População da capital líbia faz filas e teme pelo futuro
O mercado de peixes na orla mediterrânea da capital líbia estava quase deserto na manhã desta quinta-feira, exceto pelos gatos para vasculhavam barracas vazias em busca de comida.
"Alguns barcos [pesqueiros] saem à noite, mas a maioria, não", disse Ismail, único vendedor ativo no local, vendendo polvo e peixe congelado. "Todos os trabalhadores egípcios que comandam os barcos foram embora."
Trípoli é o principal reduto do líder líbio, Muammar Gaddafi, depois da rebelião que o fez perder o controle sobre grandes áreas do país. As autoridades se empenham em projetar uma imagem de normalidade na capital, enquanto em outras partes do país ocorrem sangrentas batalhas entre os rebeldes e as forças leais ao governo.
Lojas e os bancos permanecem abertos em Trípoli, a polícia orienta o tráfego, e as pessoas saem às ruas para fazer compras ou irem trabalhar.
Mas por baixo desse verniz de normalidade é fácil perceber problemas de abastecimento de produtos, aumentos de preços, preocupações com dinheiro e uma sensação de que pode haver violência caso, como se prevê, ocorram protestos contra Gaddafi após as orações de sexta-feira na cidade.
O maior problema prático é que centenas de milhares de trabalhadores imigrantes --que realizam diversos trabalhos, da pesca à varrição de ruas e à operação de instalações petrolíferas-- foram ou estão indo embora.
A ganense Mary, empregada doméstica de um diplomata sul-africano, foi ao mercado atrás de peixe fresco, mas saiu de mãos abanando. "Eu quero ir embora também, mas não há nenhum avião", disse ela. "Temos de esperar. O embaixador foi embora, mas ainda estamos aqui. Eu estou um pouco assustada."
Em frente a um café, Khalid, gerente de uma pensão, disse que seus clientes habituais, trabalhadores da França e das Filipinas, estão arrumando as malas para partir.
"Mais dois filipinos estão indo para casa hoje. Estou preocupado porque (...) é menos dinheiro para mim."
O filipino Regino Padulalayam, que vive em Trípoli há 16 anos, disse que os especuladores estão se aproveitando da situação, aumentando os preços. "Uma saca de arroz, com 25 quilos, custava 12 dinares (US$ 9,60) há dez dias, e agora o preço médio é de 35", disse ele.
Em outro sinal da ansiedade generalizada na cidade, há filas para saques nos bancos. Um funcionário da empresa petrolífera Waha contou que já estava esperando fazia duas horas e não tinha certeza de que poderia retirar dinheiro.
Mas as dificuldades cotidianas o preocupam menos que os rumos da Líbia.
"Gostaríamos de saber o que realmente está acontecendo em nosso país", disse o homem, que não quis se identificar. "Estamos preocupados e queremos saber mais sobre o que está acontecendo. Isso está começando a afetar a todos. É um problema, é uma crise", afirmou.
Ele disse que pretende participar de um protesto contra Gaddafi depois das orações de sexta-feira.
O homem relatou que, durante o protesto da sexta-feira passada, viu milicianos pró-Gaddafi abrindo fogo contra a multidão, inclusive de dentro de ambulâncias. "Nós ficamos muito tristes, machucados."
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