Nove parlamentares renunciam ao partido governista no Iêmen
Nove membros do Parlamento iemenita saíram do partido governista do presidente Ali Abdullah Saleh em protesto ao que descreveram como violência do governo contra os manifestantes, afirmaram parlamentares nesta quarta-feira.
As renúncias, incluindo alguns aliados importantes de Saleh, representam um revés político ao presidente, que enfrenta a demanda da população pelo fim do seu governo de 32 anos, embora ele ainda conte com o apoio de cerca de 80% dos parlamentares.
"As pessoas devem ter o direito de se manifestar de forma pacífica", disse à Reuters Abdulaziz Jubari, um dos parlamentares que renunciaram.
Jubari afirmou que os parlamentares enviaram uma carta com 10 pontos a Saleh com as demandas para uma reforma imediata e a reestruturação do Exército para torná-lo mais representativo da complexa sociedade do Iêmen, e para ajudar na transição para a democracia.
Ele afirmou que o presidente se recusou a se encontrar com os parlamentares antes que renunciassem.
"Todos precisam ser incluídos em um diálogo nacional, incluindo os houthis", disse Jubari, referindo-se aos insurgentes de uma seita xiita que impôs um desafio violento ao governo central no ano passado.
Os outros parlamentares que renunciaram são Ali Abdallah Qadi, um parente influente do presidente, o líder tribal Abdo Bisher, da região de Sanna, e duas personalidades bastante conhecidas do sul do Iêmen.
Mundo árabe em convulsão
A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Ali e do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.
No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.
Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muamar Kadafi, a população entra em sangrento confronto com as forças de segurança; em meio à onda de violência, um filho de Kadafi foi à TV estatal do país para tirar a legitimidade dos protestos, acusando um "complô" para dividir o país e suas riquezas. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.
Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.
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