Bairros da Costa do Marfim viraram "zona de guerra", diz ONU
A Agência de Refugiados das Nações Unidas (Acnur) disse nesta sexta-feira que alguns bairros de Abidjã, a principal cidade da Costa do Marfim, foram tomados pelos conflitos entre as forças segurança leais ao líder Laurent Gbagbo e os partidários de Alassane Ouattara, considerado vencedor das últimas eleições presidenciais.
O diretor da agência, Jacques Franquin, disse à BBC que a ONU (Organização das Nações Unidas) está fazendo esforços urgentes para dar assistência às mais de 20 mil pessoas que deixaram suas casas na cidade e pedem asilo na Libéria.
"A situação aqui na Costa do Marfim está se deteriorando rapidamente. Certas partes de Abidjã estão realmente em uma situação de guerra, com a população sendo retirada", disse Franquin.
"Pode-se dizer que, no momento, a situação é suportável, mas cada vez mais as pessoas precisam que a ajuda humanitária chegue até os mais vulneráveis, cujo número cresce a cada dia."
Na última quinta-feira, seis mulheres foram mortas em uma manifestação contra Laurent Gbagbo, que se recusa a deixar a Presidência após ter sido derrotado nas eleições por Alassane Ouattara, em dezembro de 2010.
Durante os protestos, soldados leais a Gbagbo dispararam contra as mulheres.
Após o incidente, as forças de paz da ONU disseram que estão trabalhando além de sua capacidade e não conseguem garantir a segurança de todos os civis.
No entanto, um porta voz da ONU, Hamadoun Touré, disse à BBC nesta sexta-feira que a organização recebeu dois helicópteros de combate na última semana.
Segundo Touré, a situação deve melhorar com a chegada de mais soldados da força de paz nesta sexta.
CORTES
O protesto da última quinta-feira foi organizado por um comitê pró-Ouattara. Segundo os organizadores, deveria ser uma manifestação pacífica.
Mas forças de segurança utilizaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes no centro da cidade e, no bairro de Abobo, região norte de Abidjã, testemunhas dizem que a polícia abriu fogo.
O correspondente da BBC em Abidjã John James disse que há um toque de recolher em Abobo enquanto as forças de segurança tentam controlar a área.
Na última quarta-feira, estações de rádio internacionais, incluindo a BBC, foram tiradas do ar sem explicações.
A eletricidade e o fornecimento de água foram cortados no norte da Costa do Marfim --região onde predomina a oposição a Laurent Gbagbo.
Em um comunicado oficial, a companhia de eletricidade negou qualquer responsabilidade pelos cortes, dizendo que homens armados tomaram o controle dos centros de distribuição.
Partidários de Alassane Ouattara, que permanece aquartelado em um hotel em Abidjã mais de três meses após vencer a eleição, dizem que os cortes são um crime contra a humanidade.
A eleição de dezembro tinha o objetivo de reunificar o país, dividido entre norte e sul desde confrontos ocorridos em 2002, mas o pleito provocou o endurecimento das divisões internas.
Chefes de Estado da União Africana, que tentam encontrar uma solução pacífica para a crise, se encontrarão na Mauritânia nesta sexta-feira para discutir a questão.
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