Kadafi depositou US$ 4,8 bi em Londres, diz jornal britânico
O líder líbio, Muammar Kadafi, depositou em segredo na última semana 3 bilhões de libras (US$ 4,8 bilhões) em Mayfair, elegante bairro londrino conhecido por seus gerentes de fundos privados. A informação foi divulgada neste sábado pelo diário britânico The Times, indicando que o ditador líbio usou os serviços de um intermediário radicado na Suíça, que há cinco semanas contatou outra firma dedicada à gestão de patrimônios, mas que esta não aceitou a incumbência ao ter ciência da origem dos fundos.
O diretor-executivo desta última firma declarou ao The Times que o intermediário suíço tinha dito que queria investir 3 bilhões de libras em nome de uma família líbia, dinheiro supostamente destinado a comprar ações de companhias. "Eu disse "não" a ele porque não me sinto bem lidando com tiranos assassinos com sangue nas mãos", explicou o gerente de fundos contatado. O intermediário então buscou outra firma que aceitasse realizar o trabalho.
Essa revelação, diz o periódico, confirma os temores de que Kadafi, cujo regime de 42 anos vem sendo alvo de protestos, tirou fundos da Líbia para depositá-los em contas secretas em diferentes partes do mundo.
Enquanto isso, o Tesouro britânico tenta rastrear os ativos do coronel no Reino Unido, que segunda a previsão incluem bilhões de dólares em contas bancárias, propriedades comerciais e uma casa em Londres avaliada em cerca de 12 milhões de euros (US$ 16,5 milhões).
O governo suíço, por sua vez, ordenou na sexta-feira que seus bancos congelem todos os ativos pertencentes ao coronel Kadafi e a outras 28 pessoas, incluindo a esposa, os filhos do ditador, outros familiares e autoridades do regime.
Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi
Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.
Os relatos vindos do país não são precisos, mas tudo leva a crer que a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta do que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que Força Aérea líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido.
Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte.
Além do clamor das ruas, a pressão política também cresce contra o coronel Kadafi. Internamente, um ministro líbio renunciou e pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbios também pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade.
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