ACNUR pede que fronteiras com a Líbia permaneçam abertas
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) considerou "imperativo" nesta quarta-feira que as fronteiras da Tunísia e Egito com a Líbia permaneçam abertas para permitir às pessoas "que fogem deste país colocarem-se em segurança".
Em um comunicado recebido na Tunísia, o ACNUR "comemorou as indicações positivas recebidas ontem e hoje (quarta-feira) por parte da Tunísia e Egito segundo as quais estes dois países manterão suas fronteiras abertas às pessoas que fogem da violência na Líbia".
"Levando-se em conta as diversas informações sobre violência e violações dos direitos humanos na Líbia, é imperativo que as pessoas que fujam deste país possam encontrar a segurança", ressalta o ACNUR.
O Alto Comissariado informou que "a pedido do governo tunisiano, membros do ACNUR foram mobilizados no posto fronteiriço de Ras Yedir, entre Tunísia e Líbia, onde trabalham com o Crescente Vermelho tunisiano e as autoridades".
O Crescente Vermelho (equivalente à Cruz Vermelha) alertou sobre o "risco catastrófico" do êxodo massivo de líbios à Tunísia, onde já chegaram 5,7 mil tunisianos que viviam na Líbia e líbios que fugiram do país por estradas.
"Cerca de 5,7 mil tunisianos e líbios que fugiam da Líbia cruzaram a fonteira entre os dois países em Ras Jedir na segunda e terça-feira. E seguem chegando", declarou à AFP Hadi Nadri, um dirigente do Crescente Vermelho na região de Ben Guerdan, a cidade tunisiana mais próxima da fronteira com a Líbia.
Mundo árabe em convulsão
A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Ali e do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.
No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.
Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muamar Kadafi, a população entra em sangrento confronto com as forças de segurança; em meio à onda de violência, um filho de Kadafi foi à TV estatal do país para tirar a legitimidade dos protestos, acusando um "complô" para dividir o país e suas riquezas. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.
Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população
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