Preocupação com obras atrasa definição de cortes
O governo definiu o tamanho do corte de gastos que pretende fazer em mais um ministério, o do Esporte, mas ainda encontra dificuldades para chegar ao prometido bloqueio total de inéditos R$ 50 bilhões na Esplanada.
Duas semanas após ter anunciado o valor, numa tentativa de debelar a piora das expectativas para a inflação, a equipe econômica ainda não conseguiu detalhar como o ajuste será feito.
O decreto com o detalhamento foi prometido para a semana passada, ficou para ontem e agora fala-se em até o início da próxima semana.
O desafio é preservar, ao menos no papel, compromissos e prioridades assumidos nos últimos anos, como obras de infraestrutura e programas sociais, o que reduz o universo de despesas passíveis de redução.
Até agora, só os ministérios da Defesa e o da Ciência e Tecnologia oficializaram seus cortes. Segundo a Folha apurou, o Esporte deve sofrer uma desidratação de 64% de todo o seu Orçamento --e, ainda assim, exemplifica a dificuldade da administração petista em atingir sua meta de aperto fiscal.
Dos R$ 2,5 bilhões inicialmente previstos, a pasta ficará com cerca de R$ 900 milhões para gastar neste ano. Não foi possível fazer um contingenciamento maior, porém, porque foi necessário preservar o programa Brasil Campeão, destinado a obras e preparação de atletas para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Proporcionalmente, o corte acabou sendo menor que o promovido no início do ano passado, quando as verbas do Esporte foram reduzidas em 80%, de R$ 1,5 bilhão para R$ 300 milhões. Os recursos foram parcialmente liberados depois.
EXPLICAÇÕES
Mesmo com o momento politicamente delicado vivido pelo titular da pasta, Orlando Silva (PC do B), o volume preservado neste ano ainda é superior aos gastos efetivos de 2010, R$ 705 milhões.
O ministro é bombardeado nos bastidores por integrantes do governo e será chamado a dar explicações à presidente Dilma Rousseff sobre irregularidades em convênios da pasta com instituições ligadas ao esporte.
O corte promovido na Defesa também é inferior ao promovido no ano passado, de R$ 4,4 bilhões --na ocasião, os militares foram os mais atingidos pelo bloqueio total de R$ 21,8 bilhões promovido em março pelo governo Lula.
Dilma e sua equipe vêm dando mostras de falta de sintonia na condução técnica e política do ajuste fiscal. A presidente, na campanha eleitoral, negava a necessidade da medida, já estudada por parte de seus assessores.
Depois, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento) indicaram que seriam adiadas novas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Dilma negou.
A presidente considerava a meta de R$ 50 bilhões ambiciosa demais, mas foi levada a adotar a cifra por medo da pressão inflacionária. No anúncio, foi cunhado um eufemismo, "consolidação fiscal", para contornar o constrangimento do ajuste.
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