O mercado brasileiro de veículos atravessou os primeiros dois meses do ano aparentemente ileso em relação às medidas tomadas pelo Banco Central em dezembro para frear o crescimento do crédito e da inflação.
Entretanto, sinais de alterações nas vendas começaram a ser captados no radar do setor, na forma desde encurtamento de prazos à redução na fatia ocupada por automóveis populares no total das vendas.
A entidade que representa o setor, Anfavea, afirmou nesta sexta-feira que ainda é prematuro fazer avaliações mais concretas sobre um eventual impacto nas medidas "macroprudenciais" do BC, mas admite mudanças nas condições de financiamento que fizeram com que as vendas à vista crescessem sobre as à prazo.
"As medidas do BC precisam de um tempo de maturação. É prematuro qualquer diagnóstico (...) devem levar de 4 a 5 meses (para serem sentidas pelo setor)", afirmou nesta sexta-feira o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, pouco depois da entidade divulgar produção recorde para o mês de fevereiro.
"As coisas não são imediatas, temos que levar em consideração ainda uma massa salarial crescendo bem e as expectativas do consumidor estão positivas", afirmou.
Porém, Belini, que também é presidente o grupo Fiat na América Latina, admite que "houve um aumento na entrada (para parcelamento de veículos) e redução no tempo médio de financiamento".
Além disso, a participação das vendas à vista cresceu sobre o total de emplacamentos no primeiro bimestre em relação ao mesmo período de 2010, passando de 33,5 para 38%. Enquanto isso, pelo terceiro mês consecutivo, o percentual de vendas de veículos com motorização entre mil e 2 mil cilindradas, foi maior que a fatia dos veículos populares de até mil cc.
Na avaliação de Belini, o setor, "no fundo, está perdendo mercado de quem estava comprando sem entrada". Sem ter uma avaliação mais precisa do comportamento das vendas, algo que somente poderá ser obtido a partir do final do primeiro trimestre, a Anfavea optou por manter suas projeções para o ano, de crescimento nas vendas de 5%, para 3,69 milhões de veículos e produção crescendo 1,1%, para 3,68 milhões de unidades.
Fevereiro recorde
Em vendas, o setor também registrou recorde para o mês, com 274,2 mil veículos licenciados, crescimento de 12% sobre janeiro e de 24,1% na comparação com um ano antes.
Belini evitou falar em eventuais aumentos de preços de veículos, mas respondendo a anúncios de siderúrgicas sobre aumentos de preços de aço no primeiro trimestre, afirmou que o setor poderá importar o insumo se as usinas descumprirem contratos anuais já acertados para 2010.
"Aço pode ser buscado lá fora. Naturalmente, haverá aumento de importação de aço (se houver aumento nos preços no mercado interno). Lá fora o aço continua mais barato", disse ele. Segundo o presidente da Anfavea, nos últimos seis meses, os preços do aço para as montadoras instaladas no país não aumentou.
O setor siderúrgico foi fortemente impactado no segundo semestre de 2010 por importações recordes de aço que obrigaram usinas a conceder descontos para enfrentar a concorrência do material comprado no exterior.
Belini afirmou ainda que a Anfavea apresentará ao governo em abril propostas de medidas para melhoria da competitividade do setor, mas evitou comentar as sugestões estudadas pelo setor. No primeiro bimestre, as vendas de veículos importados, de 119.514 unidades, superaram as exportações, que somaram 118.171.
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