Efeito 3D pode causar reações orgânicas em pessoas suscetíveis
Nos últimos anos, a tecnologia do 3D tem sido a grande aposta dos fabricantes de eletrônicos e da indústria do entretenimento. O 3D se popularizou ao chegar a dezenas salas de cinema em todo o mundo e às telas de TVs de muitas casas. No entanto, são recorrentes os relatos de pessoas que tiveram algum mal-estar enquanto assistiam conteúdos com imagens tridimensionais.
Embora não haja nenhum artigo médico-científico que relacione a tecnologia 3D com algum tipo de lesão ocular, o processo de ver imagens em três dimensões associadas à alterações de luz, pode estimular reações orgânicas. Em usuários com problemas não tratados ou mais suscetíveis, como alguém que tenha epilepsia ou problemas cardíacos, sensações adversas podem ocorrer. Mas para a maioria, a tecnologia pode ser consumida sem restrições.
Para que imagens em 3D possam ser vistas de maneira satisfatória, três fatores são essenciais: que o olho seja saudável, que problemas de visão estejam corrigidos e que os olhos estejam alinhados. De acordo com o médico oftalmologista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Flávio Villela a maior parte dos relatos de desconforto em experiências em 3D são causados por erros de refração (miopia, hipermetropia e astigmatismo) até então imperceptíveis e desvios no alinhamento ocular que acabam sendo descobertos, muitas vezes, dentro das salas de cinema. Sem a correção dos problemas, a capacidade de ver as imagens em três dimensões fica reduzida ou, em alguns casos, a pessoa não consegue perceber o efeito 3D.
Em janeiro de 2010, um homem de 42 anos natural de Taiwan morreu em decorrência de um derrame provavelmente provocado pela forte emoção de assistir Avatar, de James Cameron, em 3D. Ele sofria de pressão alta e teria convulsionado durante a sessão. Este é um dos piores relatos, certamente, mas pessoas com sensibilidade aumentada ou com problemas visuais não corrigidos podem sentir algum tipo de desconforto como tontura, náuseas, cansaço ocular e dor de cabeça ao assistir a conteúdos em 3D, informa o oftalmologista Luis Ricardo Tarrago Carvalho do Setor de Olhos do Hospital São Lucas de Porto Alegre .
A jornalista Carolina Becker Davi, 29 anos, conta que seu maior desconforto está relacionado às "cenas com muitos movimentos rápidos e próximos" que costumam deixá-la tonta. "Normalmente, acabo tirando os óculos na metade do filme para "descansar" um pouco os olhos", afirmou.
Como a experiência 3D tem a intenção de parecer real, muitas pessoas acabam reproduzindo incômodos que têm na sua vida normal enquanto assistem a imagens tridimensionais, afirmou Villela. Por exemplo, quem sofre de vertigens em lugares altos ou sente náuseas em embarcações, pode ter essas sensações em função da percepção em 3D ser bastante intensa.
No final de fevereiro, a empresa sul-coreana LG lançou uma nova TV 3D com tecnologia que promete acabar com qualquer desconforto visual. Segundo a fabricante, a TV gera imagens em 3D sem efeito de cintilação, que causa borrões na imagem e, por consequência, dor de cabeça no espectador. Uma alternativa para afastar os possíveis problemas de reação à tecnologia foi desenvolvida pela empresa francesa Technicolor, que demonstrou durante a Consumer Eletronics Show 2011, que ocorreu em janeiro em Las Vegas, um programa de certificação em 3D.
O Technicolor Certifi3D foi criado para garantir uma "qualidade mínima" antes de os conteúdos serem disponibilizado para os consumidores, informa o site da empresa. O software é capaz de analisar filmes em 3D à procura de objetos que possam parecer muito perto ou muito distantes e dessa forma causar dor de cabeça aos espectadores. O certificado tem o objetivo de evitar a fadiga e o desconforto provocado por alguns filmes mal produzidos. Segundo os desenvolvedores, "o objetivo ao lançar o programa Certifi3D é garantir uma experiência 3D consistente e de qualidade ao consumidor final". Com a aplicação do programa, é possível que as queixas caiam.
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