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Nacional
Sexta - 25 de Fevereiro de 2011 às 18:01

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Dino Dragone/Divulgação
Galaxy 500 de Juscelino Kubitschek é finalmente restaurado
Galaxy 500 de Juscelino Kubitschek é finalmente restaurado

A relação entre o presidente Juscelino Kubitschek e suas invejáveis carangas é infelizmente mais conhecida por ocasião de sua morte, no finalzinho da tarde de 22 de agosto de 1976, esbagaçado no banco traseiro de um Opalão 70 com capota de vinil. Na via Dutra ainda em pista única, altura do município de Resende (RJ), o carro conduzido por seu motorista particular bateu de frente numa Scania Vabis que levava 30 toneladas de gesso do Ceará para São Paulo. JK, prestes a completar 74 anos, só pôde ser identificado porque levava no bolso a carteira de identidade.

Além da teoria conspiratória sobre o próprio assassinato, pela ditadura militar, Juscelino deixou esposa, duas filhas e... um Galaxie 500 ano 1974!!! Vinho, modelão standard mas uma beleza, está agora restaurado desde a bronzina da biela até os adesivos do radiador. O Galaxão (apelido carinhoso que se pronuncia Galachão) substituiria o Opala 70. Para os amantes do velho modelo Ford de fabricação e concepção nacionais, ditadura alguma teria logrado sucesso na tentativa de assassinar o Galaxie e seus ocupantes, uma pena que tenham ido de Chevrolet. Intrigas da oposição.

Comprado numa concessionária do Rio (valia seis Fuscas da época), o Galaxão foi levado para Brasília, de próprio punho, por Juscelino Kubitschek. Costumava conduzi-lo do aeroporto à Fazendinha JK, em Luziânia (GO). Também servia às viagens mais longas, quando Juscelino se acomodava no banco de trás, tirava os sapatos, comia biscoitos de polvilho e repousava num travesseiro. Depois de sua morte, a barca periclitou por aí até 1981, quando foi adquirida para a inauguração do Memorial JK. Então puseram nele umas rodas de Landau 76 (um pecado) e o acomodaram numa redoma de concreto e vidro, exposto ao sol como leguminosa numa estufa (outro pecado, este cometido por Oscar Niemeyer). Por mais de 28 anos, não deram sequer uma ligadinha no Galaxão. No calor, a pintura desbotou, borrachas e plásticos racharam, o motor engripou. Juscelino, até por jazer no mesmo endereço, devia revirar-se diante do descaso com os restos mortais de seu Galaxie.

Ano passado, porém, a sorte começou a mudar. O 16º Batalhão Logístico do Exército assumiu a missão de ressuscitar o velho Galaxie 500. O prazo para a entrega do veículo, quatro meses, exigia um plano de metas ao estilo 50 anos em 5. Por isso convocou-se equipe suficiente para anexar o Paraguai: 55 soldados, 22 cabos, 29 sargentos, 3 tenentes, 2 capitães e 1 coronel --todos participaram de alguma maneira, ainda que ajudando a enroscar um parafuso. Se precisavam de macaco hidráulico, não perdiam tempo: levantavam o bicho no braço mesmo.

Entre os poucos civis, o diretor e videomaker Dino Dragone --autor do livro "Galaxie, o Grande Brasileiro" e um aficionado pelo modelo-- destacava-se não apenas por seu conhecimento, capaz de apontar se determinada porca é original do carro ou se foi instalada depois. Dino, 40, é punk. Em um de seus braços, há uma tatuagem onde se lê "PUNK". Ao lado, uma frente de Galaxie. Ele e o coronel Eleazar de Moraes formavam uma dupla sui generis.

Quando Dino viu pela primeira vez o Galaxão presidencial, pensou: "Vai ser punk". Sua lista de peças para o conserto não tinha fim. À medida que quase tudo ia sendo substituído, ele guardava consigo os cacarecos originais. "O cara pôs o popô aqui", diz ele, admirado com o velho banco do motorista --que levou para casa junto com uma bagulhada danada. Hoje, o Galaxão de Juscelino pode ser visto nos trinques, infelizmente na mesma estufa de antes, no Memorial JK. Ou na casa do Dino, dividido em muitas partes que, não fosse ele, teriam ido para o lixo da história.






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