédito e motivo de grande apreensão.



“Ela tá com pouca água, todas as cavernas ali que são do complexo de visitação. Esse fato vem mostrando uma situação hídrica da região. Não dá pra você falar que é uma situação só das cavernas, as cavernas são na verdade um laboratório que tem mostrado que tá acontecendo alguma coisa na região. A falta de água que o lençol tá sofrendo”, relatou.



Todas as cavernas do Complexo Aroe Jari, conta, compartilham de um sistema único, que é o sistema hídrico do lençol freático da região. Natally conta que, por isso, é comum que todo ano ocorra o alagamento das grutas das cavernas, após o período das chuvas. Este ano, porém, a situação está sendo diferente, porque não houve esse enchimento no ano passado.



“Não tem relatos disso ter acontecido anteriormente, então é um fato inédito até então, da caverna tá bem seca, e também refletiu nas outras duas que é a Aroe Jari e Pabo Jari. Elas alagam, elas não alagaram no último ano.”, relatou.



Sobre isso, a presidente do IMEsp conta que é necessário uma investigação que possa dar conta de que fenômeno está envolvendo a seca nas cavernas. “Tem que se estudar, pra poder ficar afirmando, tem que ser feito pesquisas para isso, e é uma pesquisa de hidrogeologia, hidroesperiologia pra poder apontar com certeza”.


O que diz a Prefeitura



A reportagem entrou em contato com o Executivo Municipal de Chapada dos Guimarães para questionar a ciência da mudança percebida pela população no ponto turístico. De acordo com a assessoria da Secretaria de Turismo do município, a pasta já tem ciência da situação.



Ainda conforme a assessoria, na opinião do secretário da pasta, Alexandre Barão, assim como aponta a especialista, a alteração seria um fenômeno natural. Para Barão, é normal que em determinadas épocas do ano a Lagoa mude de coloração.





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