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Nacional
Quarta - 16 de Outubro de 2013 às 09:36

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O policial militar que prestou depoimento sobre o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, disse que a capa da motocicleta usada para esconder o corpo do ajudante de pedreiro e retirá-lo da favela após a tortura, pertencia ao major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, conforme mostrou o Bom Dia Rio.

Ainda segundo o policial, durante a tortura o ajudante de pedreiro teria sido afogado dentro de dentro de um balde que ficava ao lado da UPP. O recipiente servia para armazenar a água que escorria do ar condicionado do conteiner. Em depoimento, o policial também disse que os envolvidos prejudicaram o trabalho da polícia. Um dia depois do desaparecimento de Amarildo, o local foi limpo e todos os vestígios de sangue apagados. Dois diuas depois da tortura eles também teriam jogado óleo no piso e construído um depósito no local.

Os advogados do Major Edson Santos não foram localizados pela reportagem para falar sobre a acusação do MP. Todos os policiais presos negam as acusações.

O Ministério Público do Rio informou que vai incluir outros dez nomes de policiais à denúncia referente ao desaparecimento do ajudante de pedreiro. Eles serão indiciados pelos crimes de tortura seguida de morte, ocultação de cadáver e também por omissão.

O MP também quer que o major Edson Santos seja transferido para outro presídio para proteger a investigação. Segundo os promotores, ele estaria influenciando os policiais presos que poderiam colaborar com as investigações em troca de redução da pena.

Nesta segunda, a polícia realizou nova perícia no local onde o policial indicou que houve tortura contra Amarildo. Eles encontraram vestígios de sangue e o material foi encaminhado para análise.

No dia 1º de outubro, o ex-comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, major Edson Santos, e outros nove policiais militares foram indiciados pelo crime. Amarildo de Souza desapareceu em 14 de julho, após uma abordagem policial.

Novas buscas
A Polícia Civil voltou à Rocinha, na Zona Sul do Rio, no fim da tarde desta segunda-feira (14), para uma nova tentativa de encontrar o corpo do ajudante de pedreiro e realizar uma nova perícia. Os investigadores tentaram confirmar detalhes do depoimento de mais um PM sobre o crime.

As revelações incriminam mais cinco PMs, além dos dez que foram indiciados e presos, e contam detalhes de tortura realizada na sede da UPP, na noite do desaparecimento de Amarildo.

A informação é de um PM da UPP, que estava de serviço na noite do desaparecimento do pedreiro, em 14 de julho. O depoimento foi realizado durante seis horas até a madrugada desta segunda, no Ministério Público (MP). Os PMs citados devem ser denunciados, segundo o procurador-geral de Justiça, Marfan Martins Vieira.

Choques e asfixia
A nova testemunha contou que recebeu a ordem do tenente Luís Felipe Medeiros, oficial da UPP, para que todos ficassem dentro do contêiner naquela noite, e de lá não saíssem. Segundo ele, logo que entraram, passaram a ouvir gritos de dor, agressões, barulhos de choques e ruídos de uma pessoa sendo asfixiada. A sessão de tortura teria durado 40 minutos.

Após um silêncio, o policial diz ter ouvido gritos de que algo teria dado errado. Logo depois, foi ouvida uma movimentação na mata atrás do comando da UPP, o que motivou as novas buscas e a nova perícia realizada nesta segunda.

No local, os policias civis usaram uma substância química capaz de identificar vestígios de sangue, atrás dos contêineres onde está a montada a UPP. O policial que fez as novas denúncias não teve a identidade revelada e está sob proteção.

Mais buscas
No sábado (12), a Polícia Civil divulgou neste imagens das buscas realizadas na sexta-feira (11). O vídeo mostra os agentes mergulhando em dois reservatórios de água que ficam no alto da Rocinha. Trinta e cinco policiais da Divisão de Homicídios, em conjunto com o Corpo de Bombeiros, participaram da operação, que terminou sem sucesso.

Delegada Ellen Souto: 'Não desistiremos enquanto houver informações sobre o paradeiro' (Foto: Gabriel Barreira/G1)


Delegada Ellen Souto, responsável pelo inquérito:
"Não desistiremos enquanto houver informações
sobre o paradeiro" (Foto: Gabriel Barreira/G1)

Bombeiros chegaram a mergulhar nas represas do Laboriaux e Dioneia, que foram apontadas por moradores como possíveis paradeiros. Foi a terceira busca da Polícia Civil. "Não desistiremos enquanto houver informações sobre o paradeiro", disse a delegada do inquérito Ellen Souto.

Ao todo, 70 pessoas participaram da operação entre policiais e bombeiros. A primeira vistoria aconteceu na represa Laborioux, cujos seis metros de profundidade foram esvaziados. Depois, os agentes foram até o reservatório da Dioneia, que não chegou a ser evacuada. No total, foram cerca de 5 horas de busca.

 

Detalhes do inquérito
A DH deu detalhes, na sexta-feira (4), sobre o inquérito que indiciou e pediu a prisão de dez PMs no caso do desaparecimento de Amarildo. Segundo uma testemunha, durante a abordagem dos policiais no bar da Rocinha, onde o ajudante de pedreiro foi visto pela última vez antes de entrar no carro rumo à UPP, um dos PMs teria dito: "Boi, perdeu, chegou a sua hora".

"Boi" era o apelido de Amarildo e a frase teria sido dita por Douglas Roberto Vital Machado, um dos 10 PM presos — todos já se apresentaram após a prisão preventiva decretada —, e um telefonema de um informante, segundo a delegada Ellen Souto, responsável pelo inquérito. Depois da abordagem, ele entrou no carro da PM e não foi mais encontrado. Após mais de dois meses, seu corpo também não foi achado. Oito necrópsias já foram realizadas, em todo o estado, para verificar se cadáveres eram dele.

"Nós comprovamos o motivo pelo qual que ele [Amarildo] seria levado à sede da UPP. Seria para fornecer informações sobre drogas e armas, principalmente armas, já que havia a informação de que ele teria a chave do paiol de armas", explicou a delegada Ellen Souto.

De acordo com a investigação da Polícia Civil, Amarildo morreu após ser submetido a uma sessão de tortura. A delegada revela ainda que foram ouvidas 22 vítimas da violência de policiais da UPP Rocinha. De acordo com Ellen, os depoimentos narram com detalhes a forma de agir da tropa do major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha. "Eles relatam que as torturas sofridas foram sempre com o objetivo de informações de drogas e armas. Todos contaram que foram submetidos a choques elétricos com o corpo molhado e ingeriram cera líquida."

Prisão decretada
Os policiais militares vão responder judicialmente pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. São eles: Edson dos Santos (ex-comandante da UPP), Luiz Felipe de Medeiros, Jairo da Conceição Ribas, Douglas Roberto Vital Machado, Marlon Campos Reis, Jorge Luiz Gonçalves Coelho, Victor Vinícius Pereira da Silva, Anderson César Soares Maia, Wellington Tavares da Silva e Fábio Brasil da Rocha.

Versão fantasiosa
No texto da denúncia, o Ministério Público indica que PMs criaram uma "versão fantasiosa" para atrapalhar a investigação do sumiço do ajudante de pedreiro. O documento afirma que "previamente ajustados entre si, os denunciados, aproveitando-se do fato de as câmeras localizadas na frente da base estarem providencialmente com defeito, montaram versão fantasiosa da saída do denunciado da sede da UPP e passaram a fazer notícia de que este teria sido sequestrado e morto pelos traficantes daquela comunidade".

PMs negam
Segundo o criminalista Marcos Espínola, advogado de Victor da Silva, Douglas Machado, Jorge Luiz Gonçalves Coelho e Marlon Campos Dias, a conclusão do inquérito não contém provas que incriminem seus clientes e a prisão é um exagero. “Não há necessidade de prender réus primários, com bons antecedentes, residência fixa e emprego, podendo ser encontrados a qualquer momento para colaborar com o processo”, explicou, em nota enviada pela assessoria de imprensa.

Policial se passou por traficante
O documento do Ministério Público descreve que, quatro dias após o desaparecimento, um dos policiais, sabendo o número de um telefone que estava apreendido e que era monitorado pela polícia, usou o celular de um morador da comunidade, se passando pelo traficante Catatau, e afirmou que era um dos autores da morte de Amarildo.

De acordo com a denúncia, o major Edson Santos, na época comandante da UPP da Rocinha, inconformado com o fracasso da Operação Paz Armada, realizada na sua área, determinou aos demais policiais denunciados que localizassem e levassem para a sede da UPP pessoas que fossem ligadas ao tráfico, com a finalidade de extrair informações sobre a localização das armas e drogas.

Uma ligação ao soldado Douglas Roberto Vital Machado acabou fazendo com que os PMs chegassem até Amarildo, que estava em um bar, com a chave de um paiol do tráfico, diz o MP.

O documento diz ainda que "no dia 14 de julho de 2013, em horário que não se pode precisar, mas após as 19 horas, no Parque Ecológico da Rocinha, perto da sede da UPP, na região chamada de Portão Vermelho, os PMs torturaram Amarildo com emprego de violência, "causando-lhe sofrimento físico e mental, com fim de obter informações da vítima". As lesões produzidas foram a causa eficiente da morte da vítima, segundo a Promotoria.

Entenda o caso
Amarildo sumiu após ser levado à sede da UPP da Rocinha, onde passou por uma averiguação. Após esse processo, segundo a versão dos PMs que estavam com Amarildo no dia 14 de julho, eles ainda passaram por vários pontos da cidade do Rio antes de voltarem à sede da Unidade de Polícia Pacificadora, onde as câmeras de segurança mostram as últimas imagens de Amarildo, que, segundo os policiais, teria deixado o local sozinho.

No dia 27 de setembro, uma ossada achada em Resende, no Sul Fluminense, passou por uma necrópsia, motivada pelas suspeitas de que poderia ser de Amarildo. O relatório, porém, foi considerado inconclusivo, e a ossada será novamente analisada no Rio de Janeiro.





Fonte: Do G1

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