Sob ataque, rebeldes avançam rumo à cidade natal de Gaddafi
Os dois lados da guerra pelo controle da Líbia avançaram neste sábado. As forças leais ao ditador Muammar Gaddafi lançaram uma poderosa ofensiva, com ataques brutais a cidade de Zawiya, controlada pelos rebeldes e a apenas 50 km da capital Trípoli. O exército rebelde, que já controla o leste, venceu as forças rivais e consolidou seu controle sobre o porto petrolífero de Ras Lanuf, e avança agora rumo a Sirte, cidade natal de Gaddafi.
A rota das batalhas na Líbia, às vezes difícil de se identificar, indica que os próximos confrontos podem ocorrer no porto de Surt, reduto da tribo nativa de Gaddafi e no caminho da marcha rebelde rumo à capital Trípoli, bastião do atual regime.
Os maiores confrontos deste sábado ocorreram em Zawiya, onde as forças leais ao regime lançaram uma nova ofensiva com tanques que entraram e abriram fogo contra residências.
"Os tanques estão por todos os lados da cidade e disparam contra as casas. Vi passar sete diante da minha casa. Os tiros não param", afirmou um habitante da cidade à agência de notícias France Presse. "Rezem por nós", completou, antes da ligação ser cortada bruscamente.
O portal de oposição Al Manara informou que 40 tanques entraram em Zawiya e abriram fogo contra as residências. Apesar de não haver um balanço oficial de vítimas, os rebeldes contam desde sete mortos até 200. Não há como confirmar independentemente estes números.
Um dos oficiais das brigadas de Gaddafi declarou à rede de televisão Al Jazeera que os moradores de Zawiya estão sitiados e "não têm saída", o que aumenta o temor pela vida dos milicianos que estão na praça dos Mártires.
Os moradores contatados por telefone pelas agências de notícias dizem que as forças de Gaddafi executaram até mesmo feridos nas ruas.
Com os ataques de artilharia e morteiros, os sitiados sofrem inúmeras baixas e as gravações obtidas por habitantes e mostradas nas redes televisões árabes ilustram um cenário dantesco.
Os relatos são divergentes e há tanto testemunhas afirmando que a cidade continua sob poder dos rebeldes quanto dizendo que Gaddafi assumiu o controle.
FRENTES
Os insurgentes, que avançam rumo ao oeste há alguns dias, anunciaram na sexta-feira que assumiram o controle de Ras Lanuf, 100 km ao leste de Sirte, depois de confrontos violentos com as forças governamentais.
Trípoli nega a afirmação e garante que a situação continua "normal" em Ras Lanuf, mas correspondentes da AFP viram na sexta-feira à noite rebeldes do lado de fora do complexo petroleiro, dos quartéis e da delegacia da cidade.
Em meio a batalha, os rebeldes líbios prosseguiram neste sábado avançando para o oeste e chegaram a Bin Jawad, 30 km além do porto petroleiro de Ras Lanuf e perto de Sirte, cidade natal de Gaddafi.
"Nós os forçamos além de Bin Jawad e hoje vamos bombardear até que retornem a Sirte", declarou um oficial que se uniu à oposição no início da revolta na Líbia.
A luta por Sirte deve ser dura já que a cidade foi transformada numa espécie de segunda capital por Gaddafi.
"Se os rebeldes de Benghazi conseguirem expandir até o golfo de Sirte, eles terão uma boa chance de obter a independência afinal", disse Peter Zeihan, analista do think tank americano Stratfor.
Apesar de Sirte ser a base de boa parte das reservas de petróleo da Líbia, a cidade não tem uma grande infraestrutura. Mas é estratégica geograficamente, já que abriga uma grande base militar aérea.
Os rebeldes devem contar ainda com a ajuda de alguns comandantes militares até então leais a Gaddafi que desertaram em Sirte após a derrota em Ras Lanuf, a apenas 200 quilômetros da cidade natal do líder líbio.
A Al Jazeera afirma que foram registrados atritos tribais devido à recusa de um dos clãs da cidade portuária de combater os rebeldes junto às brigadas governistas enviadas nesta sexta-feira para conter o avanço dos milicianos em Ras Lanuf.
A divisão política nesta cidade de 135 mil habitantes pode significar uma nova fissura no poder de Gaddafi e seu controle sobre algumas das tribos que mantiveram fidelidade mais forte na região de Trípoli.
A defesa desta frente, sob a direção de Saedi Gaddafi, filho do líder líbio, porá à prova a força dos revolucionários e a capacidade militar do regime líbio, que em mais de 40 anos debilitou progressivamente suas Forças Armadas para substituí-las por forças paramilitares submetidas a Gaddafi.
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