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Internacional
Sexta - 04 de Março de 2011 às 16:45

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O chanceler da Venezuela Nicolás Maduro leu uma carta recebida de seu colega líbio, Mousa Kousa, em reunião nesta sexta-feira em Caracas, indicando que o regime de Muammar Gaddafi pede ao governo de Hugo Chávez que tome as medidas necessárias para criar uma comissão internacional que atue no país.

"Estão autorizados a tomar todas as medidas necessárias para selecionar os integrantes e coordenar sua participação nesse diálogo", indicou Maduro em meio à reunião da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) na capital venezuelana.

Ainda na noite de quinta-feira (3), Chávez reafirmou que Gaddafi aceitara sua proposta de envio de missão de uma missão internacional de paz à Líbia.

"Consegui falar com Gaddafi anteontem por um momento (...) e perguntei: "Está disposto a receber uma comissão de países?" E ele respondeu: "Olha, Chávez, não apenas os países, que venha inclusive a ONU, para ver o que na verdade está ocorrendo aqui"."

O líder venezuelano advertiu que o "petróleo pode superar os U$ 200" o barril caso o conflito na Líbia se transforme em uma "guerra internacional", como ocorreu no Iraque em 2003. "E isto não convém a ninguém no mundo".

O ditador líbio "não vai partir, sei que não vai, e por isso estão planejando matar Gaddafi", disse Chávez, lembrando que o líder e sua família já foram alvo de ataques no passado.

PETRÓLEO

Na segunda-feira Chávez já havia afirmado que uma invasão da Líbia seria "uma catástrofe" e acusou os Estados Unidos de estarem "enlouquecidos" pelo petróleo do país.

"Os Estados Unidos já disseram que estão prontos para invadir a Líbia. E quase todos os países da Europa condenando à Líbia, o que querem? Claro, esfregam as mãos com o petróleo da Líbia", disse Chávez.

Em um ato público, o presidente venezuelano disse que não iria "condenar à distância o líder líbio" sem saber o que está ocorrendo na nação africana, dizendo ter a certeza de que os Estados Unidos "estão exagerando e distorcendo" a realidade do que ocorre na Líbia.

WASHINGTON

Ainda ontem (3), os EUA reagiram à proposta venezuelana descartando apoiarem tal iniciativa. O porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip J. Crowley, afirmou que "não é necessário que uma comissão internacional diga ao coronel Gaddafi o que precisa fazer para o bem de seu país e a segurança de seu povo".

Os EUA também admitiram na quinta-feira que Gaddafi usou, de fato, aviões em ataques contra a população civil e o presidente americano Barack Obama voltou a pedir ao ditador que renuncie. Gaddafi, por sua vez, alertou para um "novo Vietnã" caso haja interferência externa.

CONFRONTOS EM ZAWIYAH

As negociações entre a Líbia e a Venezuela chegam horas após a confirmação de ao menos 18 mortos em violentos confrontos na cidade de Zawiyah, próxima à capital Trípoli, que há dias está sob controle dos rebeldes. 

De acordo com a agência de notícias Associated Press, testemunhas relataram que ao menos 18 pessoas morreram. No entanto, segundo fontes ouvidas pela Reuters, 30 pessoas foram mortas.

"Estive no hospital há menos de 15 minutos. Dezenas morreram e outros ficaram feridos. Contamos 30 civis mortos. O hospital estava lotado. Eles não conseguiam achar um espaço para as vítimas", disse Mohamed, que mora em Zawiyah, à Reuters por telefone.

Entre os mortos está o líder dos rebeldes em Zawiyah, informou um porta-voz do grupo.

Mais cedo, forças leais a Gaddafi atiraram bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes antigoverno que se reuniram em Trípoli, aparentemente sufocando tentativas de reviver demonstrações pedindo a renúncia do mandatário na capital. Ao mesmo tempo, rebeldes prometendo "vitória ou morte" entraram em confronto com partidários do líder nas proximidades de uma importante instalação de petróleo no leste do país.

Após as orações do meio-dia, mais de 1.500 pessoas saíram da mesquita de Murad Agha, no distrito de Tajoura, leste de Trípoli, gritando "O povo quer derrubar o regime" e agitando a bandeira vermelha, preta e verde da monarquia pré-Gaddafi, adotada como o símbolo da revolta.

Mas forças pró-regime rapidamente apareceram em um comboio de 14 veículos esportivos.

"Eles atiraram bombas de gás lacrimogêneo. As pessoas estão assustadas", afirmou um repórter da agência de notícias Reuters que estava em Tajoura no momento do confronto.

Testemunhas também disseram que as forças pró-Gaddafi atiraram usando munição real, embora não tenha ficado imediatamente claro se os disparos foram feitos para o alto ou diretamente contra os manifestantes.

REPRESSÃO

O episódio evidencia o forte controle que Gaddafi mantém em Trípoli --um grande contraste com o resto do país. Todo o leste do território líbio caiu nas mãos dos rebeldes, assim como várias cidades no oeste próximas ao bastião do ditador na capital.

Os rebeldes --forças formadas por moradores armados apoiados por algumas unidades desertoras do Exército-- têm repelido repetidos ataques de forças pró-Gaddafi que tentam retomar o controle do território.

APOIADORES

Mas dezenas de partidários de Gaddafi realizaram uma demonstração na praça Verde, centro de Trípoli, agitando bandeiras verdes.

Antes dos protestos planejados para esta sexta, o serviço de internet --que tem sido irregular desde que a revolta líbia teve início-- aparentou ter parado de funcionar completamente.

Autoridades líbias impediram, por algum tempo, que jornalistas estrangeiros deixassem o hotel em que estão hospedados em Trípoli, alegando que era para a própria segurança deles, já que o governo tinha informações de que "elementos da Al Qaeda" planejavam abrir fogo contra a polícia para dar início a confrontos. Mais tarde eles foram permitidos a sair.

No leste, rebeldes avançaram em direção ao importante terminal de petróleo de Ras Lanuf, a 600 quilômetros de Trípoli, apelando para que forças aéreas estrangeiras criem uma zona de exclusão aérea após três dias de ataques de aviões do governo.

"Vitória ou morte! Não iremos parar até que liberemos todo esse país", Mustafa Abdel Jalil, chefe do rebelde Conselho Nacional Líbio, afirmou a partidários da revolta, que já dura duas semanas.

Ahmed Jabreel, um auxiliar de Jalil, afirmou que se houver qualquer negociação, "será sobre uma única coisa-- quando Gaddafi irá deixar o país ou renunciar para que possamos salvar vidas. Não há nada mais para negociar".






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